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sexta-feira, 29 de maio de 2020

Tabagismo diminui, mas crescimento de vaping preocupa especialistas


Brasil e Estados Unidos reduzem consumo de cigarros; contudo e-cigarettes e vaping utilizados pelos jovens para fumar maconha ganham espaço e podem levar a morte


No próximo domingo, dia 31 de maio, celebramos o Dia Mundial Sem Tabaco. A data foi criada em 1987 pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para alertar sobre as doenças e mortes relacionadas ao tabagismo. Segundo o Instituto Nacional do Câncer (INCA), o cigarro é considerado a maior causa evitável isolada de adoecimento e mortes precoces em todo o mundo e provoca mais de 50 doenças, atingindo os aparelhos respiratório, cardiovascular, digestivo, gênito-urinário, neoplasias malignas, riscos na gravidez e para o feto e queda de defesas imunitárias. A OMS aponta ainda que o tabaco mata mais de 8 milhões de pessoas por ano. Mais de 7 milhões dessas mortes resultam do uso direto desse produto, enquanto cerca de 1,2 milhão é o resultado de não-fumantes expostos ao fumo passivo.

A boa notícia é que assistimos um avanço na conscientização da população, que está abandonando o cigarro. Nos últimos 12 anos a pesquisa realizada pelo Sistema de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel) demonstrou que, no Brasil, houve uma redução em 40% no consumo do tabaco. Dados inéditos revelam que, em 2018, 9,3% dos brasileiros afirmaram ter o hábito de fumar. Em 2006, ano da primeira edição da pesquisa, esse índice era de 15,6%.

Essa é uma tendência em todo o mundo, de acordo com a psiquiatra Alessandra Diehl, que é vice-presidente da Associação Brasileira de Estudos Sobre o Álcool e Outras Drogas (ABEAD). “A edição do estudo “Monitoring the future”, de 2019, mostrou que o consumo de tabaco reduziu em 54,28% entre estudantes da 12ª série dos Estados Unidos nos últimos 4 anos, de 2016 a 2019. Esse estudo americano é longitudinal e acontece desde 1975, com estudantes na faixa etária do que seria o equivalente ao ensino médio no Brasil. Os americanos creditam os resultados positivos às campanhas realizadas contra o tabagismo. No entanto, o que preocupa agora as autoridades naquele País é o vaping”, conta a especialista.

O “Monitoring the future” apontou que os cigarros eletrônicos contendo nicotina foram consumidos por 25,5% dos estudantes da 12ª série dos Estados Unidos.  “Para se ter uma ideia do fenômeno do vaping entre os americanos, a pesquisa informa que os estudantes  da 12ª série usam diariamente mais vapings contendo tabaco (11,7%) do que cigarros (2,4%). O vaping foi utilizado,  pelo menos uma vez na vida, por estudantes da 8ª e 12ª séries: 24,3% e 45,6%, respectivamente”, diz Alessandra Diehl.

O “Monitoring the future” abordou o vaping de três substâncias específicas (nicotina, maconha e apenas aromatizante) pela primeira vez em 2017. No ano seguinte, o estudo mostrou aumento substancial no vaping de todas essas três estas substâncias. A tendência se confirmou em 2019, quando houve aumentos altamente significativos em cada um dos três graus na prevalência de nicotina vaping e de vaping maconha. No intervalo de dois anos (de 2017 a 2019), prevalência de 30 dias de maconha vaping dobrou ou triplicou nas três séries: passou de 4,9% em 2017 para 14,0% em 2019.

Na opinião de Alessandra Diehl esse não é um problema exclusivamente dos jovens americanos. “O que preocupa as autoridades de saúde  no mundo todo são as novas formas de fumar maconha, por exemplo, por meio dos e-cigarettes. Aqui no Brasil não temos legislação e sequer dados de evidência para avaliar esse fenômeno como ocorre nos Estados Unidos. Assim como o narguilé é uma modinha entre os adolescentes, o vaping também aparece nesse mesmo contexto em nosso país. Vale salientar que o vaping  traz prejuízos, principalmente em relação a uma síndrome chamada Evali que leva ao óbito por causar uma lesão pulmonar associada ao uso de produtos de cigarro eletrônico ou vaping. Nos Estados Unidos essa doença já acometeu mais de 1.000 pessoas em 49 estados americanos e matou outras 26 em 21 estados”, alerta a psiquiatra.

Alessandra Diehl enfatiza ainda que os cigarros eletrônicos  e  vaping não são aconselháveis para parar de fumar. “O tabagismo é uma doença curável, com altos índices de sucesso. No entanto, os fumantes devem procurar tratamentos baseados em evidências com a ajuda especializada. Os cigarros eletrônicos e o vaping representam um risco e não são uma boa estratégia para quem quer largar o tabaco. Muitos usuários, sobretudo os jovens,  acreditam que os aparelhos para o vaping são seguros, achado que a fumaça é apenas o vapor de água. No entanto, esse líquido contém substâncias como o glicerol e  propileno glicol que podem originar substâncias cancerígenas depois de aquecidas. Além disso, a adição de nicotina em muitos deles, não vai diminuir a dependência dessa substância ”, observa.

No Brasil, os DEFs (dispositivos eletrônicos para fumar), como são chamados os cigarros eletrônicos, são proibidos pela Anvisa por meio da resolução RDC 46/2009 justamente pela falta de evidências de que o uso desses produtos é seguro.


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