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sexta-feira, 9 de fevereiro de 2024

Uso de cigarro eletrônico aumenta em 1,79 a probabilidade de infarto, afirma SBC em posicionamento

Uso destes dispositivos também amplia incidência de aterosclerose. Documento aponta10 razões para manter a proibição de cigarros eletrônicos no Brasil

 

Quase 3 milhões de brasileiros fazem uso regular de dispositivos eletrônicos para fumar (DFEs), popularmente conhecidos como vapes. E, o consumo regular, de acordo com estudos observados pela Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), aumenta em 1,79 vez a probabilidade de infarto do miocárdio. 

Ainda de acordo com estudos analisados pela SBC, os DEFs também impactam na incidência de aterosclerose em seus usuários, já que os vários componentes químicos, como nicotina, propilenoglicol, partículas, metais pesados e aromatizantes que estão presentes nos cigarros eletrônicos induzem aterosclerose, condição que pode ampliar significativamente a ocorrência de doenças como o Acidente Vascular Cerebral. 

Mesmo que a venda e a comercialização destes ¹produtos sejam proibidas no país desde 2009, estes dispositivos são encontrados facilmente no mercado paralelo que impacta, em especial, o público jovem.

Atenta ao impacto do uso dos cigarros eletrônicos para a saúde pública, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) lançou uma consulta pública com o objetivo de estimular a sociedade civil a opinar sobre a manutenção da proibição dos DFEs. 

Após 4 meses e mais de 7 mil manifestações de participantes, a discussão proposta pela consulta pública se encerra nesta próxima sexta-feira, 09 de fevereiro. 

Em linha com a sua missão primordial que é atuar pela excelência no cuidado cardiovascular no país, a SBC publicou, no último dia 02 de fevereiro, um posicionamento consistente em defesa da permanência da proibição dos DEFs no Brasil. 

O posicionamento também destaca que estudos já demonstraram que o custo para tratar diversas doenças crônicas decorrentes do tabagismo, no âmbito do SUS, somou 23,37 bilhões de reais em 2011, valor equivalente a 0,5% do Produto Interno Bruto e quatro vezes o montante dos impostos federais arrecadados do setor tabaco naquele ano. 

Ampliando o debate sobre o consumo destes dispositivos, o posicionamento da SBC demonstra, por meio de evidências científicas, que os cigarros eletrônicos não servem como via alternativa e menos prejudicial à saúde para dependentes de nicotina. 

“A alegação apresentada pela indústria do tabaco de que os DEFs são uma alternativa de menor risco à saúde para substituir os cigarros convencionais não são comprovadas por evidências científicas. Pelo contrário, estudos indicaram que jovens que fazem uso de cigarros eletrônicos têm menor propensão a cessar o tabagismo. Além disso, adultos fumantes que recorrem aos DEFs ou vapes exibem uma notável inclinação para a dupla utilização, que envolve cigarros tanto eletrônicos quanto regulares, o que aumenta os riscos à saúde”, afirma o documento assinado por membros da Sociedade Brasileira de Cardiologia, entre eles, Jaqueline Scholz, cardiologista referência no país quando o assunto é antitabagismo. 

O posicionamento da SBC indica, ainda, que diversas pesquisas demonstram uma relação direta entre o uso de cigarros eletrônicos e o incremento no risco cardiovascular. “A presença de nicotina nos dispositivos está vinculada a aumento da frequência cardíaca, elevação da pressão arterial e intensificação do estresse oxidativo”, pontua o documento.
 

Confira na íntegra as dez 10 razões elencadas pela SBC:

Link 

 

1. Evidências insuficientes de redução de danos entre fumantes 

A alegação apresentada pela indústria do tabaco de que os DEFs são uma alternativa de menor risco à saúde para substituir os cigarros convencionais carece de confirmação. Pelo contrário, estudos indicaram que jovens que fazem uso de cigarros eletrônicos têm menor propensão a cessar o tabagismo. Além disso, adultos fumantes que recorrem aos DEFs ou vapes exibem uma notável inclinação para a dupla utilização, que envolve cigarros tanto eletrônicos quanto regulares, o que aumenta os riscos à saúde. Embora o uso dual tenha sido comum nas primeiras versões dos DEFs, observa-se um crescente número de usuários exclusivos dos DEFs nas versões atuais que utilizam nicotina em freebase e sal de nicotina. Além disso, a nicotina foi identificada em usuários exclusivos de DEFs. A ausência de estudos suficientes que sustentem a tese do menor risco à saúde é relevante e contraposta por estudos clínicos e observacionais que sugerem impactos significativos na saúde dos usuários.

