Às
vésperas do 11º Congresso de HIV/AIDS e 4º Congresso de Hepatites Virais que
acontecerá no mês de setembro, em Curitiba (PR), o diretor presidente da ABIA,
Richard Parker, voltou a questionar o argumento de que estamos próximos do fim
da AIDS. Desta vez, Parker publicou o artigo “De uma crise global ao ‘fim da
AIDS’: novas epidemias de significação” na Global Public Health, uma
destacada revista acadêmica britânica especializada em saúde pública global.
No texto,
cuja autoria é dividida com os pesquisadores Nora
Kenworthy e Matthew Thomann, Parker argumenta que o discurso sobre o ‘fim da
AIDS’ tem sido útil para as agendas de doadores e corporações internacionais,
com destaque para a indústria farmacêutica. Para os autores, este discurso tem
gerado políticas motivadas por pressões financeiras pós-recessão que resultam
numa mudança de prioridades no campo da saúde e do desenvolvimento. O
artigo questiona os argumentos triunfalistas baseados em alguns avanços
biomédicos na prevenção e no tratamento do HIV.
O relatório divulgado recentemente pelo Programa das Nações Unidas
sobre a AIDS (UNAIDS) indicou que pouco mais de 50% dos que necessitam de
tratamento no mundo, de fato, conseguem acessá-lo. Autoridades e sociedades
civis têm comemorado este resultado, inclusive no Brasil. O artigo ressalta que
é preciso ter uma leitura mais moderada sobre este suposto fim da epidemia e
chama a atenção para a necessidade de priorizar as milhões de pessoas no mundo
que ainda não têm acesso ao tratamento.
“O
artigo é altamente relevante para os debates políticos recentes sobre
financiamento global da saúde, com destaque para os polêmicos cortes promovidos
por Trump. ‘Acabar com a AIDS’ está se tornando não
um apelo à ação, mas uma justificativa para retiradas de doadores das
principais áreas de intervenção. Não por acaso, são as áreas mais efetivas e
mais necessárias para realizar ganhos profundos e duradouros contra a
epidemia”, argumentam.
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