Especialista
explica que crianças de 0 a 6 anos devem receber estímulos adequados ao
desenvolvimento cognitivo e socioemocional
A
procura por escolas de educação infantil costuma ser dilema vivenciado por
muitas famílias, em especial as de primeira viagem. O mês de julho é ideal para
decidir em qual local a criança ficará após o período de férias ou início da
vida escolar. Aos seis meses, alguns bebês precisam contar com cuidados de
terceiros e, na hora de decidir onde matricular a criança, é fundamental
encontrar escolas adequadas ao desenvolvimento infantil. São diversos os
aspectos a serem observados ao escolher o local e a quem delegar a educação de
crianças de 0 a 6 anos.
A
pedagoga e especialista em Gestão Escolar Juliana Diniz, que atua como diretora
de Qualidade e Excelência do Grupo Vitamina, dono de 37 escolas de educação
infantil no Brasil, explica que a partir dos anos 90 o ensino ganhou
relevância ainda maior no país porque passou a integrar a Educação Básica, com
diretrizes mais amplas, em que os cuidados básicos com a criança - que
são essenciais - e a educação devem compor as estratégias educacionais.
Para
Juliana, os desafios atuais da educação nessa fase extrapolam os aspectos de
cuidados e assistência, que são indissociáveis ao ato de educar. A eles,
soma-se a necessidade da oferta de propostas pedagógicas que considerem a
criança e seu universo o centro do processo de desenvolvimento.
As
vivências, segundo ela, devem priorizar possibilidades de exploração do
cotidiano, de investigação e descobertas, para potencializar as aprendizagens e
construção de autonomia. Assim como garantir a integração da família no
processo - participando do centro e com comunicação genuína, oportuna e
bilateral com as equipes.
Confira
seis aspectos imprescindíveis a serem observados antes de matricular seu filho:
1
- Formação continuada de educadores - As famílias
precisam se assegurar de que a escola invista em educação continuada para os
professores. Observar essa questão faz diferença, segundo Juliana. Ela diz que
nos últimos anos há vastas pesquisas sobre novas metodologias e práticas mais
aderentes à forma de aprender das crianças dessa geração e, além disso, a
organização da educação no Brasil passou por recentes e importantes
atualizações com a nova BNCC. A escola deve garantir espaços formativos
contínuos, que aprimorem a atuação docente. Abordagens que vão desde
capacitações em primeiros socorros, como ajudar uma criança engasgada, até
aprofundamento sobre a ciência da aprendizagem e do desenvolvimento infantil.
Juliana ressalta que o espaço deve ser rico em possibilidades e, acima de tudo,
seguro, principalmente do ponto de vista da estrutura física, já que a faixa
etária exige atenção. “Crianças de 0 a 6 anos estão em processo de construção
de autonomia e precisam de espaços e cuidados seguros. Para isso, os profissionais
devem estar preparados para lidar com situações que são comuns ao cotidiano
dessas crianças, como quedas ou engasgos”, enfatiza. Nas escolas do Grupo
Vitamina todos os educadores têm capacitação em primeiros socorros, com
aprendizados, por exemplo, sobre manobra para desengasgar crianças em situações
de perigo.
2
- Proposta Pedagógica - A proposta educacional da escola é
outro fator a ser considerado, já que a prática do dia a dia deve ser a mesma
declarada pela equipe pedagógica. “Cada uma tem sua concepção, suas fortalezas
e oportunidades. O mais importante é que os responsáveis tenham a convicção da
coerência entre o que a instituição declara ser e o que é na prática”, diz
Juliana. Uma forma de checar esse aspecto é visitar a escola e observar a
organização do espaço: têm espaços de convivência? As crianças estão brincando?
Estão felizes? As atividades que praticam são de repetição/instrução ou são
atividades de criação, investigação? Nas salas têm espaços variados para os
interesses das crianças ou são mesas e cadeiras em fileiras com o professor no
centro? As paredes das escolas são lugares vazios? Cheios de produção de
adultos? Ou é o espaço para expor o criação e construção das crianças? Observar
o clima da escola e como o espaço está organizado é um bom começo.
De
acordo com a especialista, estudos atuais apontam que as crianças aprendem mais
e melhor quando protagonizam experiências ricas e intencionais. “Quando o
ambiente for excessivamente fabricado por adultos, com materiais muito estruturados,
há sinais de que a criança não é o centro do processo, por exemplo. É relevante
fazer escolhas em que os valores institucionais dialoguem com os valores da
família, afinal, a parceria entre ambas será determinante para o pleno
desenvolvimento da criança”. Outro aspecto valioso é conhecer como a rotina na
escola é criada e valorizada. A organização do tempo diário é fundamental para
a formação das crianças “A rotina clara e intencionalmente programada é
condição para a desenvolvimento de crianças seguras e autônomas”, destaca
Diniz.