 

2. O cigarro eletrônico não tem combustão, mas existem outros produtos distintos daqueles do cigarro convencional, muitos dos quais com efeitos desconhecidos na saúde humana16  

Embora haja variações nos vapes, o produto consiste em quatro partes principais: um reservatório, um dispositivo de aquecimento, uma bateria de lítio e um bocal. No reservatório, são alojados a nicotina e, por vezes, os aromatizantes, os solventes e outros componentes químicos. A presença de solventes e aditivos, aquecidos durante o funcionamento do dispositivo, pode originar componentes tóxicos provenientes tanto dos próprios DEFs quanto de seus líquidos.

Os refis e os frascos de nicotina líquida de DEFs não descartáveis representam um potencial risco de intoxicação, especialmente por ingestão acidental, absorção pela mucosa oral ou contato com a pele em caso de vazamento. Os Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC) registraram um significativo aumento nas chamadas para os centros de intoxicação relacionadas aos casos de envenenamento pelo líquido dos DEFs, sendo registrado até óbito em criança por ingestão acidental dos e-líquidos. Além disso, o descarte desses elementos representa uma séria ameaça ambiental. A quantidade de dispositivos descartados no ano de 2022 acendeu alerta das autoridades sanitárias no Reino Unido e outros países da Europa, muitos dos quais pensam em banir os dispositivos descartáveis de uso único. Eles geram toneladas de lixo eletrônico com lítio e cobre presentes nas baterias e resíduos dos e-líquidos, sendo esse conjunto de elementos considerado lixo tóxico. Adicionalmente existem também incidentes relacionados a explosões dos dispositivos.

Desde 2019, tanto os CDC quanto o Food and Drug Administration (FDA) têm registrado um aumento nos casos de lesão pulmonar aguda grave associada ao uso de produtos de cigarro eletrônico ou vapes. Essa séria condição é identificada como EVALI (do inglês, e-cigarette or vaping product use-associated lung injury).

A maioria dos pacientes diagnosticados com EVALI necessitou de hospitalização, sendo que muitos receberam cuidados intensivos e suporte respiratório. Notavelmente, 2,3% dos casos resultaram em óbito. O acetato de vitamina E, um aditivo ocasionalmente utilizado em produtos contendo tetra-hidrocanabinol (THC), está significativamente associado ao surto de EVALI. No entanto, as evidências disponíveis não são suficientes para descartar a contribuição de outros produtos químicos preocupantes.

 

3. Vape um novo fator de risco para as doenças cardiovasculares 

Diversas pesquisas indicam uma relação direta entre o uso de cigarros eletrônicos e o incremento no risco cardiovascular. A presença de nicotina nos dispositivos está vinculada a aumento da frequência cardíaca, elevação da pressão arterial e intensificação do estresse oxidativo. Além disso, o consumo regular de DEFs está associado a inflamação, disfunção endotelial, lesões vasculares e desenvolvimento de aterosclerose.

Não apenas isso, os cigarros eletrônicos também demonstram uma relação com o aumento da probabilidade de ocorrência de infarto do miocárdio. Indivíduos que fazem uso habitual desses dispositivos apresentam uma probabilidade 1,79 vez maior de sofrer um infarto em comparação com não fumantes, conforme evidenciado em estudos.

 

4. Prejuízos à saúde populacional 

A comercialização e o consumo de DEFs representam uma questão de saúde pública devido ao impacto que exercem tanto sobre fumantes quanto não fumantes. Pesquisa aponta que os usuários de cigarros eletrônicos apresentam uma menor probabilidade de cessar o tabagismo de maneira voluntária, devido à significativa capacidade desses dispositivos em induzir dependência de nicotina.

