Aumento dos
sintomas do transtorno alimentar está relacionado ao uso excessivo da mídia
social
Pesquisa que relaciona o uso excessivo do Instagram
com o aumento dos sintomas de Ortorexia Nervosa – a obsessão por comer
alimentos saudáveis – foi apresentada e analisada durante a 21º edição do
Congresso Brasileiro de Nutrologia, em São Paulo. A pesquisa foi conduzida por
especialistas de Londres (Inglaterra) e publicada em junho no periódico
mundialEating and Weight Disorders. No Congresso, a médica nutróloga e Diretora
do Departamento de Transtornos do Comportamento Alimentar da Associação
Brasileira de Nutrologia - Abran, Dra. Maria Del Rosario, ministrou uma aula
sobre a pesquisa que demonstrou a mudança do comportamento alimentar de
mulheres que acessaram redes sociais.
Entre outros aspectos, o estudo realizado
exclusivamente com quase 700 mulheres - o maior número de participantes com 24
anos e IMC de 22,14 (peso ideal) - comprova que acessar o Instagram por mais de
30 minutos em exposição a imagens de alimentos saudáveis aumenta
consideravelmente os sintomas de ortorexia nervosa. "Conversar sobre
alimento saudável é muito bom, mas tornar isso uma obsessão pode prejudicar a
saúde física e o comportamento social da pessoa, e ainda pode se transformar em
uma doença.
Em consultórios, vemos muitos casos que as pessoas são inspiradas
por blogueiras fitness e consideram como ideal o prato "saudável"
apresentado por determinadas personalidades do mundo digital. Isso é
preocupante pela disseminação de informações sem evidências científicas e que
podem provocar prejuízos à saúde de pessoas de grupos mais vulneráveis",
afirma a médica nutróloga.
O aumento de risco de ortorexia nervosa não está
relacionado à opção nutricional. "O que precisamos desmitificar é que uma
pessoa vegetariana não é ortorexa ou possui um distúrbio alimentar", diz a
médica nutróloga. Na pesquisa, 28% das mulheres eram veganas, 24% onívoras e
12% vegetarianas.
"Com esse estudo, pudemos começar uma
discussão sobre o papel desempenhado pelas mídias sociais modernas no início e
na progressão dos principais transtornos alimentares, como anorexia, bulimia e
a própria ortorexia nervosa" completa Dra. Maria Del Rosário.
Seriam as redes sociais os novos prescritores de
dietas?
De acordo com a Dra. Maria Del Rosário, o "uso
das redes sociais está em crescimento e o que mais nos preocupa é a questão da
saúde mental", afirma. Além disso, ela lembrou que de ano em ano surgem
novas dietas para seguirmos: "Já tivemos dietas sobre chá verde, quinoa,
óleo de coco, ração humana, chia, suco verde, entre tantas outras. Contudo, a
velocidade e a exposição de conteúdos trazidas por algumas blogueiras, muitas
vezes sem nenhum apoio científico ou médico, pode levar as pessoas à uma
alienação", diz a diretora da ABRAN.
A médica nutróloga cita o exemplo da disseminação
da Placentofagia pelas redes sociais. A placentofagia é a nutrição a partir da
placenta do recém-nascido, prática comum entre os animais mamíferos – mas pode
apresentar riscos à saúde. "Vimos no Brasil e nos Estados Unidos um grande
crescimento da placentofagia entre os humanos, incluindo venda de cápsulas de
placenta.
Mas até qual ponto isso é saudável? ", indaga e comenta de uma
recente revisão científica com ausência de benefícios clínicos associados a
essa prática.
Essa questão foi levantada por um alerta do Centro
de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos, publicado, em 28 de agosto
no American Journal of Obstetrics & Gynecology. O comunicado foi gerado a
partir de um caso de um bebê que apresentava grande resistência a uma sepse –
conjunto de graves manifestações em todo o organismo produzidas por uma
infecção. Após investigações clínicas, foi descoberto que durante a gravidez a
mãe havia ingerido cápsulas de placenta contaminada pela bactéria Streptococcus
do grupo B. O órgão regulador norte-americano recomendou que os médicos
desestimulem o uso dessas cápsulas e a placentofagia em função do alto risco de
contaminação de mães, crianças, e fetos em desenvolvimento.
ABRAN – Associação
Brasileira de Nutrologia
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