Segundo a psicóloga Regina Tavares, para entender e combater o racismo, é
fundamental um olhar atento e com mais profundidade, individual, em cada um de
nós.
No mundo todo, a questão do preconceito racial vem
sendo bastante discutida, desde que George Floyd, um afro-americano de 46 anos,
foi morto pelo policial branco Derek Chauvin. A morte aconteceu no dia 25 de
maio, em Minneapolis, nos Estados Unidos, e desencadeou uma onda de protestos
nos EUA e em diversos países da Europa, Ásia e África- e também no Brasil. As
manifestações criticam a atuação da polícia dos Estados Unidos contra a
população negra e foram combatidas com violência pela própria polícia em
algumas regiões do país. Tudo isso levou a Organização das Nações Unidas (ONU)
a anunciar que deverá preparar um relatório sobre racismo sistêmico pelo mundo,
violações dos direitos humanos de africanos e pessoas de ascendência africana
por órgãos policiais.
“Sabemos que, para enfrentar o racismo no Brasil e em outros países, precisamos
de mais empatia, e isso vem sendo despertado em mais pessoas com esses recentes
acontecimentos pelo mundo”, afirma a psicóloga Regina Tavares. Segundo a
profissional, para entender e combater o racismo, é fundamental um olhar atento
e com mais profundidade, individual, em cada um de nós, buscando a nossa
essência mais íntima e distante das lentes sociais que, de alguma forma,
estabelecem determinados padrões na sociedade. Esse é um dos caminhos para que
sejam criadas novas políticas públicas de combate a qualquer tipo de
preconceito racial. “É também uma ponte que leva a uma parte da história social
que é, antes de tudo, individual, pois não existe o outro isolado. Existe o
nós, o todo”, acrescenta Regina.
O racismo pode ser analisado sob diferentes olhares. Conceitualmente falando,
racismo não é o mesmo que discriminação e preconceito. Preconceito é,
basicamente, julgar antes de conhecer a pessoa ou a situação em questão.
Discriminação é o ato de tratar as pessoas de um jeito diferente por motivos
diversos. Já o racismo, de acordo com o Michaelis Dicionário Brasileiro da
Língua Portuguesa, é a teoria ou crença que estabelece uma hierarquia entre as
raças (etnias); doutrina que fundamenta o direito de uma raça, vista como pura
e superior, de dominar outras; preconceito exagerado contra pessoas
pertencentes a uma raça (etnia) diferente, geralmente considerada inferior; e
atitude hostil em relação a certas categorias de indivíduos. Mas, do ponto de
vista psicológico, como compreender o racismo?
De acordo com Regina Tavares, uma forma de tentar entender as atitudes racistas
é a chamada “Lei do Espelho”, segundo a qual o que vemos na outra pessoa é, na
verdade, o nosso reflexo – ou, simplesmente, a forma como nos enxergamos. “Tudo
aquilo que eu julgo de negativo, ataco ou critico no outro está em mim”,
explica. Durante uma atitude ou um pensamento preconceituoso, por exemplo,
ocorre uma projeção psicológica do nosso inconsciente no outro que nos faz
supor que o motivo do nosso desagrado ao outro existe nele (às vezes somente
nele), e não em nós mesmos. A projeção psicológica nada mais é do que um
mecanismo de defesa do nosso organismo. Por meio dela, atribuímos a outras
pessoas sentimentos, pensamentos e crenças negativos que seriam completamente
inaceitáveis para o nosso consciente.
Existe em cada um de nós algo ligado ao medo ou à arrogância, por exemplo, e
que é disparado por um “gatilho” externo (uma situação, acontecimento ou
pessoa). Esse “disparo” libera a projeção psicológica nos momentos de conflito
emocional ou quando nos sentimos ameaçados de alguma forma. “Eu ataco no outro
aquilo que não consigo enxergar ou aceitar em mim. Por exemplo: uma pessoa que
está atacando um negro pode estar fazendo isso considerando que o negro é um
ser ‘inferior’ e, por isso, merece ser agredido. Pergunta: inferior em que
sentido? Inferior a que ou a quem? O atacante pode não ter a menor ideia de
como responder essas questões, pois construiu ao longo da sua vida uma série de
crenças a respeito da cor, associadas à ‘inferioridade’. Se esta pessoa
consegue enxergar qualquer tipo de inferioridade em outro ser humano e isso o
incomoda tanto, esta inferioridade está nele, de uma forma ou de outra”, diz
Regina.
COMO COMBATER O RACISMO?
De forma inconsciente, muitas vezes, uma pessoa pode estar expressando, por
meio do seu comportamento agressivo, um sentimento de inferioridade que tem com
relação a si mesmo - por ganhar pouco, não ter estudado ou não se considerar
importante, por exemplo. “Ao contrário disso, uma pessoa equilibrada, ainda que
detendo um infrator, não projeta nada seu no outro. No caso em questão, o
policial teria simplesmente algemado George, colocado no carro da polícia e
seguido diretamente para a delegacia”, destaca a psicóloga.