É crucial salientar a existência de usuários de DEFs que fazem uso simultâneo de cigarros convencionais, o que pode acarretar um aumento substancial no risco de desenvolvimento de doenças cardiovasculares.

Adicionalmente, a relação entre a diminuição do número de cigarros consumidos e a redução do risco à saúde não segue uma trajetória linear. Mesmo exposições a níveis reduzidos podem desencadear doenças cardiovasculares. Um estudo de caso mediu biomarcadores na urina, na saliva e no cabelo de uma família consistindo de uma gestante não fumante, seu cônjuge usuário de cigarro eletrônico e um filho do casal de 3 anos de idade. Foram identificadas elevadas concentrações de cotinina (metabólito da nicotina) e níveis significativos de metais como alumínio (associado ao enfisema pulmonar), cromo (relacionado ao câncer de pulmão), níquel (associado ao câncer de pulmão e seio nasal) e cobre (causador de danos ao fígado, rins e pulmões). No leite materno de usuárias, foram detectadas concentrações elevadas de glicerol, responsável por danos pulmonares e cardiovasculares, além de cotinina em níveis altos, assemelhando-se ao efeito da exposição do bebê ao cigarro eletrônico.

 

5. Descumprimento das obrigações internacionais pelo Brasil 

A introdução de novos DEFs tem conferido à indústria um espaço renovado nas discussões. A Associação da Indústria do Tabaco do Brasil já manifestou seu apoio à regulamentação, reconhecendo que a entrada de novos dispositivos no mercado é de seu interesse econômico, mesmo quando sujeitos a regulações.

É fundamental recordar que o Brasil, na qualidade de signatário da Convenção-Quadro para o Controle do Tabaco da Organização Mundial da Saúde (CQCT-OMS), está compelido, conforme disposto no artigo 5.3, a desenvolver políticas públicas de controle do tabaco resguardadas contra influências comerciais da indústria. A narrativa que a indústria está construindo, sugerindo uma busca pela redução de danos, não é uma novidade, bastando recordar os cigarros ‘light’, supostamente causadores de menos danos. Isso constitui meramente uma estratégia da indústria para assegurar sua permanência no mercado. 

Portanto, é imperativo que o governo brasileiro esteja atento ao cumprimento de suas responsabilidades internacionais quanto ao controle do tabaco e não adote uma postura leniente em relação a essa prática.

 

6. Desafios para o cumprimento de medidas de regulação 

A promulgação da Lei Antifumo no Brasil gerou significativas mudanças culturais, em especial no que se refere aos ambientes isentos de tabaco, os quais, atualmente, são respeitados por uma parcela considerável da população brasileira. O fumo em locais como aviões, restaurantes e outros espaços coletivos fechados não é mais socialmente aceito. Não obstante, é crucial compreender que a existência da Lei Antifumo representa um caminho a ser percorrido, mas não constitui uma solução integral.

O Brasil enfrenta desafios decorrentes da escassez de recursos e da falta de uma fiscalização efetiva. No presente momento, a fiscalização dos DEFs (vapes) é relativamente simples, uma vez que todos os produtos dessa natureza são proibidos. Contudo, com a eventual introdução oficial de novos produtos no mercado, a regulamentação do comércio legal e o combate à falsificação, ao descaminho e ao contrabando tornar-se-ão tão ou mais complexos do que os associados ao cigarro convencional. Além disso, é necessário promover uma mudança cultural, em especial em relação ao cigarro eletrônico, que, atualmente, contraria as conquistas alcançadas no contexto do tabaco tradicional.

O Brasil tem desempenhado um papel exemplar na luta contra o tabagismo em âmbito global e as décadas de esforços resultaram em uma clara redução no consumo de tabaco, proporcionando benefícios evidentes para os indivíduos e a sociedade em geral. A proibição dos cigarros eletrônicos mantém a coerência de uma política voltada para preservar a saúde em nível tanto individual quanto coletivo.

 

7. Recursos para controle do tabaco em risco 

A regulamentação dos novos produtos implicaria um ônus adicional para o orçamento da saúde, que já enfrenta restrições significativas devido a diversas prioridades. Esse desafio abrange não apenas recursos financeiros, mas também humanos, que atualmente se mostram insuficientes para supervisionar tanto o uso quanto a comercialização do cigarro convencional, bem como para desenvolver políticas eficazes de cessação do tabagismo no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS).

