O cérebro das mulheres e dos homens é um só. É constituído
pelos mesmos grandes blocos. Já a intimidade das redes que conectam os
neurônios entre si revela uma outra história.
As mulheres são criaturas emocionais; os homens, seres
objetivos. Elas realizam multitarefas, ao passo que eles aprofundam o foco.
Tanto na esfera do trabalho como nas relações
interpessoais, um cérebro mais capacitado a entender o que se passa no do outro
leva vantagem. Por isso, há pelo menos quatro razões pelas quais o homem
deveria considerar expandir o seu “cérebro feminino”.
1. Criatividade
Estudos recentes revelam que os tentáculos dos neurônios
cerebrais da mulher têm longo alcance, com frequência conectando-se com
neurônios de áreas mais distantes, do hemisfério oposto. Para a mulher, esse
aspecto é importante por que a natureza a capacitou a poder fazer e pensar
outras coisas enquanto, por exemplo, estiver cuidando de seu bebê.
Homens criativos precisam de conexões deste tipo. Estudos
conduzidos na Universidade Northwestern, por John Kounios e Marc Beeman,
demonstraram que o momento do “Ahá!” das soluções criativas é precedido por um
pico cerebral de ondas gama, formada por ondas que alcançam 40 Hz de
frequência. O ritmo beta, por exemplo, que está ativo quando estamos ocupados
com uma tarefa importante como deslindar equações matemáticas complexas, tem
frequência entre 12 e 30 Hz. Já ritmo mais rápido gama sinaliza que uma ideia
nova está sendo formada porque um conjunto de neurônios de áreas distantes do
cérebro estabeleceu contato – o que não acontece meramente por acaso. Sem
essa articulação de redes formadas por neurônios distantes, algo que as
mulheres realizam com facilidade, ideias novas não surgem. A articulação entre
neurônios em departamentos diferentes é qualidade bem vinda para o cérebro do
homem.
2. Tintas emocionais
Mulheres transferem informações mediante a reprodução de
diálogos. Imagine a Vera e o Alcido chegando em casa. Ele diz “Encontrei a
Valéria, esposa do Agenor; ela me disse que em breve farão uma viagem ao
México”. Isso é bastante diferente do que dizer “Amor, encontrei a Valéria,
sabe, a mulher com quem seu amigo Agenor se casou recentemente, e ela me disse
bem assim: sabe Vera, estou tão feliz, o Agenor propôs que fossemos comemorar
nosso primeiro ano de casados na praia de Aruba, no México, o que você me diz disso?”.
Esse “O que você me diz disso?” pertence à reprodução do diálogo entre elas,
mas colocada dessa forma pode ser interpretada como uma sugestão de uma viagem
para Vera e Alcido. A reprodução de informações mantendo a estrutura do diálogo
em que elas foram geradas apresenta uma vantagem na forma da presença das
tintas emocionais que dão vida ao assunto. A reprodução sucinta, objetiva, as
remove. Usar desse expediente quando Alcido fosse falar com os colaboradores na
empresa seria uma forma eficaz de ativar a empatia – e a adesão -- da equipe a
uma nova ideia.
3. Empatia e perdão
A área cerebral evolutivamente mais recente chama-se de
córtex pré-frontal. Nessa região, desenvolvem-se qualidades humanas como o
planejamento de longo prazo, a moral e a capacidade de perdoar. Pesquisa
publicada em 2010 na Revista Latino-americana de Psicologia e
conduzida por pesquisadores espanhóis na Universidade do País Basco, demonstrou
que pais perdoam mais que os filhos e que as mulheres são mais inclinadas
a perdoar do que os homens.
Embora os motivos para essa diferença não sejam claras, uma
hipótese é que quando os neurônios do cérebro se articulam para tornar um
ressentimento “mais fácil de ser esquecido”, o perdão surge como uma
possibilidade. Por padrão educacional, as mulheres desenvolvem desde cedo a
qualidade da empatia, e por essa razão, perdoam mais facilmente. Como empatia é
uma qualidade exigida entre equipes de colaboradores nas empresas globais,
homens empáticos poderão ser levados a esquecer de ressentimentos passados.
Como diz o ditado, águas passadas não movem mais moinhos.
4. Descoberta pessoal
As organizações modernas exigem colaboradores com
flexibilidade social. O Google criou uma forma de educação continuada
para seus funcionários para que eles pudessem desenvolver qualidades emocionais
e maior convivência entre equipes. Levou vários anos para que a experiência
pudesse ser desenvolvida, mas deu tão certo que o programa Search Inside
Yourself (Procure Dentro de Você Mesmo) é um sucesso marcado por
entrosamento entre colaboradores, muitos depoimentos de crescimento pessoal e
uma maior produtividade empresarial.
Mais inclinadas aos relacionamentos pessoais por natureza,
as mulheres veem nas relações de trabalho uma forma de por em prática recursos
emocionais. Elas percebem que a organização lhes dá a oportunidade de pertencer
a uma equipe, conectar-se a outras pessoas na mesma situação que ela e entregar
resultados que possuem mais significado.
Homens, por outro lado, entendem que o local de trabalho é
um ambiente competitivo. Um estudo recente da Universidade de Chicago descobriu
que os homens são 94%mais propensos do que as mulheres para se candidatar a um
emprego cujo salário depende de sobrepujar algum colega de trabalho. As
conexões dos neurônios masculinos, sob a batuta da dopamina, encontram no
trabalho o fórum para aplicar habilidades, produzir resultados e bater
concorrentes.
Procure Dentro de Você Mesmo é uma
ferramenta feminina que, quando bem utilizada por mulheres e homens, conduz a resultados
incríveis. Vale a pena tentar.
Dr. Martin Portner - Neurologista e Mestre em Neurociência pela
Universidade de Oxford e especialista em Mindfulness. Há mais de 30 anos divide
suas habilidades entre atendimentos clínicos e palestras, treinamentos e workshops
sobre sabedoria, criatividade e mindfulness. www.martinportner.com.br
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