3
- Espaço desenhado para o aprendizado - O espaço
precisa ser estimulante a descobertas, onde as crianças possam criar, construir
e testar suas hipóteses. Segundo Juliana Diniz, as crianças precisam de espaços
planejados para explorar e criar, cheio oportunidades de aprendizagem. “Os
pequenos necessitam de locais que privilegiem a brincadeira e o fazer, a
relação com a natureza. Acredito que o espaço também educa. Quando
intencionalmente preparado, pode ampliar as experiências sensoriais, a
criatividade e as experiências emocionais e relacionais”, afirma. A
especialista acrescenta que é essencial o espaço, como ambiente de modo geral,
ser devidamente preparado para que a criança se sinta bem, segura com o outro e
com ela mesma. “O início da jornada escolar é disruptivo, porque a criança sai
do seu núcleo familiar e começa a sua inserção em uma vida em sociedade, em
grupo. Nesse momento, ela precisa ser permeada por uma série de cuidados de
integração, de socialização, de inclusão e, sobretudo, em prol do
desenvolvimento de competências socioemocionais. Por isso, o ambiente tem de
proporcionar experiências colaborativas, de grupo, em que a criança possa ter a
oportunidade de aprender a viver com o outro”, destaca.
4
- Relações de qualidade - Os pais precisam saber, de modo
evidente e explícito, o que são relações de qualidade. Juliana explica que é
preciso haver sintonia entre o que a escola e os pais acreditam. “Somos todos
seres dialógicos e com as crianças não é diferente. Elas precisam de um
ambiente que favoreça a troca, a convivência saudável e que, principalmente,
seja acolhedor e respeitoso. Para se assegurar de que a escola mantenha este
cuidado, Juliana diz que é preciso estar atento ao analisar o clima da escola,
que deve ser saudável, leve e inspirar confiança. “Esses são elementos menos
tangíveis à nossa percepção, mas com olhar sensível podemos ver como as
profissionais se tratam e como se dirigem às crianças, como lidam com o choro,
como a afetividade é parte da relação, e sobretudo, se os educadores têm
clareza de que as crianças devem ser atendidas em todas as suas necessidades”,
ensina.
5
- Nutrição como parte do processo - A alimentação tem papel
fundamental em todas as etapas da vida, especialmente nos primeiros anos, que
são decisivos para o crescimento e desenvolvimento pleno. Assim, é essencial
saber como é ofertada a alimentação, qual a qualidade do que é servido e como
funciona a rotina alimentar das crianças. O cardápio deve ser diversificado,
dando à criança a oportunidade de desenvolver um processo alimentar não
seletivo e rico tanto em micro quanto em macronutrientes. Juliana esclarece que
a boa escola segue alinhada às orientações da Sociedade Brasileira de Pediatria
e da Organização Mundial da Saúde (OMS), em que, por exemplo, crianças com
menos de dois anos de idade não devem ingerir açúcar nem sal. “É preciso
observar esses detalhes, fazer a escolha consciente e acompanhar a rotina de
alimentação na escola. Uma boa experiência nutritiva nos primeiros mil dias de
vida, por exemplo, potencializa muito o desenvolvimento humano", reforça a
especialista.
6
- Integração com a família: De acordo com Juliana Diniz, a boa
relação entre escola e família precisa estar presente em todo o contexto
educativo, afinal, é a ação conjunta e dialógica entre elas que vai
potencializar o desempenho social e cognitivo da criança. “As famílias devem
observar atentamente como a escola integra a criança no cotidiano dos pequenos,
de como se comunica, a transparência na relação e como viabiliza sua
participação ativa. Temos experiências incríveis nas quais as famílias são
convidadas a compor vivências, interagir diretamente na construção de
conhecimentos e valores.” Para a especialista, é importante que o trabalho
colaborativo seja focado em garantir integração constante com as famílias no
processo educativo e que assegure que a relação ativa com os responsáveis seja
pilar central para o desenvolvimento. “A vida no século 21 tem nos exigido cada
vez mais formação integral e complexa e, portanto, com competências que
extrapolam os aspectos cognitivos. É preciso que a educação escolar se
comprometa com a formação de crianças confiantes em si e no outro, que
desenvolvam ao máximo suas potencialidades, que sejam autônomas, criativas e
solidárias. E que principalmente, que tenham a capacidade de se relacionar
positivamente com o meio - social e natural”, finaliza Juliana Diniz.
Grupo Vitamina