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segunda-feira, 29 de novembro de 2021

Prevenção de transtornos mentais entre estudantes pode evitar repetência e evasão escolar, aponta estudo


Trabalho conduzido por cientistas brasileiros e britânicos envolveu 2.511 famílias com estudantes entre 6 e 14 anos. Dados mostram que transtornos externalizantes, como déficit de atenção e hiperatividade, causam mais impactos negativos do que psicopatias ligadas a angústias e medos (foto: Pixabay)

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Pelo menos dez a cada cem meninas que estavam fora da série escolar adequada para sua idade poderiam ter acompanhado a turma se transtornos mentais, principalmente os externalizantes (como déficit de atenção e hiperatividade), fossem prevenidos ou tratados. O impacto negativo dessas condições mentais também se reflete na repetência: cinco em cada cem alunas não teriam reprovado. Para meninos, seriam prevenidos 5,3% dos casos de distorção idade-série e 4,8% das reprovações.

Esses resultados foram revelados em uma pesquisa inovadora, liderada por um grupo de cientistas brasileiros e britânicos e publicada na revista Epidemiology and Psychiatric Sciences. Os pesquisadores buscaram estimar o peso e o impacto de diferentes tipos de condições psiquiátricas nos resultados educacionais, usando como base dados de 2014.

Concluíram, em linhas gerais, que os transtornos externalizantes tiveram efeitos negativos mais amplos e robustos sobre a educação quando comparados a psicopatias ligadas a angústias e medos. Ao analisar por gênero, foram particularmente prejudiciais para as mulheres, resultando em níveis mais baixos de alfabetização e perpetração de bullying.

Nesse caso, pelo menos 11 em cada cem registros de atos de violência física ou psicológica praticados por meninas em escolas poderiam ser evitados se transtornos externalizantes fossem prevenidos ou tratados. Já para o sexo masculino, as fobias e a depressão implicaram maiores índices de abandono escolar.

“Em termos epidemiológicos, geralmente os meninos têm mais transtornos externalizantes, chegando a ser o dobro de casos do que em meninas. Mas, no desfecho educacional, vimos que é um fator de risco maior para as alunas. Uma das hipóteses que explicam esse achado é o estigma social, já que não é esperado das mulheres um comportamento agressivo ou exacerbado. Com isso, elas podem sofrer mais e apresentar pior desempenho escolar. O mesmo vale para a depressão no caso de meninos. Há uma cobrança da sociedade de que eles não chorem ou externem sentimentos”, avalia o pesquisador Mauricio Scopel Hoffmann, primeiro autor do artigo e professor adjunto do Departamento de Neuropsiquiatria da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).

O trabalho, desenvolvido no pós-doutorado de Hoffmann, teve apoio da FAPESP (projetos 14/50917-0 e 08/57896-8) e do Newton Fund, por meio do Newton Fellowship obtido pelo professor e pela pesquisadora Sara Evans-Lacko, na Academy of Medical Sciences do Reino Unido, realizado na London School of Economics and Political Sciences entre 2019 e 2020.

Os dados foram obtidos no Estudo Brasileiro de Coorte de Alto Risco para Transtornos Psiquiátricos na Infância (BHRC), uma grande pesquisa de base comunitária que acompanha crianças e jovens desde 2010.

Fazendo a análise das informações referentes a 2014, os pesquisadores contextualizaram as descobertas em uma perspectiva populacional, mas já alertando que eram estimativas conservadoras. Concluíram que, à época, pelo menos 591 mil estudantes poderiam estar na série adequada para sua idade se transtornos psiquiátricos fossem detectados preventivamente e tratados. No caso da repetência, seria possível evitar que cerca de 196 mil alunos ficassem retidos na mesma série.

De acordo com Hoffmann, mesmo tendo passado quase sete anos da base de cálculo, o quadro obtido na pesquisa pode ser replicado para os dias atuais, fornecendo evidências da importância do tratamento e da prevenção de condições psiquiátricas para melhores resultados educacionais. Em 2014, o Brasil registrou 49,8 milhões de matrículas em 188,7 mil escolas de educação básica (públicas e particulares). Em 2020, esses números caíram para 47,3 milhões e 179,5 mil, respectivamente.

Estudo longitudinal

Considerado um dos principais acompanhamentos sobre riscos de transtornos mentais em crianças e adolescentes já realizados na psiquiatria brasileira, o BHRC, também conhecido como Projeto Conexão – Mentes do Futuro, faz parte do Instituto Nacional de Psiquiatria do Desenvolvimento para Crianças e Adolescentes (INPD).

