Ação social visa a
arrecadar fundos para comprar e distribuir alimentos de alto valor nutricional
a comunidades carentes
A pandemia de Covid-19 agravou a crise econômica no
Brasil. Milhões de pessoas ficaram desempregadas e sem ter como se sustentarem
financeiramente, com dificuldades até para comprar alimentos. Com o intuito de
mitigar essa situação, pessoas físicas e organizações sociais doam cestas
básicas à população mais necessitada. A Associação Brasileira Low Carb (ABLC)
alerta, contudo para o baixo teor nutritivo dos alimentos presentes nessas
cestas, que são compostas em sua grande maioria por carboidratos refinados, entre
os quais açúcar, biscoitos, farinha de milho e trigo, fubá, macarrão etc. Em
suma, uma dieta propícia para o surgimento de doenças crônicas, como diabetes,
esteatose hepática e obesidade.
Nesse sentido, a ABLC está promovendo a ação social
Proteína Básica, cujo intuito é arrecadar fundos para comprar e distribuir
alimentos de alto valor nutricional a comunidades carentes. Conforme o médico,
diretor-presidente da ABLC, José Carlos Souto, na compreensão da entidade, a
cesta básica padrão apresenta deficiências de fontes de proteína de alto valor
biológico, por isso a associação pretende angariar e oferecer à população
alimentos como frango, carne e ovos.
A campanha surge como consequência dos valores da
entidade, entre os quais a responsabilidade social, que associação coloca em
prática suprindo às necessidades das pessoas referente a informações precisas e
científicas sobre saúde, alimentação e qualidade de vida. "Por causa da
situação atual do país, e detectando o baixo valor nutricional dos alimentos que
compõem a cesta básica tradicional, a diretoria da ABLC entendeu que, além do
papel informacional da instituição, fazia-se necessária uma ação
concreta", esclarece Souto. Para colocar em prática o projeto Proteína
Básica, a ABLC deseja contar com o auxílio da comunidade e de empresas
parceiras.
Souto faz questão de salientar que o objetivo da
campanha promovida pela entidade é complementar a doação de cesta básica
tradicional e não combatê-la. "Ela tem o seu papel e ainda que não
seja perfeita, quem não come há varios dias irá se beneficiar dela. A doação
desse tipo de cesta é, portanto, algo muito bem-intencionado", declara.
Alimentação rica em calorias e pobre em nutrientes
De acordo com o endocrinologista e
diretor-científico de medicina da ABLC, Rodrigo Bomeny, o Brasil vive um
paradoxo nutricional: a população está cada vez mais com sobrepeso e obesa,
contudo, os índices de desnutrição aumentam. "Isso acontece porque a
alimentação das pessoas é baseada em calorias vazias (carboidratos ultraprocessados
e açúcares), com baixa quantidade de nutrientes. Ou seja, trata-se de uma
alimentação com excesso de energia e falta de proteína", explica.
Essa alimentação de baixa qualidade, por sua vez,
acarreta uma série de problemas de saúde. "Diversos estudos indicam que a
deficiência de proteínas na dieta está associada a uma resposta imunológica
comprometida, bem como a um risco aumentado de obesidade e doenças metabólicas,
tais como diabetes", diz Bomeny. Por sua vez, é sabido que, além de
idosos, indivíduos portadores dessas doenças apresentam elevado risco de
desenvolver quadro mais graves da Covid-19, o que, por vezes, suscita a morte
desses pacientes.
Pesquisa realizada pela Universidade de Nova York
demonstra essa relação. O estudo analisou, entre março e abril de 2020,
informações sobre 4103 pacientes diagnosticados com Covid-19 da cidade
norte-americana, sendo que 44,6% tinham doenças cardíacas, 39, 8% apresentavam
obesidade e 31,8% sofriam de diabetes. Conforme o levantamento, do total de
infectados, 48,7% (1999) precisaram ser hospitalizados. Cruzando os dados de
todos dos pacientes, os pesquisadores chegaram a conclusão de que comorbidades,
entre as quais obesidade e diabetes, e idade são fortes preditores de
hospitalização.
O médico José Carlos Souto afirma que no Brasil há
uma estreita relação entre pobreza e doenças crônicas. Souto lembra que dados
recentes da Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por
Inquérito Telefônico (Vigitel), promovido pelo Ministério da Saúde, mostraram
que quanto menor for a escolaridade e renda, maior a incidência de sobrepeso,
obesidade e diabetes na população.
Não à toa a Covid-19 se torna mais letal à medida
que avança pelas áreas mais pobres do país. Na cidade de São Paulo, por
exemplo, levantamento realizado pela prefeitura municipal, com base em dados
coletados até 5 de junho, indica que as regiões periféricas das Zonas Norte e
Sul apresentam o maior número de mortes pela doença. Além de estarem sob
condições sanitárias mais precárias, o que enfraquece as medidas de prevenção
de contaminação pelo vírus, as pessoas residentes nestas localidades também
apresentam saúde debilitada, muitas vezes ocasionada por um alimentação de
baixo valor nutricional.
É justamente esta população que é alvo das campanhas
de doação de cestas básicas típicas, cuja composição é formada em sua grande
maioria por carboidratos refinados, que levam, conforme o diretor-presidente da
ABLC, ao consumo excessivo de calorias com deficiência de nutrientes, e a baixa
ingestão de ´proteína de alto valor biológico. "O maior problema
nutricional de países como o Brasil não é a desnutrição calórica nas camadas
menos favorecidas, e sim a desnutrição proteica", afirma.
Este é o motivo pelo qual a ABLC optou por
enfatizar em sua campanha de doação de alimentos o que julga ser a principal
deficiência nutricional em pessoas necessitadas: proteínas de boa qualidade.
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