Além disso, a atenção primária e a atenção especializada enfrentam o desafio do tratamento de todas as enfermidades associadas ao consumo de produtos fumígenos, o que sobrecarrega as filas de atendimento. Considerando a insuficiência de recursos na saúde para tratar o tabagismo e suas ramificações, seria um equívoco permitir a circulação de outro produto tão prejudicial, o que certamente acarretaria um aumento nos custos com saúde no país. Um estudo conduzido em 2011 no Brasil concluiu que o custo para tratar diversas doenças crônicas decorrentes do tabagismo, no âmbito do SUS, totalizou 23,37 bilhões de reais, equivalente a 0,5% do Produto Interno Bruto e quatro vezes o montante dos impostos federais arrecadados do setor tabaco naquele ano܂Esse custo tende a aumentar com a expansão do consumo de vapes. Como a maioria dos usuários é jovem, o que favorece o apelo da indústria por uma falsa percepção de segurança, estudos de curto prazo reafirmam os efeitos agudos cardiovasculares, pulmonares e cerebrovasculares e o fardo sobre o sistema de saúde certamente virá em algumas décadas. A cessação do tabagismo, inquestionavelmente, representa a estratégia mais custo-efetiva e o Brasil dispõe de um programa de tratamento eficaz, gratuito e acessível para a interrupção do tabagismo.

 

8. Diferença econômica e riscos associados na comparação entre Brasil e outros países 

Comumente, a indústria dos DEFs cita países em que a comercialização do produto é liberada com o objetivo de obter sua liberação no Brasil, como um exemplo a ser seguido. Contudo, mesmo em nações com um aparato legal e regulatório mais robusto, como Estados Unidos, Austrália, Reino Unido, Nova Zelândia e França, as legislações referentes aos cigarros eletrônicos estão sendo revisadas devido ao expressivo aumento no uso de vapes entre jovens, crianças e adolescentes, com incidência em escolas de ensino fundamental. Portanto, é imprudente que o Brasil presuma que, sem as condições adequadas para garantir a aplicação integral da Lei Antifumo, seria capaz de controlar o consumo desenfreado de DEFs, expondo a população jovem aos comprovados malefícios desses produtos.

A indústria do tabaco está realizando investimentos substanciais na produção de vapes, transformando-os em um lucrativo empreendimento para as empresas internacionais do setor, que atualmente totalizam 466 marcas no mercado. Além disso, o produto vem sendo aperfeiçoado ao longo do tempo, oferecendo capacidade de maior oferta volumétrica dos e-líquidos nos tanques, maior concentração de nicotina e redução nos preços, favorecendo ainda mais o consumo e a adição.

 

9. Proliferação dos DEFs entre jovens e não fumantes 

Apesar da exposição ilegal, os adolescentes continuam a ser altamente suscetíveis aos DEFs. A Global Youth Tobacco Survey evidencia um aumento epidêmico no consumo de cigarros eletrônicos, que chega a ser três vezes superior entre adolescentes na mesma faixa etária considerando países em que a comercialização é permitida em comparação a países com o banimento da comercialização, como Brasil e Tailândia. 

A Pesquisa Nacional de Saúde dos Escolares, conduzida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística e abrangendo 159.245 estudantes brasileiros, revela que a experimentação de cigarro eletrônico em algum momento da vida entre escolares de 13 a 17 anos atingiu 16,8% (IC95% 16,2-17,4), sendo que 3,6% (IC95% 3,3-4,0) utilizaram nos últimos 30 dias.

Vale ressaltar que o uso de qualquer produto relacionado ao tabaco, englobando cigarros convencionais, vapes e outros, aumentou de 9% em 2015 para 12% em 2019 entre adolescentes. Portanto, após duas décadas de declínio, a tendência entre adolescentes está se revertendo, influenciada pelo uso de produtos como vapes e narguilé, conforme evidenciado pela Pesquisa Nacional de Saúde dos Escolares.