Apoiado pela FAPESP e pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), o INPD tem como coordenador-geral o professor do Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FM-USP) Eurípedes Constantino Miguel Filho e conta com mais de 80 professores e pesquisadores de 22 universidades.

Para o estudo recém-publicado, os pesquisadores analisaram dados da linha de base (iniciada em 2010) e de acompanhamento durante três anos (até 2014) do BHRC, considerando uma etapa de triagem e uma de avaliação. A pesquisa usou pesos de pontuação de propensão (PSWs, na sigla em inglês) para equilibrar os participantes com e sem condições psiquiátricas para as características basais.

Na triagem, nos dias de matrícula obrigatória em 2010, pais de alunos de 22 escolas públicas de Porto Alegre (RS) e 35 de São Paulo foram convidados a participar. Para a avaliação completa houve a seleção de 2.511 famílias. Os alunos tinham de 6 a 14 anos.

Os transtornos mentais foram divididos em três grandes grupos: de angústia e sofrimento (como transtorno depressivo maior e depressivo não especificado, bipolar, obsessivo-compulsivo e pós-traumático); de medos (pânico, fobias específicas, separação e transtorno de ansiedade social) e os transtornos externalizantes (déficit de atenção, hiperatividade, conduta de oposição e desafio).

O grupo usou a Avaliação de Comportamento de Desenvolvimento e Bem-estar e calculou as porcentagens de risco atribuíveis à população para estimar a proporção de resultados educacionais adversos ligados a condições psiquiátricas. As análises foram conduzidas separadamente para homens e mulheres.

"Um dos objetivos foi analisar o quanto dos eventos escolares não desejados poderiam ser evitados se os transtornos mentais fossem tratados e em qual medida. Obtivemos um resultado prático muito claro, já que desfechos como distorção idade-série, repetência, desistência escolar e perpetuação de bullying estão ligados", afirma Hoffmann à Agência FAPESP.

Segundo ele, além dos impactos negativos na educação, principalmente para as mulheres, os problemas da saúde mental podem limitar no futuro oportunidades socioeconômicas, aumentando desigualdades de gênero no mercado de trabalho, por exemplo.

Estimativas apontam que uma a cada quatro pessoas pode desenvolver quadros de transtornos mentais ao longo da vida, estando entre as principais causas de incapacitação na faixa etária dos 14 aos 50 anos. De acordo com projeções da Organização Mundial da Saúde (OMS), o custo para a economia mundial com esses casos deve chegar a US$ 6 trilhões em 2030.

“Fazer o diagnóstico correto é o primeiro passo. Isso ajudaria a reduzir alguns problemas enfrentados nas escolas. Políticas que incentivem a detecção e intervenção precoce de problemas de saúde mental na infância e adolescência podem ter consequências profundas no nível educacional dos cidadãos”, completa o pesquisador.

O Censo Escolar 2020, do Ministério da Educação, apontou que a taxa de distorção idade-série alcança 22,7% das matrículas dos anos finais do ensino fundamental e 26,2% no médio. Além disso, há um aumento dessa taxa a partir do 3º ano do ensino fundamental, sendo mais alta no sétimo ano e na primeira série do ensino médio.

Essa distorção resulta, entre outros fatores, do total de alunos reprovados ou que abandonam os estudos durante determinado ano letivo. Dificilmente esse processo é reversível, já que muitas vezes a criança, ao atrasar nos anos iniciais da educação básica, permanece nessa situação até a adolescência, ao concluir o ensino médio ou, eventualmente, até uma evasão.

Esse quadro explica o fato de o Brasil ter o quarto maior percentual de jovens que repetiram de série pelo menos uma vez durante a vida escolar entre 79 países analisados em relatório da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).

Dos estudantes brasileiros de 15 anos, 34% repetiram a série ao menos uma vez. O Marrocos tem o pior resultado, com 49,3%, seguido da Colômbia (40,8%) e do Líbano (34,5%). O documento, divulgado no ano passado, tem como base indicadores do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa, na sigla em inglês).

Segundo Hoffmann, que é médico, uma parceria entre educação e saúde, reforçando a prevenção, seria um dos caminhos para reduzir os efeitos negativos nas escolas. "Um exemplo são os casos de déficit de atenção [TDAHs]. Sabemos que somente 20% deles são detectados no Brasil. Se a taxa aumentasse em dez pontos percentuais, para 30%, estimamos que cerca de 8 mil repetências poderiam ser evitadas a cada ano."

