Se você levar em conta os galões de
tinta de jornal, as toneladas de papel e as horas em rádio e TV gastas para
gerar expectativa e excitar a clientela, a sessão de pornô político levada a
cabo na noite de 22 de maio foi uma frustração. Entre a reunião filmada (22 de
abril) e a exibição do filme rolaram inteiros trinta dias ao longo dos quais a
publicidade do vídeo foi feita como num buraco de fechadura, divulgando
silhuetas, fragmentos e flashes de partes íntimas. Convenhamos, o fornecedor,
depois de tanta propaganda, tinha obrigação de disponibilizar algo melhor.
Filme pornô com tarjas pretas? Façam-me o favor!
Para quem aprecia palavrões, houve uma
boa oferta de conteúdo, e comentá-lo foi o que, da fracassada sessão, restou à
mídia. A droga do filme só conseguiu segurar a audiência de quem ainda
acreditava que a parte boa haveria de chegar às últimas cenas, com o presidente
saindo algemado do Palácio. Que fiasco! Registre-se, a propósito dessa
frustração, o fato de o vídeo exibir uma reunião a portas fechadas, em relação
à qual a obrigação de divulgar só ocorreu por determinação judicial. Quem
reclama do vocabulário usado terá conhecido Bolsonaro como um gentleman que, subitamente, aprendeu a dizer nome feio
aos imaculados ouvidos da nação brasileira? Não. Foi para a poltrona comendo
pipoca e esperando a sessão começar.
Entende-se, hoje, o motivo pelo qual
Sérgio Moro afirmou não haver acusado o presidente de crime algum. Em tese, a
partir daquele momento, passado um mês inteiro, tudo mais foi política,
ideologia e frustração do consumidor de más notícias. Apaga a luz do cinema e
manda a moçada pra casa. O que temos de mais empolgante é um exercício retórico
sobre as intenções do presidente. Trata-se, aqui, de espiar a fechadura mental
do suspeito, sendo que este simplesmente quis exercer uma de suas prerrogativas
constitucionais.
No sentido prático, há duas (surpresa!)
perspectivas em relação à reunião, como ato de governo. Na minha avaliação,
podendo a fala de Bolsonaro ser reduzida à metade, assisti a uma boa reunião,
pela afirmação dos valores que movendo o presidente e seus eleitores, deveriam
orientar, homogeneamente, toda a equipe de governo. Os alinhados com a banda
oposta, desgostaram de tudo: do presidente, das pautas, dos ministros, e da
falta de um crime.
A frustração da moçada da poltrona, que
esperava um pornô político, busca consolar-se pegando o pé de Abraham Weintraub
por uma frase proferida em desfavor dos ministros do STF. É o voyeurismo
político com necessidade de consolo!
Percival Puggina - membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.
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