“A culpa por nosso país estar assim é nossa. Nós permitimos que fizessem
o que quisessem com o nosso país. Os valores acabaram”.
As
imagens do êxodo venezuelano para o Brasil não deixam dúvidas. Também
corroboram minha convicção os relatos pessoais colhidos entre os retirantes que
já fazem da capital de Roraima, Boa Vista, uma metrópole bilíngue onde mais de
10% da população se esforça para aprender português. Estamos falando de 40 mil
“coxinhas”, inconformados com o “sucesso” do comunismo que vem sendo implantado
em seu belo e rico país pelas mãos dos crescentemente brutais governos
chavistas. Dormem nas praças, compactam-se às dezenas nos dormitórios, têm
fome.
A professora Marjorie González, autora da
declaração transcrita acima, exagerou um pouco a responsabilidade desse povo.
Acertou inteiramente quanto ao que aconteceu com os valores morais nos estágios
que deram gradualismo ao golpe comunista. Acertou quando referiu a tolerância
indispensável ao sucesso da empreitada chavista. Mas não me parece adequado
culpar o povo quando o modelo político favorece tanto a vida eleitoral de
demagogos e populistas. Nesse particular são incorrigíveis, no médio prazo, as
fragilidades da América Ibérica, com suas péssimas instituições. Nos últimos
cem anos, uma lastimável trajetória foi empilhando os malefícios do
caudilhismo, do coronelismo, do populismo, até chegar, no Brasil, ao
coronelismo de Estado, esquerdista e ladravaz; e, na Venezuela, ao comunismo
chavista, que encontrou em Maduro sua pior versão. Quando mais precisávamos de
seriedade e correção de propósitos, a desgraça socialista nos chega em forma de
messianismo, com tipos como Chávez e Maduro na Venezuela. E com Lula no Brasil.
Pelas minhas contas, a Venezuela é o 39º país a
afundar na miséria tentando implantar um regime comunista. Não há relato de
sucesso. Nenhuma democracia. Nenhuma economia que se sustente. Assim como o
Ibis Sport Club é o “pior time de futebol do mundo”, o comunismo é o Ibis dos
regimes políticos. Dos que ficaram submetidos a essa experiência, apenas Cuba,
Coreia do Norte, China, Vietnã e Laos ainda não conseguiram sacudir os grilhões
do Estado totalitário, embora os três últimos estejam abrindo suas economias.
Entre os outros 34 não se registra caso de reincidência. Nenhum chamou os
comunistas de volta. As pessoas aprenderam que quando as vacas passam à
propriedade do Estado, tornando-se servidoras públicas, deixam de produzir
leite. Perceberam que, por um mistério da genética animal, a carne de gado
estatal vira gororoba de soja. Descobriram
que, num efeito de prestidigitação, enlatados e embutidos saem das prateleiras
do comércio e reaparecem nas geladeiras e despensas da nomenclatura. Viram, em
toda parte, as vitrines se esvaziarem e o bem estar sair da vida das pessoas,
mudar de substância e aparecer impresso em outdoor do governo.
O êxodo dos venezuelanos vem em boa hora. O ano
é eleitoral e não há palavras mais convincentes do que o exemplo, em desespero,
entrando pela nossa porta sem pedir licença. Há no Brasil microfones, canais de
TV, emissoras, comunicadores, púlpitos, políticos, fundações internacionais a
serviço das mesmas causas que empurraram a Venezuela para o abismo.
Percival Puggina - membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.
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