Segundo a pesquisa Covitel 2023, um em cada quatro jovens entre 18 e 24 anos já experimentou cigarros eletrônicos, sendo seu uso 40 vezes mais comum na população abaixo dos 40 anos, mesmo com a venda proibida no país. Entre os usuários de cigarros eletrônicos de 15 a 24 anos, 63% nunca experimentaram cigarro convencional, indicando que os DEFs têm se tornado a forma de iniciação ao fumo na juventude. 

Mesmo sob regulamentação, a permissão da venda de DEFs apenas ampliaria as oportunidades de seu consumo entre os jovens, uma vez que o acesso seria facilitado. Além disso, essa regulamentação promoveria a falsa ilusão de um produto menos nocivo. O amplo comércio, aliado à limitada capacidade de fiscalização, poderia proporcionar aos menores de idade mais chances de iniciar ou manter seu vício desde cedo, evidenciando os riscos associados à liberação do consumo de DEFs no país.

 

10. Princípio da precaução 

Diante das evidências disponíveis, considerando a natureza dos riscos vinculados ao uso dos novos DEFs, seu elevado potencial para adição e a incapacidade de implementação eficaz de medidas fiscalizatórias, bem como a falta de recursos destinados a tratar as consequências do consumo desses novos produtos, torna-se imperativo manter sua proibição no Brasil. Isso visa prevenir uma potencial nova epidemia de consumo de vapes ou agravamento da atual.


quinta-feira, 8 de fevereiro de 2024

Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica reforça sua posição contra a regulamentação dos Dispositivos Eletrônicos para Fumar

 Consulta pública da ANVISA sobre o tema se encerra nesta sexta-feira

 

Está aberta até a próxima sexta-feira, 09 de fevereiro, uma consulta pública proposta pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) com o objetivo de coletar opiniões de especialistas e representantes da sociedade civil sobre a regulamentação dos Dispositivos Eletrônicos para Fumar (DEFs). Neste contexto, a Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC) reforça sua posição contra a disponibilização, distribuição ou comercialização de DEFs, seja de maneira recreativa ou como método terapêutico para redução de tabagismo, e encara com imensa preocupação o consumo desses produtos no país. 

De acordo com o estudo Risco de iniciação ao tabagismo com o uso de cigarros eletrônicos: revisão sistemática e meta-análise, conduzido pelo INCA (Instituto Nacional de Câncer) e publicado em 2022, o uso de cigarros eletrônicos aumenta em mais de três vezes o risco de experimentação do cigarro tradicional. 

Além de servir como uma porta de entrada para o consumo de tabaco, o coordenador do Comitê de Tumores Torácicos da SBOC e oncologista clínico, Dr. William Nassib William Junior, alerta sobre a presença de nicotina nos dispositivos, considerada uma substância altamente viciante: “Além de não ser um método seguro para quem quer parar de fumar, os cigarros eletrônicos também causam dependência e outros problemas de saúde”, comenta. 

Segundo o especialista, diversas pesquisas demonstram que o uso de tais dispositivos está associado ao risco aumentado para doenças pulmonares e cardiovasculares, exacerbação de asma, tosse, dispneia e inflamações pulmonares perigosas. 

Dr. William esclarece que até o momento não existe ligação comprovada entre o uso de cigarros eletrônicos e o desenvolvimento de câncer porque o hábito ainda é recente, portanto, não houve tempo suficiente para os estudos detectarem esta relação. No entanto, o fato de não haver essa comprovação não significa que ela não exista. O especialista explica que no caso do cigarro tradicional foram necessárias décadas de estudos e a morte de milhares de pessoas por câncer antes que esta associação fosse estabelecida. 

Ele ainda destaca que diversas substâncias presentes nos dispositivos são conhecidas por serem cancerígenas. “Embora a quantidade dessas substâncias seja aparentemente menor em comparação com os cigarros tradicionais, isso não significa que os cigarros eletrônicos sejam seguros”, enfatiza o oncologista.

Em 9 de maio de 2022, representantes de 49 entidades médicas, dentre elas a SBOC, assinaram documento contra a liberação dos Dispositivos Eletrônicos para Fumar (DEFs), disponível no link: Link  

A SBOC espera que o governo federal adote medidas eficientes contra a regulamentação dos cigarros eletrônicos em respeito à saúde da população, e enxerga a possível liberação da comercialização dos dispositivos como um retrocesso de décadas de esforços da política de controle do tabaco.
 

