Pesquisar no Blog

quarta-feira, 18 de outubro de 2017

Combate à pirataria ganha força com grandes operações e apoio do setor de licenciamento



 Receita Federal conduz grandes apreensões em portos brasileiros e, em parceria com a Prefeitura de São Paulo, no comércio da cidade; empresas combatem a pirataria através do licenciamento de marcas e personagens


Uma série de operações da Receita Federal, em parceria com a Prefeitura Municipal de São Paulo, vem apreendendo, desde agosto, uma enorme quantidade de produtos pirateados na capital paulistana, e em portos das regiões sul e sudeste do Brasil – Itaguaí, no Rio de Janeiro; Paranaguá, no Paraná; e Santos, em São Paulo. As ações interceptaram um total de mais de 150 contêineres, grande parte deles vindos da China e de países do sudeste asiático.

Entre os itens apreendidos estavam mais de 8 toneladas de produtos da personagem Ladybug, da popular série de animação nipo-franco-coreana “Miraculous – As Aventuras de Ladybug”, como brinquedos, maquiagens e roupas. 

Casos como esse acontecem com indesejável recorrência e servem como indicadores da dimensão da pirataria no Brasil. Apenas em 2016, a pirataria e o contrabando causaram prejuízos na ordem de R$ 130 bilhões para o País, segundo levantamento do Fórum Nacional Contra a Pirataria e a Ilegalidade (FNCP). 

Além disso, uma pesquisa realizada em 2015 pelo Ibope, por encomenda da Confederação Nacional da Indústria (CNI), revelou que 71% dos brasileiros adquirem produtos piratas e imitações de marcas famosas, dado que destaca a aceitação do crime de pirataria por parte da sociedade. 

Para Marici Ferreira, presidente da Associação Brasileira de Licenciamento (ABRAL), instituição sem fins lucrativos que defende a legalidade do mercado e desenvolve campanhas de conscientização acerca do tema, essa sensação de normalidade é fruto da falta de entendimento das consequências que envolvem a prática do crime, sejam socioeconômicas, éticas ou até mesmo ambientais. “Quando a sociedade em massa decide normalizar e apoiar o crime organizado ao consumir conscientemente um produto pirata, ela passa a viver num eterno contrassenso moral”, comenta.

Sabrina Freitas, gerente de novos negócios e licenciamento do Gloob, empresa detentora dos direitos da Ladybug no Brasil, alerta para os problemas que acompanham os produtos pirateados: “O Gloob se preocupa em desenvolver produtos de qualidade, seguros, esteticamente atrativos e alinhados com o posicionamento de cada uma de suas marcas. Em contraponto, os produtos piratas, com uma produção de baixa qualidade e sem nenhum tipo de controle, levam ao mercado itens mal executados e, muitas vezes, com erros grosseiros em relação à narrativa e à estética dos programas”.

Ainda mais grave é o risco para a saúde do consumidor, especialmente em relação aos itens voltados ao público infantil. “Muitas vezes, são produtos revestidos com tintas que contêm metais pesados e cancerígenos, como cádmio, chumbo e mercúrio, peças e cabelos que se soltam com facilidade, plástico de má procedência, além de ignorarem qualquer critério de qualidade e não possuírem nenhum tipo de certificação do Inmetro. É inquestionável o perigo que a pirataria representa para as crianças. E, para nós, a qualidade e a segurança dos produtos são a maior preocupação”, salienta Sabrina.


Armas para o combate

De acordo com o Dr. Márcio Costa de M. e Gonçalves, diretor adjunto da CIESP/FIESP, sócio do Escritório Siqueira Castro Advogados, Presidente do Instituto do Capital Intelectual (ICI) e diretor jurídico da ABRAL, a melhor forma de combate à pirataria passa pela integração entre políticas punitivas mais rígidas e a conscientização da sociedade. 

“Deve haver um equilíbrio entre repressão e educação. O consumidor precisa ser advertido que, por trás desses produtos, estão organizações criminosas que também atuam com drogas, armas e munições”, ele afirma. “Então, é preciso saber que, ao buscar esse tipo de comércio, o cidadão está contribuindo para o aumento da violência, a diminuição na arrecadação de impostos e a falta de empregos”.

Considerado pela Interpol o delito do século 21, a pirataria ainda é amplamente difundida do Brasil, entretanto, Gonçalves acredita em uma mudança nesse estado de coisas. “As recentes ações da Receita Federal e da Prefeitura de São Paulo, em pontos emblemáticos de venda destes ilegais produtos, estão trabalhando com inteligência ao cruzar informações entre as apreensões nos portos e as redes de lojas que levam esses produtos para o consumidor. Há algumas semanas, também vimos o fechamento do Shopping 25 de Março, tradicional polo de mercadorias pirateadas de São Paulo”, observa.

O advogado ressalta que comprar mercadoria falsificada também pode ser considerado crime de receptação, e poderia levar o consumidor à prisão, mas que o melhor caminho é apostar em conscientização para reverter a cultura de aceitação da prática. “Temos que bater forte nos importadores, fabricantes e distribuidores de produtos piratas, em uma guerra sem tréguas”, arremata Márcio Gonçalves.


O caminho legal

Diversos exemplos provam que a alternativa legal é o melhor caminho a se seguir. Um deles é a Sulamericana Fantasias, líder no mercado interno de fantasias e acessórios. Dona de uma história que já ultrapassa 21 anos, a empresa comercializa produtos licenciados e de qualidade comprovada pelas certificações Inmetro, ISO 9001 e ABVTEX.

O presidente Kiko Smitas lembra que até meados dos anos 1990 a Sulamericana trabalhava com importações, mas logo identificou um mercado com potencial para fabricar suas próprias peças. Aproveitando sua experiência prévia na indústria de confecção, ele apostou na força dos produtos exclusivos para investir em contratos de licenciamento de marcas como Warner, Mattel, Cartoon Network, Nickelodeon, Sanrio e Globo Marcas.

Com o tempo, o número de licenças e a linha de produtos aumentaram, assim como o retorno financeiro dos investimentos feitos pela empresa, que buscou espaço em diversos canais de distribuição, como lojas de fantasias, de brinquedos e de artigos para festas, lojas de roupas e e-commerces. 

“O licenciamento sempre esteve em nosso radar, pois desde o início tínhamos a ideia de agregar valor aos nossos produtos com a notoriedade dos personagens e marcas. Esse diferencial é muito importante para nossa atividade”, observa o empresário, que acredita que a pirataria é um problema que deve ser combatido em todas as esferas da sociedade, do poder público e das marcas até o consumidor.












Nenhum comentário:

Postar um comentário

Posts mais acessados