Em um caso como esse, que se repete tanto nos Estados Unidos como no Brasil,
entre outros países, a psicóloga considera fundamental entender o perfil
psicológico dos policiais que são encarregados de proteger as pessoas. Antes
mesmo de acontecer algo tão grave, é preciso que a instituição já possua um
perfil de todos os policiais que vão para as ruas, tendo conhecimento, por
exemplo, das limitações de cada um, dos seus traumas e medos que podem gerar ou
mesmo potencializar de forma exagerada situações de agressividade. “Mais do que
isso, será que a polícia está dando suporte psicológico aos seus policiais
antes de uma tragédia como essa e também depois que uma situação dessas
ocorre?”, questiona Regina. Segundo ela, a punição ao excesso de violência ou
ao preconceito é necessária, mas é igualmente importante oferecer capacitação
continuada a todos, acompanhar os policiais antes de um fato como esse
acontecer. “Esses cuidados terapêuticos preventivos para todos os policiais
podem salvar vidas”.
Segundo a psicologia, uma das soluções para combater o preconceito está dentro
de cada um de nós. Ao descobrir algo ou alguém que não aprovamos ou não
gostamos, devemos parar e fazer uma autoavaliação, refletindo sobre o que
realmente está nos incomodando fora de nós com relação aquela pessoa ou
situação. “O que em mim está me trazendo desconforto? A partir dessa reflexão
sincera, é possível ter uma visão mais abrangente da situação e muitos
preconceitos podem ser evitados”, complementa ela.
Regina Tavares desenvolve seu trabalho de atendimento psicoterapêutico junto
com uma orientação espiritual, unindo vários tipos de terapias para ajudar seus
clientes a eliminarem crenças, memórias, sentimentos e comportamentos
limitantes e, com isso, promoverem as mudanças necessárias em sua vida. Segundo
ela, uma das técnicas mais poderosas nessa missão, e que vale também para
eliminar as causas das questões que envolvem preconceitos, é o Ho’oponopono.
“Nem tudo se resume à psicologia. Quando se deixa de olhar para o ser humano
como um todo, incluindo o lado espiritual, a nossa avaliação fica limitada.
Sempre há mais coisas para se observar”, acrescenta. Na sua avaliação, do ponto
de vista espiritual, “amar ao próximo como a ti mesmo” é um preceito
fundamental para tudo fluir bem na vida. “Amar ao próximo não pode ser
entendido como amar aquele que te agrada, mas sim amar tudo que está próximo de
você: a natureza, os animais e as demais pessoas”.
Atitudes racistas também podem representar um claro sinal de falta de autoamor.
Uma pessoa que experimenta a desconexão com o amor interno pode exteriorizar a
destruição que há dentro dela em outras pessoas, coisas, animais e na natureza.
De acordo com Regina, no caso do racismo, há uma tendência negacionista por
parte da sociedade e do próprio Estado. “Essa característica de negar o racismo
é bem peculiar do processo histórico do Brasil, que sempre adotou posturas de
não reconhecer que há uma questão racial que é também social”, afirma.
O Ho’oponopono é uma terapia integrativa eficaz para resolver conflitos e
problemas emocionais que costumam ser os verdadeiros responsáveis por atitudes
de preconceito de qualquer tipo. “Por meio da prática regular do Ho’oponopono,
a pessoa consegue limpar memórias, crenças e sentimentos negativos sobre si
mesmo, impedindo-a de projetar sobre outras pessoas isso tudo, num momento de
conflito emocional, gerando não só racismo, mas outros tipos de desrespeitos”,
sugere Regina.
SOBRE O HO’OPONOPONO
O Ho’oponopono atual, trazido à modernidade pela kahuna (sacerdote)
havaiana, Morrnah Nalamaku Simeona, é uma terapia integrativa que começou a ser
difundida globalmente em meados da década de 1970. Sua prática simplificada
consiste em repetir as quatro frases “Sinto muito”, “Me perdoe”, “Te amo” e
“Sou grato” todas as vezes que sentir algum tipo de desconforto e, assim,
realizar a limpeza mental e emocional de padrões tóxicos dentro de si mesmo,
limpando memórias negativas e atingindo a paz mental.
REGINA
TAVARES - psicóloga clínica
e organizacional, master coach, pós-graduada em psicologia positiva e coaching,
tem especialização em hipnose Ericksoniana e Dinâmicas Sistêmicas de
Constelação. É, também, facilitadora de grupos de crescimento pessoal,
practitioner em PNL, terapeuta homeopata com foco na abordagem psicossomática e
tem especialização prática no processo de cura havaiano Ho’oponopono. Regina
Tavares foi uma das principais responsáveis pela introdução e difusão do
Ho’oponopono no Brasil nos últimos 12 anos, e conta com um extenso registro de
resultados surpreendentes em clientes do Brasil e do Exterior. Atualmente, em
sua rotina de trabalho, Regina realiza cursos, palestras, seminários,
atendimentos de coaching e psicoterapêuticos e produção de conteúdos
relacionados ao seu trabalho - só no YouTube, ela soma quase meio milhão de
seguidores.
Instituto Aum - Centro de Desenvolvimento da Psique