Proibição no Brasil 

Desde 2009, a ANVISA proibi a fabricação e a comercialização de cigarros eletrônicos no Brasil, o que torna o produto ilegal no país. Sem a regulamentação, não há fiscalização sobre a composição, procedência ou até mesmo a segurança para o uso de cigarros eletrônicos. 

De acordo com pesquisa recente apresentada pelo IPEC (Inteligência em Pesquisa e Consultoria), mais de 2 milhões de brasileiros afirmaram ter usado o dispositivo com o objetivo de deixar o cigarro tradicional, e outros 6 milhões de pessoas fumantes disseram já ter experimentado o cigarro eletrônico em algum momento.
 

quarta-feira, 10 de janeiro de 2024

Cigarro eletrônico é tão prejudicial à saúde quanto o comum

 Uso do vape também pode causar doenças pulmonares e cardiovasculares, tanto aos fumantes ativos quanto aos passivos


Apesar da proibição de comercialização no Brasil, os últimos anos têm demonstrado um notável aumento no consumo dos vapes, os cigarros eletrônicos. De acordo com um levantamento realizado pela Inteligência em Pesquisa e Consultoria Estratégica (Ipec), mais de 2 milhões de brasileiros utilizam esse dispositivo. Além disso, o Google Trends mostrou que, entre 2021 e 2023, as pesquisas por “cigarro eletrônico” aumentaram mais de 1.150% no país. Esses dados levantam questões intrigantes sobre a percepção das pessoas em relação aos riscos do produto à saúde, já que muitos optam pelo uso do vape acreditando que seja uma alternativa menos prejudicial que o cigarro comum. No entanto, a realidade é diferente.

Existem mais semelhanças que diferenças entre os cigarros comuns e os eletrônicos. Embora a indústria que produz esses dispositivos tenda a minimizar o efeito do vape, como se fosse algo inocente e inofensivo, especialistas afirmam que ele pode ser tão perigoso quanto o cigarro comum. Isso ocorre porque o organismo inala diversas substâncias por meio do vape, algumas das quais podem ser as mesmas encontradas no cigarro. “Os líquidos utilizados nos cigarros eletrônicos podem conter nicotina ou não e, quando contêm, apresentam diferentes concentrações que também podem causar dependência. Além disso, esses líquidos têm outras substâncias que provocam danos ao endotélio - camada de células que reveste os vasos sanguíneos e linfáticos -, podendo causar inflamação e formação de coágulos na região torácica, aumentando o risco de doenças cardiovasculares e lesões pulmonares”, alerta o pneumologista e professor do curso de Medicina da Universidade Positivo (UP), Ricardo Alves. Nos últimos meses, o caso do lutador britânico Sean Tobin viralizou. O atleta de 20 anos de idade precisou remover uma parte do pulmão que estava gravemente danificada devido ao uso do cigarro eletrônico.

Outro problema associado ao uso do vape é a dificuldade de quantificar o consumo do produto. “Quando alguém utiliza cigarros comuns, consegue contar quantos fumou em um dia, seja um, cinco ou dez. No entanto, no caso do cigarro eletrônico, essa quantificação se torna desafiadora. Além disso, devido à falta de odor incômodo, as pessoas muitas vezes acabam usando o vape por horas”, detalha Ricardo. Ele explica que essa impossibilidade de contar as unidades consumidas pode levar a um consumo desenfreado. Supreendentemente, as consequências para a saúde podem ser ainda mais graves do que as causadas pelo cigarro comum.

Além disso, o especialista explica que, da mesma forma que o cigarro tradicional, o eletrônico também pode causar problemas para os fumantes passivos. “O grande problema com o vape é que, por não produzir um cheiro desagradável, ele não incomoda tanto as pessoas, o que, por sua vez, leva muitos a fumarem mais em ambientes fechados. Isso aumenta a exposição dos fumantes passivos à inalação da fumaça”, finaliza.



