Uma tribo indígena, sem contato com a civilização,
tem um padrão de consumo – logo, de bem-estar – exatamente igual ao padrão
proporcionado pela quantidade de frutas, animais e peixes que seus membros
conseguem coletar, caçar e pescar. Se essa tribo tiver conhecimento de
agricultura, ela poderá obter também milho e mandioca e melhorar seu padrão de
vida conforme o produto de seu próprio trabalho e de sua eficiência produtiva.
O padrão de vida da tribo será igual à produção
feita por metade de seus membros, pois em geral nos agrupamentos humanos – uma
tribo, uma comunidade, uma nação –, metade dos membros não são aptos a
produzir, embora sejam consumidores; são as crianças, os doentes, os idosos, os
aposentados, etc. Com um país não é diferente, ressalvadas algumas complicações
decorrentes da complexidade de sua economia em razão da tecnologia e do imenso
número de itens de bens e serviços.
Como o país é mais complexo que uma tribo, existem
as leis de convivência social, o Estado e seu braço executivo, o governo, as
estruturas burocráticas, os palácios, as mordomias, as sinecuras e todo aparato
estatal dos três poderes.
Para sustentar tudo isso, o governo é autorizado a
“tomar” uma parte do que é produzido pelos habitantes e, no Brasil, essa fatia
já passa dos 35%, que é carga tributária para pagar os serviços coletivos
(justiça, segurança, saúde, educação, defesa nacional etc.), os investimentos
públicos e distribuir um pouco aos pobres em forma de programas sociais. Mas os
homens da máquina governamental são espertos e primeiro pagam a si mesmos,
geralmente com salários, vantagens e aposentadorias a valores médios maiores do
que os valores médios da população.
Pelas razões acima, o Instituto de Pesquisa
Econômica (Ipea), órgão do governo federal, já publicou estudos mostrando que o
setor público piora a distribuição de renda. Outro ponto é o seguinte: imagine
que os membros da tribo possam se aposentar com idade de 53 anos e vivam 75
anos na média; logo, recebendo durante 22 anos a mesma cota de comida que
tinham quando trabalhavam. Se a produtividade (produção por hora de trabalho)
for sempre a mesma, o padrão de vida cairá. Assim é a previdência social.
Essas lições simples de economia – que, para
conhecer, é necessário estudar – estão na base das políticas e ações para
superar a ineficiência produtiva, consertar os dois sistemas de previdência e
vencer a pobreza. Infelizmente, os membros do parlamento, com as exceções de
praxe, não revelam conhecimentos dessas questões, e a maioria parece nem se
interessar muito em estudar, pesquisar e aprender.
Certa vez disseram a Derek Bok, professor de
Harvard, que a educação estava cara, ao que ele respondeu: “Se você acha que a
educação é cara, experimente a ignorância”. Pois o Brasil vem fazendo isso há
muito, e o ônus da ignorância aí está. Um país rico de recursos (naturais) e
pobre de riquezas (recursos transformados em artigos consumíveis).
José Pio Martins - economista, reitor da
Universidade Positivo.
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