Uma das alternativas é contar com a ajuda de professores nesse trabalho. Para isso, o grupo de cientistas criou um material psicoeducativo para pais e docentes tratando do tema e mostrando a importância do papel de mediação para evitar estigmas.

COVID-19

Durante a pandemia, o tema da saúde mental ganhou destaque e novos estudos, principalmente para avaliar os impactos do isolamento social e das aulas a distância para crianças e jovens. Hoffmann diz que um dos trabalhos dos cientistas agora, liderado pela pesquisadora na área de neurociência e comportamento humano Patrícia Pinheiro Bado, é investigar a relação do engajamento em aprendizado on-line com a saúde mental dos alunos.

Há evidências de estudos britânicos publicados recentemente mostrando que, durante a pandemia de COVID-19, jovens, adultos e idosos com transtornos mentais prévios tiveram mais consequências prejudiciais, como a perda de empregos, problemas de saúde e emocionais.

No Brasil, com as escolas fechadas por causa da COVID-19, o Fundo de Emergência Internacional das Nações Unidas para a Infância (Unicef) estimou que 1,5 milhão de crianças e adolescentes de 6 a 17 anos não frequentavam as aulas (remota ou presencialmente) em novembro de 2020. Outros 3,7 milhões de alunos matriculados deixaram de ter acesso a atividades escolares e não conseguiram continuar aprendendo em casa.

O artigo The impact of child psychiatric conditions on future educational outcomes among a community cohort in Brazil, dos pesquisadores Mauricio Scopel Hoffmann, David McDaid, Giovanni Abrahão Salum, Wagner Silva-Ribeiro, Carolina Ziebold, Derek King, Ary Gadelha, Eurípedes Constantino Miguel, Jair de Jesus Mari, Luis Augusto Rohde, Pedro Mario Pan, Rodrigo Affonseca Bressan, Ramin Mojtabai e Sara Evans-Lacko, pode ser lido em: www.cambridge.org/core/journals/epidemiology-and-psychiatric-sciences/article/impact-of-child-psychiatric-conditions-on-future-educational-outcomes-among-a-community-cohort-in-brazil/56B83E2BF23C701A4747AD2595F347BB#.

 

Luciana Constantino

Agência FAPESP 

https://agencia.fapesp.br/prevencao-de-transtornos-mentais-entre-estudantes-pode-evitar-repetencia-e-evasao-escolar-aponta-estudo/37419/


sábado, 28 de agosto de 2021

Como agem os pais que educam emocionalmente os filhos para superar desafios

 Estilos parentais influenciam o modo como os filhos encaram suas emoções e ultrapassam dificuldades

 Desde 1982, quando me formei em psiquiatria, estudei uma infinidade de abordagens no campo das psicoterapias. Paralelamente, também criei uma família, tive três filhos e o desafio comum à maioria dos pais: educá-los emocionalmente para enfrentar os próprios desafios que a vida tem.

Em meu trabalho como professor e facilitador de terapia sistêmica – que considera não só o indivíduo, mas também todo o seu sistema familiar –, observo com frequência a dificuldade dos membros de um sistema familiar em aceitar a dor que provocam os conflitos familiares. Por quê? Porque não fomos educados emocionalmente para enfrentá-los. 

Por trás de todo padrão de sofrimento familiar que se repete por gerações, há também um legado de como as emoções, que estão em jogo, são difíceis de administrar.

 

Quatro “estilos” de pais

 Educamos emocionalmente nossos filhos a todo o momento, mesmo quando não nos damos conta disso. Sempre estamos transmitindo emoções e a forma como as administramos.

O renomado psicólogo John Gottman, no livro “A Inteligência Emocional e a Arte de Educar nossos Filhos” (editora Objetiva), distingue quatro estilos parentais. Isso não quer dizer que temos sempre o mesmo estilo, mas que um geralmente é preponderante. Descrevo abaixo cada um deles e seus possíveis impactos para os filhos.

O objetivo não é culpar os pais, porque eles também receberam essa educação de seus próprios pais. Quando vemos padrões que se repetem, eles se repetem no roteiro de um universo emocional limitante que vem de longe.

Quando observamos padrões de sofrimento em uma família, conseguimos detectar um roteiro de emoções limitantes que passam de geração para geração.

 

 

Pais simplistas

 O filho, lá pelos seus cinco anos, diverte-se com um brinquedo. O pai está vendo TV ao lado dele. De repente, o filho começa a chorar, lamentando que quebrou seu brinquedo.

O pai desvia os olhos da TV e, demonstrando não gostar muito daquela atitude por causa de um brinquedo, pergunta: 

– O que acontece?

