Entre os sentimentos do povo
brasileiro, revelados nas ruas, no dia 13, enquanto expressão de um povo
altamente politizado, a ser mundialmente admirado, ao contrário do que sempre
foi correntio em nosso país, figura a frustração.
Frustração por ter conquistado com
igual desgaste a democracia, ante o regime militar, porém inautêntica em pontos
fundamentais. Como se sabe, há um "ranking" das democracias mundiais;
e figuramos entre as últimas.
É preciso conhecer, ainda que
superficialmente, suas virtudes e seus vícios para extirpá-los.
Entre as
primeiras, obviamente a primordial é a existência de uma Constituição Federal
que começa com a descrição dos direitos e garantias individuais, depois de
alguns prolegômenos de boas intenções. Parcialmente, a Constituição foi
cumprida nestes anos.
Como se vê da crise em que estamos
mergulhados, muito parcialmente. As medidas provisórias substituíram os
decretos-leis. Mudou-se o nome, mas o macaco continuou sendo um macaco.
Fernando Henrique Cardoso, não obstante sua formação acadêmica, delas usou e
abusou. O PT, com Lula e Dilma, autoritário de esquerda, foi ainda mais longe.
Da vontade monárquica de um único agente, Chefe de Estado e de Governo, uma
vontade normativa entra em vigor imediatamente. Um Parlamento dócil às aprova,
ainda que nas madrugadas, posto que os aleijões opressores travam as pautas.
Parlamentares ainda adicionavam medidas marotas, contrabandos, porque nada
tinham a ver com o objeto, os "jabutis", recentemente abolidos pelo
E. STF, em ação direta de inconstitucionalidade.
Um país que não produz suas leis pelo processo regular (projetos de lei apresentados por quem tem competência para apresentá-los, discutidos amplamente no seio do Parlamento e seus órgãos, votados nas Casas respectivas, se aprovados remetidos ao Chefe do Executivo para sanção ou veto, promulgação, publicação e ainda possibilidade de nova manifestação parlamentar em caso de veto), é só aparentemente democrático.
Um país que não produz suas leis pelo processo regular (projetos de lei apresentados por quem tem competência para apresentá-los, discutidos amplamente no seio do Parlamento e seus órgãos, votados nas Casas respectivas, se aprovados remetidos ao Chefe do Executivo para sanção ou veto, promulgação, publicação e ainda possibilidade de nova manifestação parlamentar em caso de veto), é só aparentemente democrático.
Medidas provisórias, diz o texto
constitucional, só cabem em caso de urgência e relevância. Nossa Suprema Corte
banalizou esses conceitos. Os administradores diretos e indiretos seguiram seus
passos, dispensando licitações indispensáveis e semeando corrupção
generalizada. Não foi democrático um país em que a corrupção correu solta.
Esta crise "institucional"
é crise da democracia. E não se transformam em democratas, de um dia para a
noite, inimigos da democracia, hipócritas a quem só falta à farda dos antigos
opressores. Logo, só mudam por força da coerção de novos parâmetros normativos.
A ideia que corre em comissão de
análise do Senado, a que muitos, por equívoco, consideram ideia de
parlamentarismo, num momento urgente, relevante e de comoção social, ainda que
mal inspirada, pode ser adotada,
posto que efemeramente, para nos
auxiliar a começar a superação da crise. Por força da
Carta Magna, que não
devemos arrostar, o impeachment leva ao poder o vice-Presidente, Michel Temer.
Independentemente do nome, é imprescindível racionalizar o exercício do cargo. A forma conhecida pelo direito constitucional
estrangeiro está em reduzir seus poderes. Um único homem não pode ser a um
tempo, Chefe de Estado e Chefe de Governo. Um Chefe de Estado, o Presidente da
República, não decorativo, deve fiscalizá-lo, sob atribuições bem definidas. O
uso e abuso de medidas provisórias o autorizaria a destituir o Chefe de
Governo. A má condução da coisa pública, principalmente quanto atestada por
amplas e memoráveis massas populares, idem. E novas eleições seriam convocadas.
Assim se dá em Portugal e França, exemplificativamente.
Como é cediço, há outros meios de
promovermos nossa plantação, depois de as ruas terem desbastado o terreno. O
voto distrital misto e o "recall", de tantas resistências pela
"classe" política. É claro que o povo nas ruas não clamaria por
essas mudanças institucionais, até por sua fraqueza de galvanização. Os
protestos são personalizados, mas as mudanças não podem ser feitas por meio de
remendos novos em tecidos rotos.
Amadeu Garrido de Paula - um renomado jurista brasileiro com uma visão bastante crítica sobre política,
assunto internacionais, temas da atualidade em geral. Além disso, tem um veio
poético, é o autor do livro "Universo Invisível".
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