Passados
os festejos de final de ano, as férias de verão e o carnaval, aparentemente, as
pessoas assumem uma postura mais séria e se voltam para os problemas do cotidiano.
É comum ouvir dizer: agora o ano começou!
Este ano favorece a reflexão sobre
alguns temas que, na minha opinião, devem ser sopesados pela sociedade como um
todo, sobretudo quanto ao pleito eleitoral que se avizinha.
É inegável que há algum tempo o país
vive momentos de transformação. A mídia tem revelado que os princípios da
democracia são aviltados por comportamentos inadequados daqueles que mantêm
relações próximas ou exercem o chamado poder político e, aproveitando-se dessa
situação, favorecem a corrupção, o tráfico de influência, os rombos nas contas
públicas etc., subvertendo com tais atitudes os valores morais e éticos que
devem nortear a vida do indivíduo em sociedade.
Desta maneira, o pleito eleitoral que
se realizará neste ano propicia uma grande oportunidade para que todo cidadão,
ao exercer seu dever-poder de votar, participe do processo de aprimoramento do
sistema social e político, sobretudo, porque a todos será dada a chance
de se manifestar, de se posicionar quanto aquilo que deseja para si e,
sobretudo, para o país.
Nas democracias o governo é escolhido
pelo povo e em seu nome deve ser exercido, simplesmente porque o povo é
soberano em suas vontades. Nesse passo, o exercício da cidadania deve ser
responsável e consciente, notadamente em relação à escolha daqueles que
irão conduzir o poder político da nação.
É de se ter sempre em mente que essa
responsabilidade é intransferível e que a má escolha, inevitavelmente, resulta
em representantes inconsequentes que continuarão a fazer triunfar os vícios e
as nulidades que desnorteiam as gerações forjadas em valores corrompidos.
Mais do que simplesmente criticar e se
envergonhar da forma como parte dos políticos tratam a coisa e o interesse
públicos, muitas vezes desvirtuados e desconsiderados em prol de conveniências
personalíssimas ou de alguns poucos, é preciso compreender que cada cidadão tem
a ferramenta para coibir a ação daqueles que maculam os bons costumes, as leis
e a representação que lhes foi outorgada, ao utilizarem instrumentos de
corrupção, da mentira e da fraude para obter vantagens ilícitas e indevidas.
Aliás, urge que essa reflexão seja
feita para que se crie consciência de que o povo, a população, cada cidadão,
pouco importando sua condição social, é imprescindível na formatação de uma
sociedade mais justa e que busca a construção de uma ordem social que valorize
a ética, a moral, que leve em conta os princíprios cristãos e, como finalidade,
privilegie o bem comum.
Daí a importância de que todas as
pessoas se conscientizem da sua fundamental importância no exercício da
cidadania, do voto consciente, porque a omissão ou a eventual escolha
incorreta, inevitavelmente, acarreta problemas de grande monta para toda
sociedade.
Se enfrentamos - e enfrentamos -
dificuldades com aqueles que exercem a representação política, seja no poder
executivo como no legislativo, é porque as individualidades não têm dado o
devido valor ao ato de escolher quem deve desempenhar o dito poder político.
Todo cidadão - aqui como um dever, uma
obrigação - precisa ter consciência de que é artífice na construção do bem
comum e que isso, repita-se, irremediavelmente, passa pela escolha responsável
de quem o representará.
Simplesmente porque todos são
partícipes na construção de uma mentalidade mais coerente, é por isso que neste
momento de crise institucional e, sobretudo, moral e ética, somos chamados à
responsabilidade individual e coletiva.
Todo cidadão tem a oportunidade de
influenciar de modo significativo no coletivo, ajudando na transformação da
sociedade e do Brasil, influenciando para que a ordem social seja fundada na
justiça e na solidariedade, notadamente ao escolher o justo para governar,
dando vida e vivenciando o ensinamento bíblico, portanto, milenar, expresso em
Provérbios 29:2 que diz: “quando o justo governa o povo se alegra”.
Com coerência filosófica e política
Rousseau afirmou que “o povo é soberano e que a soberania é a superação do
estado de fraqueza, guiada pela razão humana”. Assim, é o cidadão, cada
cidadão, quem tem o dever e o poder de coibir a ação daqueles que, ao
representá-lo, macula os bons costumes, as leis e a representação que lhe foi
outorgada.
O bom trato da coisa pública, o bem
comum, é o mote que deve orientar a atuação daqueles que exercem qualquer munus
público, e essa representação deve ser exercida por pessoas que, em qualquer
situação, atuem dentro dos princípios da ética e da moral.
Nessas circunstâncias e parafraseando
Ruy Barbosa é de lembrar “que nos momentos de crise eu não troco a justiça pela
soberba. Eu não deixo o direito pela força. Eu não esqueço a fraternidade pela
tolerância. Eu não substimo a fé pela superstição, a realidade pelo ídolo”.
Essa reflexão precisa ser feita para
propiciar que cada cidadão, ao fazer o exame da sua atuação, exerça sua
consciência e ação política com responsabilidade. Assim, que cada qual possa
refletir e, sobretudo, agir com coerência moral e ética, exercendo sua
cidadania em prol da construção de uma sociedade mais justa e perfeita.
Paulo Eduardo
de Barros Fonseca é advogado – Titular do escritório Sheldon Barros Fonseca -
Advogados; Procurador Estadual aposentado (Unesp); presidente
da APAESP – Associação dos Procuradores
Autárquicos do Estado de São Paulo; e
Membro do Conselho Superior da
ABRAP – Associação Brasileira dos
Advogados Públicos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário