Qual
a verdade nas dietas cetogênicas e low carb? De maneira resumida, rápida e sem
rodeios, se um indivíduo não consumir diariamente alimentos fonte de
carboidratos perderá peso, mas isso não significa, necessariamente, que
emagrecerá. Pois é! Uma coisa é diferente da outra!
Os
alimentos ricos carboidratos nos fornecem uma molécula chamada glicose, que é a
forma mais simples, rápida e reconhecida por nosso organismo como fonte
energética. Além disso, quando não a utilizamos (glicogênio), nosso corpo
estoca essa molécula no fígado e no músculo. Quando passamos por períodos de
jejum ou durante a prática de atividade física essa reserva é usada.
Diferente
do tecido adiposo, que estoca gordura corporal e consideramos reservas
ilimitadas, o glicogênio é uma forma de estoque eficiente, porém limitada, pois
a cada 1g dessa molécula estocada, o organismo acumula 2,7g de água.
Vamos
refletir, então, baseando-nos nas informações comentadas: uma pessoa de 60kg
possui em média 500g de glicogênio acumulado e, consequentemente, 1,350Kg de
água no corpo. Logo, quando a pessoa decide cortar de vez o carboidrato de sua
alimentação (como, por exemplo, na dieta Dukan, dietas das proteínas, etc) o
organismo, além de gastar suas reservas de glicogênio, utiliza a água que
estava associada a essas moléculas.
Logo,
quando o indivíduo sobe na balança ele pensa: “Que maravilha, lá se foram 2kg”.
Mas, temos que repensar, pois, na realidade, a pessoa perdeu apenas massa magra
(músculo) e água.
Geralmente,
as pessoas não conseguem levar a diante, ou por muito tempo, esse tipo de dieta
e quando reintroduzem os alimentos ricos em carboidratos em sua rotina
alimentar, o peso volta rapidamente ao que era ou, muitas vezes, é possível
ganhar mais peso. Então é aí que muitas pessoas concluem que o carboidrato é o
vilão no processo de emagrecimento. Ou seja, você perde peso e não emagrece de
fato como deveria, de forma saudável e com perdas gradativas de tecido adiposo
e ganho de massa magra.
Lembrando
que, quando se corta radicalmente qualquer tipo de alimento, ao voltarmos a
consumi-lo, pode-se gerar uma compulsão ou exageros.
E
a dieta Low Carb? Ela nada mais é do que uma reformulação da dieta low fat, bem
conhecida na década de 1990, onde a explicação é a menor secreção do hormônio
insulina, controlador do armazenamento de gordura corporal.
As
dietas low carb são pobres em carboidratos, indo de encontro às que são
totalmente restritivas, onde não é permitido nem o consumo de frutas. Vamos ser
bem sinceros: é uma cópia das dietas antigas que falamos acima, apenas com nome
reformulado. Os adeptos justificam que essas dietas aumentam o gasto energético
e diminuem a secreção de insulina.
Mas
afinal de contas, qual a ligação entre a insulina e o processo de
emagrecimento? A insulina, hormônio anabólico, tem o papel de armazenar
nutrientes em nossos tecidos, em especial a glicose, sendo assim, quanto mais
carboidratos, mais glicose, mais produção de insulina e maior o estoque
corporal. Além disso, a insulina inibe a utilização de gordura do tecido
adiposo – justificativa da dieta low carb para utilizarmos mais gorduras como
fonte energética, o que afirmam levar ao emagrecimento. Mas será que é tão
simples assim? Claro que não. Essas dietas ignoram alguns, mecanismos
fisiológicos fundamentais de nosso organismo, como, por exemplo, que a insulina
não é o único hormônio regulador destes processos.
Para
quem conhece bioquímica básica sabe que o nosso sistema orgânico não é regulado
de maneira tão simples assim, somente por secreção hormonal. As concentrações
hormonais são flutuantes, inclusive a insulina, até mesmo porque, durante as
refeições, não ingerimos somente um tipo de nutriente e sim a junção de vários,
mesmo que o alimento seja fonte de algum nutriente específico, mas ele não é
isolado. E, provavelmente, as nossas reservas metabólicas serão mobilizadas e
oxidadas de acordo com nossas necessidades, como as reservas adiposas, por
exemplo.
Essa
teoria foi testada em algumas revistas científicas: compararam os efeitos de
uma semana da dieta low carb e low fat com a mesma quantidade de calorias e
proteína, no peso e gordura corporais, gasto energético e utilização de gordura
e carboidrato como fonte energética pelo organismo de 19 adultos obesos. O
estudo foi altamente controlado. Os participantes permaneceram em uma unidade
metabólica, o que garantiu que consumissem somente os alimentos a eles dados, e
uma mensuração precisa do gasto energético. O principal resultado do estudo
foi: a dieta low-carb levou a maior utilização de gordura como fonte energética
(conforme seria esperado), enquanto isso não foi alterado na dieta low-fat,
mas, apesar disso, a perda de gordura corporal foi um pouco maior durante a
dieta low-fat.
Então
durante a dieta low-carb os participantes tinham menor secreção de insulina ao
longo do dia, oxidavam mais gordura e, mesmo assim, perderam menos gordura do
que durante a dieta low-fat? Mas como isso se explica? Isso é explicado pelos
mecanismos que regulam nossa massa adiposa, vão além da simples secreção de
insulina em resposta à alimentação, conforme discutimos acima.
Em
outro estudo, os participantes foram submetidos a quatro semanas de uma dieta
low-fat (com déficit energético de 300Kcal) seguidas de quatro semanas de uma
dieta low-carb (mantendo o mesmo déficit energético de 300Kcal e a mesma
quantidade de proteína). O principal resultado foi: ambas as dietas resultaram
em perda de gordura corporal; contudo, essa perda foi mais lenta durante as
duas primeiras semanas da dieta low-carb em comparação a dieta low-fat. Ou
seja, a perda de gordura foi menor durante a dieta low-carb.
Concluindo,
é importante entendermos que esse tipo de dieta pode ser benéfica para algumas
pessoas com doenças crônicas, como diabetes e hipertrigliceridemia. Entretanto,
isso não significa que esse tipo de dieta tem alguma “vantagem” para o
emagrecimento. Para você conseguir ter resultados duradouros é necessário criar
hábitos saudáveis, de forma racional e com ajuda de profissionais habilitados.
Procure uma nutricionista de sua confiança.
Patrícia Ceolin Grassi - mestre em Metabolismo
e professora dos cursos de Nutrição e Medicina da Unic
Nenhum comentário:
Postar um comentário