– Quebrou meu brinquedo.

– Ah... Mas deixa isso pra lá. Que tal assistirmos a um desenho juntos? Vem!

– Mas eu queria brincar com meu brinquedo – insiste o menino, ainda chorando. Já meio irritado, o pai faz outra proposta:

– Bom, o que podemos fazer é... Hoje à tarde, vamos à loja comprar um brinquedo igualzinho a esse. O que você acha?

– Eu queria esse brinquedo... E antes de o filho terminar a frase, o pai interrompe, já demonstrando um pouco de nervosismo.

– Vem aqui! Vem, vem! Quer jogar no celular?

O que aconteceu aqui? O pai não sabe o que fazer, então minimiza a cena e os sentimentos do filho, desviando o foco para outro lugar ou substituindo um brinquedo por outro para que o menino acalme as emoções. 

O modelo de administrar as emoções que o pai simplista transmite é desconsiderá-las, minimizá-las, quase que desaprová-las e desviar o foco. 

Se o filho a leva adiante sistematicamente, também criará um modelo de administrar as emoções. Na adolescência, se ele sentir angústia, desapontamento e frustração com o fim de um rompimento afetivo, este jovem poderá não saber nem como se chama o que está sentindo e tentará desviar o foco: “vou jogar futebol com meus amigos”, “vou arranjar outra namorada”.

Inadequação e baixa autoestima também são comuns nesse tipo de administração das emoções. Quem é educado nesse modelo simplista, diante dos desafios da vida se sente sem recursos para enfrentá-los emocionalmente. 

O objetivo aqui não é culpar os pais, porque os pais receberam também essa educação de seus próprios pais. Sucessivamente.

Quando vemos padrões que se repetem, eles se repetem no roteiro de um universo transgeracional emocional limitante.

 

Pais desaprovadores

 Vamos pensar na mesma cena.

O menino chora porque quebrou o brinquedo. O pai observa e pergunta, com tom áspero: 

– O que foi?

– Quebrou meu brinquedo!

– E você está chorando por causa disso? Só por um brinquedo que se quebra?  Ah! Faça o favor!

– Mas eu queria brincar com meu brinquedo...

– Cala a boca de uma vez! Deixa esse brinquedo de lado. É assim, é? Chorar não leva pra lugar nenhum, menino. Que isso? O menino, acuado, começa a chorar novamente.

– Chega! Engole o choro!

 

Os pais desaprovadores são assim chamados porque desaprovam a emoção diretamente. O simplista considera a emoção, mas muda o foco. O desaprovador anula, censura, castra o mundo emocional do filho. Elas não são coisas do humano, muito menos dos homens, afinal “homens não choram”. 

Como vai se sentir essa criança quando for adolescente ou adulto? Pode ser que seja demitido no seu primeiro emprego, ou estágio, e vai considerar inadequadas emoções de tristeza e frustração. Além de perder o emprego, fica com a autoestima embaixo na terra. 

O que ela faz para sair desse lugar, se não tiver ajuda terapêutica ou um amigo com quem falar?  Ou vai achar que a gente tem que ser forte, levar muita porrada e continuar?

Essa reação mina o campo da autoestima. A pessoa pode evoluir muito intelectualmente, pode ser um excelente aluno, mas quando se trata de se relacionar, namorar, ter amizades, lidar com a vida, é incompetente emocionalmente. 

 

Pais laissez-faire



Imaginemos mais uma vez a cena do menino com o brinquedo quebrado.

– O que acontece? – o pai pergunta ao vê-lo chorar.

– Quebrou meu brinquedo.

O pai se comove e diz em tom também de lamento:

– Oh... Quebrou o brinquedo da criança... Oh, mãe! Vem aqui, quebrou o brinquedo do menino.

– É quebrou... – diz a criança, chorando.

O pai tenta consolar:

– É quebrou... Chora, né? Tem que chorar. Quebrou o brinquedo afinal.



O pai para por aí. Ao menos não anula as emoções, mas também não ajuda. Esse modelo de educar se chama laissez-faire (do francês, deixar acontecer). É um modelo permissivo, já que permite que a criança chore. Mas o que acontece com esse menino? Não sabe o que fazer com isso. E o pai, que seria o modelo de educador, não lhe oferece nenhuma possibilidade.

Quando essa criança se tornar adolescente e tiver a primeira ejaculação – ou a menina tiver a primeira menstruação – e se encontrar com a angústia de um corpo diferente do que era, vai falar com a mãe, com as amigas, com o terapeuta etc.

