Convido
o leitor a fazer um experimento, passe a língua na superfície dos dentes
naturais e perceba a textura lisa que eles possuem. Repita após ter comido uma
fruta ou tomado um copo de suco de limão ou laranja. Conseguiu perceber a
diferença? Antes liso e depois “áspero”?
Muitos de nós temos o hábito diário de consumir
alimentos ácidos e em grande quantidade. Refrigerantes durante as refeições,
café em reuniões ou intervalos, o tempero da salada com vinagre e limão e até
as inocentes frutas.
Ser saudável está se tornando prioridade na vida de
muitos e isso tem elevado o consumo de frutas em geral que, em longo prazo,
pode gerar desgastes incrivelmente agressivos em regiões específicas dos dentes
que ficam expostas em razão de diversos problemas. Esse desgaste é chamado de
erosão ácida.
Muitas vezes não percebemos quão ácidas algumas frutas
são, por exemplo, a maçã e a uva podem ter acidez semelhante à laranja, ou
mesmo a banana, que tem acidez equivalente a do tomate, que também é fruta.
Mas qual o mal dessas agressões? Basicamente, o dente é
composto por quatro estruturas: o esmalte, camada externa que fica
exposta na boca; a dentina, camada abaixo do esmalte; o cemento, camada
que reveste a raiz; e polpa, composto por nervos e vasos sanguíneos que
dão a sensibilidade aos dentes. O consumo de alimentos ácidos faz com que as
regiões de cemento e dentina expostas, se desmineralizem microscopicamente e,
após anos de agressão, gera cavidades. Os desgastes são nítidos e em quadros
avançados há a exposição e contaminação da polpa, necessitando de tratamento de
canal.
Para saber se possui problemas com erosão ácida, a
primeira forma é realizar o autoexame da boca, procurando por regiões
amareladas nas pontas dos dentes e buracos em regiões próximas à gengiva. O
sintoma mais comum desse tipo de agressão é a sensibilidade ao consumir
alimentos e líquidos gelados ou até mesmo ao puxar o ar pela boca. O grau de
intensidade da sensibilidade pode variar de acordo com o nível de desgaste,
proximidade com a polpa dentária e características pessoais. Em seguida, é
importante passar por avaliação odontológica para diagnosticar e tratar as
causas das exposições de raiz e dentina, como bruxismo, escovação agressiva,
periodontite, movimentação por aparelho dentário, perda de dentes ou
instabilidade de mordida e, assim, definir um plano de tratamento. O
acompanhamento com controle da alimentação, higienização adequada, uso de
cremes dentais específicos, restaurações e até recobrimento cirúrgico gengival,
são recursos utilizados a fim de impedir o contato dos ácidos com essas regiões
agredidas e diminuir os sintomas.
Algumas medidas podem diminuir a evolução do problema
como consumir menos alimentos ácidos e com menos frequência (no caso das
frutas); evitar vinagre e limão nas saladas; utilizar canudos para bebidas como
refrigerantes e sucos; fazer bochecho com água logo após o consumo de ácidos e
aguardar no mínimo uma hora para a escovação - escovar os dentes logo após
alimentação remove o restante de cristais que não foram removidos pelos ácidos.
A saliva possui uma função essencial na neutralização da acidez oral, chamado
de efeito tampão, assim recuperando parcialmente os minerais dos dentes em
cerca de uma hora.
Algumas doenças, chamadas de fatores intrínsecos,
também podem causar erosão ácida, como refluxo gastroesofágico, gastrite
crônica e transtornos alimentares, como a bulimia, podendo, também, desenvolver
sensibilidades.
É importante salientar que as frutas possuem valores e
propriedades nutricionais essenciais para nossa saúde, porém, o que vale é o
equilíbrio no consumo, sem exageros e sem esquecer de que nada substitui a
higienização com escova e fio dental.
Doutor Gregório T. P. Sagara - Consultor Científico da
SIN Implantes, graduado em Odontologia pela FOP-UNICAMP, residência em Cirurgia
e Traumatologia Bucomaxilofacial pelo Complexo Hospitalar Padre Bento de
Guarulhos.