É interessante a
visão que alguns profissionais ainda têm em relação ao líder. Para eles, os
altos executivos já atingiram 100% de suas habilidades, do conhecimento e da
capacidade técnica, intelectual e da vivência que necessitam para realizar o
trabalho que lhes é designado. Como eles ocupam altos cargos, sendo responsáveis
por gerir grandes equipes e projetos que envolvem milhões de dólares e de uma
complexidade monstruosa, em alguns casos, são vistos como seres diferentes de
outros profissionais.
Essa impressão é
um pouco romanceada. Os líderes, é claro, não ocupam o cargo em que estão à
toa. Sem dúvida, a experiência que possuem faz com que eles sejam diferenciados
e consigam direcionar o trabalho ao objetivo, com foco, disciplina e dinamismo.
A capacidade intelectual, obtida pelo estudo, e a técnica, conquistada pela vivência,
também são fundamentais para colocá-los na posição de liderança, mas, posso
afirmar que o líder é o profissional que aprende a cada projeto e tira lições
de tudo o que vive – seja bom ou ruim – para aplicá-las em prol de seu
desenvolvimento e do aprimoramento de sua equipe.
Exemplifico: o ano
de 2017 foi muito desafiador, porque fui chamado a participar da concretização
de um projeto multidisciplinar relacionado, resumidamente falando, a uma
modalidade de financiamento envolvendo Brasil, Japão, Moçambique, Malawi,
Inglaterra e África do Sul. Foram cinco anos de trabalho da equipe, até que
fosse assinado um contrato de 2,7 bilhões de dólares. O projeto envolveu uma
centena de profissionais, uma dezena de bancos e exigências financeiras de
todos esses países envolvidos, além da logística de transportar 11 milhões de
toneladas de carvão a distâncias intercontinentais. Como líder do último ano de
um projeto de tal envergadura, me vi em um ambiente novo, com desafios
distantes da minha realidade profissional, e inserido num contexto que já
estava instalado. Foi necessário ganhar a confiança daquela equipe e fazer com
que ela percebesse que eu era a pessoa certa para comandá-la. A complexidade de
liderar essa equipe já formada e de construir com ela um relacionamento foi
grande e me vi completamente dependente da comunicação e do pragmatismo para
alcançar os objetivos. Eu precisava disponibilizar as ferramentas que a equipe
necessitava para que ela entregasse mais e, em contrapartida, ela devolvia a
ajuda que eu tanto necessitava para que o resultado chegasse no prazo e com a
qualidade que todos esperavam.
Uma das maiores
lições que aprendi com esse trabalho foi justamente a de pedir e aceitar ajuda.
Sem determinar as prioridades, diante de tantas demandas, não conseguiríamos
dar conta, então, foi necessário realmente delegar e determinar quem teria as
competências necessárias para entregar o que era preciso. Como líder, fico
extremamente satisfeito em mostrar a minha equipe que preciso de ajuda.
Aprender a ser ajudado é uma forma de vantagem competitiva no mundo de hoje.
Outro aprendizado
deste projeto é que, quando você faz mais do que acha que tem que fazer, o
objetivo fica menos distante. Mesmo com tudo planejado, cada membro de sua
equipe precisa ser motivado a fazer mais do que deve fazer, do que acredita que
pode e sabe fazer. Não se trata de explorar, no sentido pejorativo da palavra,
os profissionais, mas, sim, de desafiar a criatividade, o dinamismo, o
potencial de cada um para que todos formem realmente uma equipe muito mais
harmônica e engajada.
Nós realmente
conseguimos alcançar esse objetivo. Tanto é que a empresa foi premiada, no
final do projeto, pelo resultado alcançado. Muito mais motivados e unidos, os
membros da equipe comemoraram o sucesso e iniciaram o ano prontos para novos
desafios. Eu, como líder, aprendi também.
Marcelo
Tertuliano - Administrador de Empresas, com 22 anos de experiência na função
financeira, dos quais, 15 anos em posições de liderança. Atualmente está à
frente da área financeira de uma grande mineradora em Moçambique. É um
estudioso do comportamento empresarial mundial.
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