O Brasil passa por período de
mudanças tendentes a modernizar e dinamizar a vida política e administrativa no
âmbito do governo, por isso acredito ser oportuno repensar e discutir a
estabilidade funcional no serviço público. Esse instituto vem do tempo em que a
carreira apresentava poucos atrativos em comparação com a iniciativa privada e
por isto buscou-se proporcionar alguma garantia ante as incertezas do mercado
de trabalho no setor particular. Hoje, a estabilidade tem gerado vícios que
visivelmente comprometem a prestação do serviço, daí a necessidade de
reconsiderá-la, debatendo a viabilidade de sua extinção ou aplicação de novo
ordenamento nas relações de trabalho na área oficial.
É sabido que, com poucas
ressalvas, a prestação do serviço público à população é deficiente, morosa e
extremamente burocrática com decisões centralizadas sujeitas a uma legislação
extensa e complicadora e algumas normas ultrapassadas. A vitalícia garantia do
emprego favorece a falta de empenho e a acomodação, produzindo falsa
necessidade de mais funcionários para execução das mesmas tarefas. Daí, mais concursos,
mais gente contratada que logo estará igualmente desmotivada e acomodada.
Portanto, seria conveniente a
adoção de normas que contribuam para motivação funcional e consequente
dinamização da atividade sem sistemáticas admissões que incham a máquina e
aumentam despesas sem observância do critério custo/benefício. Uma das
alternativas pode ser o ganho por produtividade. A iniciativa privada utiliza
esse sistema com proveito em termos de aumento da produtividade e da qualidade,
com empregados em constantes treinamentos, reciclagem e avaliação séria que
resultam em vantagens salariais. No âmbito público, em diversas carreiras isso
é possível, como no ensino, no atendimento de saúde. Haveria com certeza maior
motivação, mais empenho e participação com ganho para ambas as partes. A
ascensão deve ter por base o mérito, a dedicação e a produtividade. É verdade
que a administração federal aplica processo de avaliação, porém mais vale para
o currículo funcional contando pontos para eventual processo de promoção. Além
do mais, não utiliza critérios que assegurem imparcialidade. É a chamada
Avaliação 360 Graus, onde, curiosamente, o funcionário participa e avalia a si
próprio.
No fundo, tal avaliação não
tem nada a ver com ganho por produtividade, um mecanismo tão importante que até
os clubes de futebol de ponta, obrigados a altas contratações de profissionais
caros passaram a adotar uma tabela especial vinculando o salário do atleta a
conquistas do clube que revertam em mais renda, inclusive contratos publicitários
e de merchandising.
Um dos problemas do princípio
da estabilidade é sua banalização e extensão a categorias que se acham fora do
benefício. Hoje, o custo da máquina pública com funcionários que exercem
atividade-meio ultrapassa o limite da Lei de Responsabilidade Fiscal criando
dificuldades e impossibilitando o governo de melhorar o nível salarial,
oferecer gratificações, treinamento e reciclagem àqueles que exercem
atividade-fim, ou seja, que tratam diretamente com a população, que atendem às
pessoas, pois são esses que efetivamente cumprem o papel do Estado. Os outros
burocratizam o serviço e entravam o atendimento público. Deve-se ter em conta
que governo existe para atender ao povo.
Luiz Carlos Borges da
Silveira - empresário,
médico e professor. Foi Ministro da Saúde e Deputado Federal.
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