Universidade Positivo
up.edu.br/


terça-feira, 3 de outubro de 2023

Cigarros eletrônicos também são vilões da saúde bucal

Cigarros eletrônicos podem ser responsáveis por
diversas doenças, além de causar danos à saúde bucal

Créditos: Envato
Mesmo proibidos, uso de vapes segue em constante crescimento e traz danos a médio e longo prazos



Apesar de muitas pessoas acreditarem que os cigarros eletrônicos são uma alternativa "mais segura" aos produtos tradicionais de tabaco, o número crescente de evidências recentes revela que esses dispositivos podem representar uma ameaça ainda maior para a saúde. Sob diversas nomenclaturas, como vapes e pods, esses dispositivos ganharam popularidade nos últimos anos, mas suas consequências para a saúde são preocupantes. De acordo com uma pesquisa conduzida pelo Programa de Tratamento do Tabagismo do Instituto do Coração do Hospital das Clínicas, os níveis de nicotina encontrados em usuários do vape equivalem ao consumo de 20 cigarros convencionais por dia. Com teores de nicotina que podem chegar a 90 mg, equivalentes a 4,5 maços do cigarro tradicional, a presença de outras substâncias adicionadas nos aparelhos para intensificar a sensação de prazer pode levar a uma dependência ainda mais intensa. 

Além de os estudos e evidências recentes sugerirem que os cigarros eletrônicos podem ser responsáveis por doenças cardiovasculares, pulmonares e inflamações, que aumentam os riscos de câncer, os cigarros eletrônicos também causam danos à saúde bucal. “Devido ao alto teor de açúcar e à consistência viscosa do vapor, resíduos são depositados nos dentes, tornando-os mais sensíveis. Isso afeta o paladar, o olfato, causa desidratação e ainda potencializa os riscos de cáries”, explica o dentista e especialista em Saúde Coletiva da Neodent, João Piscinini.  

Embora a comercialização, importação e propaganda de todos os tipos de dispositivos eletrônicos para fumar sejam proibidas no Brasil pela Anvisa, o número de usuários segue em crescimento. Em 2018, o Ipec constatou que 500 mil brasileiros eram consumidores de cigarros eletrônicos, e, em 2022, esse número subiu para 2,2 milhões.  


Conheça os 7 riscos do cigarro eletrônico para a saúde bucal 

Doenças periodontais: o uso de cigarros eletrônicos altera as condições naturais da boca, facilitando o acúmulo de placa bacteriana, principal causa das doenças periodontais. 

Retração gengival: a baixa irrigação das membranas mucosas bucais danifica o tecido, expondo a raiz do dente e aumentando a sensibilidade dentária, bem como o surgimento de cáries. 

Escurecimento da gengiva e dos dentes: a nicotina se acumula na superfície dos dentes e adere ao esmalte dentário. 

Língua de vape: o fumo excessivo dos vapes, devido às altas quantidades de nicotina e essências com sabores exóticos, compromete a capacidade de sentir o gosto. 

Mau hálito: apesar dos aromatizantes nos vapes, a nicotina presente nos cigarros eletrônicos causa mau odor na cavidade bucal. 

Xerostomia: a saliva é responsável pela limpeza natural da boca e pelo equilíbrio das bactérias. O uso de cigarros eletrônicos diminui sua produção em decorrência da nicotina, o que aumenta as chances de cáries, sensibilidade, feridas, fissuras e dificuldade para mastigar. 

Inflamação na cavidade bucal: as substâncias químicas presentes no vapor dos e-cigarros causam inflamação nas gengivas e na garganta, resultando dor e inchaço na região. 

 

Neodent 


terça-feira, 29 de agosto de 2023

Tabagistas devem sempre tentar parar de fumar

Recomendação é do Seconci-SP, por ocasião do Dia Nacional de Combate ao Fumo

 

Se você é tabagista, já tentou parar de fumar e não conseguiu, faça-o novamente. Não considere a recaída como uma derrota. Cada tentativa já é um grande passo. Quanto mais você tentar, mais próximo estará de conseguir.

A recomendação é da dra. Marice Ashidani, pneumologista do Seconci-SP (Serviço Social da Construção), por ocasião do Dia Nacional de Combate ao Fumo (29 de agosto). Mas ela alerta: “Sem a pessoa estar determinada a parar de fumar, não adianta somente recorrer ao médico ou ao apoio da família”.