A solução é catártica, isto é, expressar o que sente, falar tudo o que acontece, mas ela não sabe que pode se apropriar daquilo e conduzir a um caminho de solução. A pessoa fala do problema, mas não quer uma solução porque não sabe que há solução. Falar sobre o que aconteceu é o modelo que ela tem de administrar as emoções.

 

Pai educador emocional

 Vamos à mesma criança que quebra o brinquedo.

– Quebrou meu brinquedo.

O pai dá uma pausa na TV, aproxima-se da criança e pergunta de novo:

– O que aconteceu?

Então ele se abaixa, colocando-se na mesma altura do filho, já criando um campo de empatia, comunicando com o corpo que o que aconteceu é significativo.

Não é algo para fazer de conta que não está acontecendo, para desaprovar ou para não fazer nada. Ele provoca intimidade. Não é apenas o brinquedo que está quebrado. No mundo interno, na alma do menino, algo se fissurou, se fraturou.

– Quebrou... – diz a criança, chorando.

– Seu brinquedo acabou de quebrar, e você está com raiva. Está com raiva porque você não queria que quebrasse. 

– É...

– E está triste porque você não vai ter ele inteiro de novo.

– Sim...

– Está muito angustiado porque acaba de se quebrar algo que você não sabe nem como lidar. 

O que está fazendo o pai? Está dando um vocabulário emocional, está dizendo “isso que aconteceu, acontece também na vida”. Emoções têm nome. Podemos simbolizar nossas emoções e elas não são do outro mundo. As emoções fazem parte da vida. Hoje está um dia lindo; amanhã, um vendaval, cidade alagada; daqui a quatro dias, novamente sai sol. Tudo isso é dito quando pai nomeia as emoções: “é tristeza, é angústia é raiva”. 

Essa criança, quando se torna adolescente e passa por um rompimento, pode dizer: “estou sentindo angústia, frustração, tristeza porque queria muito aquela pessoa”.Com a educação emocional, estamos formando um ser que vai se sentir mais empoderado no futuro. Voltando ao menino, o pai diz:

 



– O que você acha que podemos fazer? Porque tudo tem solução.

O filho começa a pensar...

O que o pai está dizendo? Todo distúrbio emocional tem solução. Há tristeza, raiva, mas tem solução. Qual solução damos a isso? E o pai não dá a solução. Ele pergunta. Quando pergunta, ele está dizendo: você pode! Está dando elementos para o menino enfrentar as situações, por mais difícil que a vida seja. Ele pode superar as dificuldades.

– Amarrar ou colar...

– Que legal, temos cola em casa!

O pai pode ajudar, porque o filho só tem cinco ou seis anos, mas deixa que ele tome a iniciativa.

– Parabéns, você colou o brinquedo!


Esse menino, quando adulto, ao ser demitido ou se separar da namorada, vai sentir o que tem que se sentir, o que precisa ser sentido, mas vai sentir dentro dele a mensagem “eu vou aprender com isso, tem solução e está em minhas mãos.”

Assim, estamos transformando também um padrão familiar. Se meus avós e pais foram desaprovadores, eu tenho em mim a chance de, com muito respeito ao que eles puderam dar, transformar-me em um educador emocional. Não quer dizer que eu não os ame; quer dizer que o faço também por meus filhos, por mim e por todos nós.



Mario Koziner - formou-se em psiquiatria pela Universidade de Buenos Aires (UBA) em 1985 e trabalha há 30 anos com workshops, palestras e cursos de formação nas áreas de Constelações Sistêmicas, da neurociência, dos novos paradigmas da ciência e da consciência. É autor dos livros “Ciclo de excelência do constelador: desenvolvendo habilidades essenciais para facilitar constelações sistêmicas” e “Da sombra à luz: Uma jornada de transformação pessoal” (lançamento em breve).


sexta-feira, 6 de agosto de 2021

O que o cuidado bucal tem a ver com o desempenho de atletas?

Entenda como a saúde bucal interfere na performance dos esportistas


Em tempos de Jogos Olímpicos, ao acompanhar diversas competições com atletas de alto nível de performance, é comum pensar que seu preparo se limita apenas ao condicionamento físico e técnico.

Para um bom rendimento do atleta, o corpo em sua totalidade precisa estar saudável, sendo importante o acompanhamento de uma equipe multidisciplinar. Um dos profissionais que integram essa equipe é o cirurgião-dentista.

