A febre Oropouche, transmitida por mosquitos, está se espalhando rapidamente pelo Brasil, preocupando especialistas em saúde. O Ministério da Saúde confirmou, em seu último boletim de arboviroses, 6.285 casos da doença em 2024. A descentralização dos testes de PCR para laboratórios estaduais tem aumentado a detecção de casos. Embora endêmica na Amazônia desde os anos 1960, a transmissão local do vírus Oropouche agora também foi confirmada em estados como Bahia, Espírito Santo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Santa Catarina e Piauí.
Carolina Lázari,
infectologista e patologista clínica membro da Sociedade Brasileira de
Patologia Clínica e Medicina Laboratorial (SBPC/ML), explica que os sintomas da
febre oropouche são muito semelhantes aos da dengue, com febre, dores no corpo,
dores musculares e articulares, dor de cabeça, náuseas e, ocasionalmente,
vômitos. "No entanto, manchas na pele, comuns na dengue, são raras na febre
Oropouche. As complicações neurológicas, como meningite e encefalite, embora
raras, podem ocorrer", ressaltou.
De acordo com a
especialista, a diferenciação entre a oropouche e outras arboviroses, doenças
transmitidas por mosquitos, é um desafio. "Os sintomas são compartilhados
por várias arboviroses. A oropouche e a dengue têm dores articulares difusas,
sem sinais inflamatórios marcantes, ao contrário da chikungunya e do vírus
Mayaro, que costumam causar dores articulares intensas com inchaço e vermelhidão",
explicou Lázari acrescentando que a confirmação do diagnóstico só é possível
por meio de exames laboratoriais.
A patologista
clínica da SBPC/ML enfatiza que o diagnóstico da doença é feito inicialmente
por PCR, detectando o RNA do vírus até o quinto dia após o início dos sintomas.
"Após o sétimo dia, a sorologia com pesquisa de anticorpos IgM e IgG
torna-se a técnica recomendada. A sorologia para febre Oropouche é bastante
específica, sem reatividade cruzada com outros arbovírus", explicou Lázari.
No Brasil, o vírus
oropouche circula tanto em ciclos silvestres quanto urbanos. No ciclo
silvestre, mosquitos arborícolas infectam humanos acidentalmente ao picá-los em
áreas de mata, mas primatas não humanos e bichos-preguiça são os reservatórios
naturais que sustentam a circulação do vírus. No ciclo urbano, os mosquitos
adaptados ao ambiente urbano transmitem o vírus de humano para humano, sem
necessidade de reservatórios animais. O principal vetor é o mosquito Culicoides
paraensis, conhecido popularmente como maruim ou mosquito pólvora.
A disseminação do
vírus está ligada a fatores como desmatamento, atividades de garimpo, avanço
agrícola, construção de infraestruturas e crescimento urbano desordenado, que
aproximam humanos de mosquitos silvestres e reservatórios naturais. Além disso,
o aquecimento global e mudanças climáticas têm criado condições favoráveis para
a reprodução dos mosquitos em novas áreas.
Sobre a prevenção,
a especialista da SBPC/ML reforça que as medidas são semelhantes às da dengue,
como controle ambiental para evitar criadouros de mosquitos e uso de repelentes
e roupas protetoras em áreas de mata. "Não há vacina disponível para a
febre oropouche, e o tratamento é focado no alívio dos sintomas, com hidratação
e medicação para dor e náuseas", ressaltou Lázari.
Apesar da maioria dos casos terem evolução favorável, a doença pode apresentar recaídas após uma melhora inicial, e as complicações neurológicas, embora raras, podem ser graves, necessitando de cuidados intensivos. Carolina Lázari alerta para a importância de monitoramento da doença e controle de sua disseminação, especialmente em áreas urbanas, para evitar epidemias de larga escala.
SBPC/ML - Sociedade Brasileira de Patologia Clínica e Medicina Laboratorial
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