Doença que provoca movimentos involuntários acomete 65 mil
brasileiros
Ao notar tiques e
outros movimentos involuntários, é comum associar o sintoma a doença de
Parkinson. Mas há um leque de distúrbios
neurológicos que também são responsáveis por
alterar as funções motoras, entre eles, a distonia,
condição que já atinge 4 em cada 100 mil pessoas no Brasil, segundo dados do Ministério
da Saúde.
Caracterizada por
gerar movimentos complexos, bruscos e involuntários dos membros (braços,
pernas, tronco, pescoço, entre outros) bem como espasmos, tremores e piscadas
repetidas dos olhos, a distonia é evolutiva, impactando ao longo do seu
desenvolvimento a realização de atividades simples, como segurar ou manusear
objetos, se alimentar, tomar banho, escrever, entre outros. Uma das
personalidades que ajudou a divulgar a doença foi o artista Caroll Spinney,
marionetista dos personagens Garibaldo e Oscar Grouch no programa infantil Vila
Sésamo, que morreu aos 85 anos em dezembro do ano passado.
“Até receber um
diagnóstico assertivo, é comum os pacientes peregrinarem por diferentes
médicos. Sendo assim, e tendo ainda que encarar o desconhecimento e
preconceito, é muito comum que indivíduos que convivem com a doença também
desenvolvam problemas psicológicos, como depressão e ansiedade”, relata o
neurocirurgião funcional e coordenador do Centro de Dor do Hospital 9 de Julho,
Dr. Cláudio Corrêa.
Tipos
de distonia
A distonia pode se
apresentar sob diferentes formas, mas tendo sempre em comum a hipertonia
muscular, ou seja, um aumento do tônus muscular. Esta característica gera a
contração repetitiva ou a incapacidade total de relaxamento dos músculos, que
acabam por desencadear quadros de dor intensa. Seus tipos variam de acordo com
a região acometida, sendo classificadas como:
- Distonia
focal: quando apenas um segmento do corpo apresenta movimentos
involuntários, como um braço, uma perna ou a região cervical (pescoço). A
gesticulação é sem ritmo e possui maior amplitude.
- Distonia
segmentar: quando duas regiões apresentam os movimentos
involuntários, como, por exemplo, cervical e um dos braços ou uma das pernas
- Distonia
multisegmentada: quando afeta um lado inteiro do corpo,
incluindo os membros superiores e inferiores.
-
Distonia generalizada: como o nome diz, acomete todo o
corpo, da cabeça aos pés.
Causas
da doença
Ainda sem causa
definida, a distonia pode ter fundo genético, ser desencadeada após traumas ou
lesões no crânio, doenças degenerativas ou até intoxicação por agentes
químicos, que acabam ocasionando o mau funcionamento de uma área cerebral
conhecida como núcleos da base (gânglios da base).
Diagnóstico
Tendo como médico
inicial o neurologista, para a confirmação do diagnóstico é necessário um
levantamento de hábitos, sintomas e exames físicos, que posteriormente podem
ser complementados com exames de imagem.
Tratamento
da distonia
O tratamento da
distonia é multifuncional, compreendendo medicações e terapias de reabilitação
geral dos membros afetados, bem como apoio da psicoterapia.
Alguns
medicamentos atuam no relaxamento da musculatura e podem ser usados como
paliativos. Em distonias focais, a toxina botulínica aplicada de 3 em 3 meses
apresenta ótimos resultados para a devolução da autonomia dos pacientes.
Em casos mais
complexos e generalizados, as cirurgias passam a ser indicadas. Embora
procedimentos como a rizotomia – uma cirurgia
minimamente invasiva que atua lesionando parte das raízes nervosas da medula
para interromper a comunicação dos estímulos distônicos – já tenham sido
prescritos, a técnica mais eficaz usada atualmente é a neuroestimulação
cerebral profunda.
Tradução de Deep
Brain Stimulation, trata-se da modulação dos impulsos elétricos das regiões
afetadas pela disfunção por meio do implante de eletrodos na cabeça. Também
minimamente invasiva, tem resultados muito expressivos e traz o benefício de
não lesar estruturas do cérebro, sendo totalmente reversível, caso necessário.
“Para todos os
tipos e graus de evolução da doença, é importante acolher o paciente de forma
integral, motivando-o a aderir as indicações propostas e que sempre podem gerar
resultados importantes na melhora da condição dos movimentos e ainda da dor”,
relata o neurocirurgião.
Dr. Claudio Corrêa - Com
mais de 30 anos de atuação profissional, Dr. Claudio Fernandes Corrêa possui
mestrado e doutorado em neurocirurgia pela Escola Paulista de Medicina/UNIFESP.
Especializou-se no tratamento da dor aliado a neurocirurgia funcional – do qual
se tornou referência no Brasil e no exterior. É também o idealizador e
coordenador do Centro de Dor e Neurocirurgia Funcional do Hospital 9 de Julho,
serviço que reúne especialistas de diversas especialidades para o tratamento
multidisciplinar e integrado aos seus pacientes.
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