 “A saúde bucal do atleta reflete diretamente na saúde geral que, por sua vez, interfere diretamente em seu rendimento esportivo. Os riscos da não realização de um tratamento odontológico adequado flutua desde doenças respiratórias, comprometimento articular e muscular, dor de dente, dores na articulação temporomandibular, respiração bucal, mastigação inadequada, todos repercutindo sistematicamente no organismo do atleta”, comenta a Dra. Neide Pena Coto, cirurgiã-dentista, presidente da Câmara Técnica de Odontologia do Esporte do Conselho Regional de Odontologia de São Paulo (CROSP).

A má posição da mandíbula, por exemplo, é capaz de interferir no equilíbrio durante a prática esportiva. A mandíbula é a primeira cintura do nosso corpo. A segunda é a pélvica e a terceira a escapular. Então, se a mandíbula tiver algum tipo de desequilíbrio, consequentemente o corpo buscará compensar, o que a médio e longo prazo, pode causar lesões.

“Quando o atleta não realiza visitas periódicas ao cirurgião-dentista ele também pode ficar suscetível à cárie ou lesões cervicais não cariosas. Outra coisa, caso o atleta não utilize o protetor bucal individualizado (confeccionado por seu cirurgião-dentista) ele fica exposto a choques e colisões podendo fraturar dentes e ossos da face”, exemplifica.  

Outro fator relevante que interfere diretamente no desempenho do atleta é a rotina alimentar. “É preciso ter cuidado com a ingestão de suplementos, isotônicos, repositores, e até água com limão, pois podem interferir maleficamente na saúde bucal”.


Odontologia do Esporte    

A parceria entre a Odontologia e o esporte já é bastante antiga. O primeiro registro conhecido é de 1890, no Reino Unido, por meio do trabalho do cirurgião-dentista Woolf Krause, que criou um dispositivo à base de substância vegetal, similar ao látex para proteção dos dentes superiores da boca dos boxeadores, chamado de guta-percha.

Em 1913, seu filho Philllp Krause fabricou um protetor bucal, exclusivamente para o boxeador Ted “Kid” Lewis, também com a finalidade de proteção dos tecidos bucais durante o combate, mas com a vantagem de ser reutilizável.  O primeiro trabalho relacionado à Odontologia do Esporte no Brasil foi durante a Copa do Mundo de Futebol, na Suécia, em 1958, elaborado pelo então cirurgião-dentista da Seleção Brasileira de Futebol, Dr. Mario Trigo. O Brasil foi o único país que levou um cirurgião-dentista e um psicólogo nesta competição, demonstrando a preocupação em proporcionar uma estrutura completa para seus atletas. Trigo também acompanhou a equipe em 1962, 1966 e 1970. 

A Odontologia do Esporte foi reconhecida como uma nova especialidade na Odontologia brasileira em 2015, por meio da Resolução Nº160 do Conselho Federal de Odontologia (CFO).

 


Conselho Regional de Odontologia de São Paulo – CROSP

 www.crosp.org.br


quinta-feira, 1 de julho de 2021

Com início do inverno, plantio de cevada se torna alternativa lucrativa para agricultores dos Campos Gerais

A produção brasileira do grão está concentrada na Região Sul, sendo o Paraná o maior produtor nacional de cevada
 Pixabay


Líder na produção de malte, Paraná vai contar com nova fábrica em 2023, o que deve gerar mais de mil empregos na Região


O período de baixas temperaturas no Sul do País marca a fase de plantio de cevada, cultura tipicamente de inverno utilizada como alternativa nas lavouras nesta época do ano. Essa, no entanto, é a primeira fase rumo ao longo caminho da colheita, que deve ocorrer em meados de outubro. A produção brasileira do grão está concentrada na Região Sul, sendo o Paraná o maior produtor nacional de cevada, com cerca de 60% da produção nacional, de acordo com dados do Departamento de Economia Rural (Deral), da Secretaria de Estado da Agricultura e do Abastecimento. Não por acaso, produtores e indústrias paranaenses investem cada vez mais no setor.

Prova disso é o anúncio da construção de uma nova maltaria que entrará em operação em 2023 na cidade de Ponta Grossa, na Região dos Campos Gerais. O projeto – uma parceria entre as cooperativas Agrária (Guarapuava), Bom Jesus (Lapa), Coopagrícola (Ponta Grossa) e a Unium, marca institucional das indústrias das cooperativas Frísia, Castrolanda e Capal – tem previsão de investimento de R$ 1,5 bilhão e deve gerar mais de mil empregos.

