Há muitos estudos relacionados a descobrir como a
mente humana funciona. Há também muitas pesquisas, descobertas e incertezas. E
isso não é novidade. Desde criança o aprendizado de nossa mente é ininterrupto,
sempre evoluindo, conhecendo e descobrindo. Não somente recebendo e armazenando
informações do mundo que as envolve, mas também transmitindo sinais que, na
maioria das vezes, são muito difíceis ou até mesmo imperceptíveis de serem
decifrados.
Será que alguns desses sinais poderiam indicar
comportamentos futuros que venham a influenciar na vida das crianças? Será que
a tecnologia, mais especificamente, a inteligência artificial, poderia auxiliar
na descoberta e interpretação de padrões de comportamento das crianças que
indiquem alguma medida preventiva a ser adotada? Padrões de comportamento
poderiam indicar algum tipo de distúrbio ou até mesmo síndromes que ainda não
estão perceptíveis aos especialistas? O cruzamento de informações relacionadas
a pessoas poderia colaborar com essa descoberta?
Se considerarmos que as crianças passam um bom
tempo de suas vidas em sala de aula, muitos sinais são enviados no dia a dia,
que, se forem coletados e armazenados, poderão compor uma base de conhecimento
que poderá ser utilizada para mapeamento desse seu comportamento. Alguns desses
já foram mapeados anteriormente, porém algumas combinações de dados, ainda não
mapeados ou descobertos por especialistas, poderiam indicar a probabilidade de
a criança vir a desenvolver algo que no futuro influencie sua vida
negativamente. É nesse segmento que o uso da tecnologia, por meio da
inteligência artificial, poderia apoiar os especialistas para diagnosticar algo
que não é visível a "olho nu", ou que a criança não dê sinais de
possuir ainda.
O professor na sala de aula, notando algum tipo de
comportamento fora do padrão de determinada criança, se comparada às demais,
poderia coletar informações a respeito para alimentar uma base de dados.
Somente a coleta desses dados na escola pode não ser suficiente, por isso o
papel e participação dos pais é de fundamental importância, pois em casa a
criança também pode vir a demonstrar algum comportamento anormal, então a
parceria entre a família da criança e a escola teria que ser estreita.
Com as informações coletadas na escola e na casa da
criança, o uso de algoritmos de inteligência artificial poderia ser aplicado
para processá-las e realizar o cruzamento nos dados, de forma que
comportamentos anteriores já mapeados e confirmados e outros que não foram
ainda poderiam indicar a probabilidade da criança também desenvolvê-la.
De posse dessas informações, um especialista
poderia ter evidências para um melhor diagnóstico de possíveis distúrbios que a
criança poderá desenvolver e que não tenha demonstrado sinais ainda, indicando
algum apoio profissional para melhorar sua qualidade de vida e de sua família e
aprofundando em exames e monitoramentos a respeito da criança.
A inteligência das coisas é algo que chegou para
ficar e, assim como suas aplicações, é de extrema importância para a evolução
natural da humanidade. A inteligência em interpretação comportamental aplicada
a crianças para identificação de distúrbios que talvez possam ser identificados
ainda no início ou mesmo sem indícios que a criança demonstre poderiam oferecer
uma qualidade de vida que talvez não venha a ter.
O aprendizado de máquina hoje é uma realidade, mas
não para substituir um especialista. O ideal seria unir esforços para
evoluirmos e melhorarmos a qualidade de vida que é o princípio básico que
possuímos. Se houver apenas um caso proativo que venha a ajudar uma criança, já
terá valido a pena essa união.
Nem todas as famílias possuem facilidade ou
condições de acesso a acompanhamento médico especialista e muitas vezes seus
filhos demonstram sinais que não são interpretados em seu convívio familiar. A
disponibilização da tecnologia para uso da população menos privilegiada poderia
amenizar grande parte dos problemas das crianças e suas famílias e, onde
poderia ser melhor utilizada senão em escolas públicas?
O apoio da tecnologia para descoberta de algo que
não tenha sido conhecido tem que ser valorizado e explorado, que não fique
somente em laboratórios ou em setores específicos e privilegiados, mas sim
disponível para toda população que não tem condição de acesso a esse tipo de
ação e são as que mais padecem desse segmento. O quanto estamos longe dessa
realidade? Particularmente, acredito que mais próximos de alcançá-la do que do
ponto de partida.
Antonio Marcos Jacinto - coordenador de projetos no Instituto das Cidades Inteligentes (ICI). Formado em tecnologia em processamento de dados, com pós-graduação em banco de dados. Está na área de informática há mais de 20 anos, sendo também instrutor oficial Oracle Database.
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