Segundo o superintendente da Frísia, Mario Dykstra, ao longo dos anos, a cooperativa vem buscando alternativas para que os cooperados tenham fontes de diversificação de renda, com culturas que rentabilizem neste período de baixas temperaturas, entre elas, a cevada. “Apesar da importância da cevada ter aumentado nos últimos anos, a área plantada ainda é pequena, visto o potencial de cultivo de aproximadamente 100 mil hectares na área de atuação da Cooperativa Frísia”, explica. A expectativa é de que a fábrica tenha uma produção anual de 240 mil toneladas de malte, volume que hoje corresponde a 15% do mercado nacional.

Em função dessa parceria entre as cooperativas, bem como da união das pesquisas da Fapa (Fundação Agrária de Pesquisa Agropecuária) e a Fundação ABC, a área de cultivo da cevada logo ganhou notoriedade e passou a crescer a cada ano. Esse, portanto, foi o cenário decisivo para a implantação da maltaria na Região dos Campos Gerais, fruto da intercooperação entre Agrária, Unium, Coopagrícola e Bom Jesus. “Com essa nova unidade, é consenso que haverá novos postos de trabalho na região, além de aumentar o potencial de rentabilidade dos nossos cooperados, chegando a beneficiar 12 mil integrantes do sistema”.

Ainda de acordo com o diretor, as áreas já plantadas no estado apresentam boas condições de desenvolvimento e sanidade, resultado da satisfatória distribuição de chuvas até o momento. “As condições gerais são prenúncio de uma boa colheita no Paraná, porém, como ocorre em todas as atividades dentro da agricultura, dependemos da continuidade da regularidade tanto da chuva quanto da temperatura para que tenhamos uma boa safra”, salienta. O ano de 2020 foi desafiador para a cultura da cevada, mas as perspectivas da safra para este ano apontam para um crescimento de 30% em relação ao ano passado, graças ao aumento de áreas plantadas e da produtividade.

A cevada

O agrônomo William Nolte comenta que a cevada tem um potencial de produtividade maior que outras culturas de inverno, porém, é mais exigente em termos, principalmente, de fertilidade do solo e cuidados fitossanitários. “Nos últimos anos, o fomento da indústria juntamente com a cooperativa, somado ao lançamento de novos genótipos da cevada, favoreceu para que a área aumentasse de forma significativa. Produtores que não tinham a cevada como opção de cultura no inverno, passaram a acreditar no potencial e a incluí-la no sistema de rotação de cultura”, constata Nolte. Ele acrescenta que, nos últimos 10 anos, a produtividade da cevada mostrou crescimento entre 10% e 15% nas áreas da cooperativa.

Para o agrônomo, além de incentivar o aumento da produção, a maltaria deve trazer maior segurança para os produtores, sobretudo, em maior liquidez na comercialização. “A cevada é uma ótima opção de cultura no inverno e pode ser rotacionada juntamente com o trigo e demais culturas. Isso traz uma alternativa a mais para o produtor e uma possibilidade de aumentar sua renda nesse período.” Atualmente, duas das maiores cervejarias brasileiras estão instaladas na região e o mercado de cerveja artesanal vem crescendo em todo o País. “Certamente, a instalação da maltaria vai favorecer muito a sinergia entre a produção no campo e a fabricação, garantindo uma matéria-prima de qualidade.”


A visão do cooperado

Henk e Vitor Salomons, pai e filho, planejam aumentar ainda mais o plantio de cevada nas propriedades da família. “Este é o sexto ano que plantamos a cultura no inverno, que tem se apresentado como uma alternativa melhor que o trigo. As vantagens têm sido constatadas, principalmente, na produtividade, na menor quantidade de doenças e melhoria da qualidade do solo, pois deixa mais palha”, enumeram os cooperados da Capal. De toda a área que era destinada ao trigo, um quarto agora é usado para a cevada. “Devemos aumentar ainda mais essa proporção e, sem dúvida, a instalação da maltaria em Ponta Grossa vai facilitar a logística do frete, diminuindo nossos custos operacionais”, diz Salomons.

 


Unium

 http://unium.coop.br/

 

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2021

Carnaval: Ecad aponta as músicas mais ouvidas na década

As marchinhas carnavalescas estão nas primeiras posições no estudo que mostra o que mais tocou no país entre 2010 e 2020

 

O carnaval terá que ser reinventado este ano, já que a Covid-19 vai impedir a realização da folia tradicional. Para dar um gostinho aos foliões, o Ecad (Escritório Central de Arrecadação e Distribuição) fez um estudo para destacar as músicas mais ouvidas na última década, durante o carnaval, levando em consideração o que foi tocado no Brasil em bailes, casas de diversão, eventos de rua, shows e trios elétricos.

A canção que liderou o ranking das músicas mais tocadas neste período foi "Mamãe eu quero", marchinha de autoria de Jararaca e Vicente Paiva e sucesso na voz de Carmen Miranda nos anos 30. Aliás, as tradicionais marchinhas dominaram o levantamento e, entre as cinco primeiras, ficaram “Cabeleira do Zezé”, “Me dá um dinheiro aí”, “A jardineira” e “Marcha do remador”. 

A primeira música que não é marchinha a figurar no ranking nacional ficou na 20a posição e foi “Peguei um ita no Norte”, samba-enredo composto por Demá Chagas, Arizão, Bala, Guaracy e Celso Trindade para a escola de samba Salgueiro, do Rio de Janeiro, e também conhecida como “Explode coração” pelo refrão marcante.

 

Ranking nacional da década - músicas mais tocadas no Brasil em shows, trios elétricos, bailes, clubes, blocos, casas de diversão e demais eventos de rua no país entre 2010 e 2020:  

Posição

Música

Autores

1

Mamãe eu quero

Jararaca / Vicente Paiva

2

Cabeleira do Zezé

João Roberto Kelly / Roberto Faissal

3

Me dá um dinheiro aí

Ivan Ferreira / Glauco Ferreira / Homero Ferreira

4

A jardineira

Humberto Carlos Porto / Benedito Lacerda

5

Marcha do remador

Antonio Almeida / Castelo

6

O teu cabelo não nega

Raul do Rego Valença / Lamartine Babo / João Valença

7

Cidade maravilhosa

André Filho

8

Allah-la-ô

Antônio Nássara / Haroldo Lobo

9

Ta-hi

Joubert de Carvalho

10

Maria Sapatão

Carlos / Chacrinha / João Roberto Kelly / Leleco

11

Cachaça

Marinósio Filho / Heber Lobato / Lucio de Castro / Mirabeau

12

Vassourinhas

Batista Ramos / Mathias da Rocha

13

Saca-rolha

Zé da Zilda / Zilda do Zé / Waldir Machado

14

Mulata yê yê yê

João Roberto Kelly

15

Índio quer apito

Haroldo Lobo / Milton de Oliveira

16

Quem sabe, sabe

Jota Sandoval / Carvalinho

17

Marcha da cueca

Celso Teixeira / Carlos Mendes / Livardo Alves da Costa

18

Sassaricando

Mario Gusmão Antunes / Luiz Antonio / Castelo / Candeias Jota Jr.

19

Aurora

Roberto Roberti / Mario Lago

20

Peguei um ita no Norte

Arizão / Bala / Guaracy / Demá Chagas / Celso Trindade

21

Ilariê

Dito / Cid Guerreiro / Marlene Mattos

22

É hoje

Didi / Mestrinho

23

Vai com jeito

Braguinha

24

Turma do funil

U. de Castro / Milton de Oliveira / Mirabeau

25

Nós os carecas

Roberto Roberti / A.Marques Jr.

26

Tesouro de pirata

Ziriguidum do Marcelão / Fuzuê

27

Não quero dinheiro

Tim Maia

28

Caiu na rede

Waldemar Camargo / Vicente Longo

29

Sorte grande

Lourenço

30

Vou festejar

Jorge Aragão / Neoci / Dida

31

Pó de mico

Nilo Vianna / Dora Lopes / Renato Araujo / Arildo de Souza

32

Arerê

Gilson Babilônia / Alaim Tavares

33

Daqui não saio

Paquito / Romeu Gentil

34

Transplante de corinthiano

Gentil Jr. / Manoel Ferreira / Ruth Amaral

35

País tropical

Jorge Ben Jor

36

Balancê

Braguinha / Alberto Ribeiro

37

Superfantástico

Edgard Pocas / J Badia / Difelisatti

38

Na base do beijo

Rita Mendes / Alaim Tavares

39

Tindolelê

Dito / Cid Guerreiro

40

Zé Pereira

Agostinho Silva / Zé Pipa

41

Lepo lepo

Filipe Escandurras / Magno Santanna

42

Touradas em Madrid

Braguinha / Alberto Ribeiro

43

Praieiro

Manno Góes

44

Dança da mãozinha

Ziriguidum do Marcelão

45

Rebolation

Nenel / Leo Santana

46

Colombina yê yê yê

João Roberto Kelly / David Nasser

47

Dança do vampiro

Durval Lelys

48

O amanhã

João Sergio

49

De bar em bar, Didi, um poeta

Franco

50

Bota a camisinha

Chacrinha / João Roberto Kelly / Leleco

 

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