De acordo com a dra. Marice, deixar de fumar sempre traz ganhos para a saúde, não importa há quanto tempo o fumante deixou o hábito. “É preciso que o médico avalie o grau de dependência de cada caso individualmente. Há aqueles que conseguem deixar de fumar somente com a força de vontade. Para amenizar os sintomas da abstinência, algumas pessoas necessitarão de reposição da nicotina por adesivo ou goma, gradualmente reduzida ao longo do tempo. Além disso, fumantes muito agitados podem necessitar de tratamento com antidepressivos, sempre com acompanhamento médico”.

É muito importante que o fumante reflita sobre os “gatilhos” que detonam o hábito de fumar, e como evitá-los. “Exemplos desses gatilhos são tomar café, concluir uma refeição ou ficar ansioso. “Quando a fissura aparece, ela dura alguns minutos naqueles que não são muito dependentes. Nesse tempo, o fumante deve fazer outra coisa, como tomar água gelada. Pouco depois, a fissura tenderá a desaparecer”.

De acordo com a pneumologista, a recaída pode ocorrer mesmo muito tempo depois de a pessoa ter deixado a dependência. “Ela pode estar em uma viagem ou em uma festa e acender um cigarro, imaginando que isso não a fará voltar ao vício. É um autoengano, que poderá levar a uma recaída. Aí, precisará tentar novamente parar. A ajuda da família e dos amigos é fundamental, não fazendo terrorismo, mas sim com apoio”.


Males do fumo

O tabagismo expõe os fumantes a 7 mil componentes químicos, causando cerca de 50 doenças diferentes e matando 8 milhões de pessoas por ano. É a causa evitável de morte mais prevalente no mundo, vitimando um em cada dez adultos.

Ao fumar um único cigarro, a pessoa inala milhares de substâncias tóxicas, como monóxido de carbono, amônia, cetonas, formaldeído, acetaldeído, acroleína e outras 43 cancerígenas, como arsênio, níquel, benzopireno, cádmio, chumbo e resíduos de agrotóxicos. “A temperatura da fumaça é outro elemento muito nocivo à saúde, inflamando os tecidos de toda a área das vias respiratórias”, comenta a dra. Marice.

A médica alerta que são igualmente prejudiciais o cigarro eletrônico, proibido no Brasil, e o narguilé, pois além da nicotina, contêm outras substâncias cujos efeitos ainda são desconhecidos.

“Os pais devem conversar com os filhos, falar dos malefícios físicos e psíquicos da droga, como dependência e risco de uso abusivo. E devem procurar identificar, junto com os filhos, as causas psicológicas e as formas de resistir ao cigarro”, recomenda a dra. Marice.

O Seconci-SP faz palestras nos canteiros de obras sobre a importância de parar de fumar e proporciona tratamento aos trabalhadores da construção civil e seus familiares que querem fazê-lo. Eles também podem buscar tratamento em centros de apoio da rede pública de saúde, que fornecem adesivos para a redução gradual da dependência de nicotina e, se necessário, medicamentos para a ansiedade.

 

segunda-feira, 28 de agosto de 2023

Cigarro eletrônico: precisamos combater este mal

No Dia Nacional de Combate ao Fumo (29/8), o CROSP reforça o alerta sobre os malefícios dos cigarros eletrônicos e similares


Cigarros eletrônicos são dispositivos que foram desenvolvidos com a finalidade de substituir o cigarro convencional. A ideia surgiu na década de 1960, nos EUA, por Herbert A. Gillbert, sendo aperfeiçoada posteriormente em 2003, pelo chinês Hon Lik. No entanto, este objetivo não foi alcançado e os cigarros eletrônicos estão sendo usados por pessoas que nunca fumaram cigarros convencionais antes, particularmente os jovens. 

Existem vários formatos de cigarros eletrônicos, podendo ser parecidos com cigarros, canetas, pen drives, e os chamados tanques, entre outros. Visando simular a sensação de fumar um cigarro comum, eles contêm apenas a nicotina, responsável pela dependência química. A nicotina é diluída em propilenoglicol e esta mistura fica armazenada em um reservatório presente no dispositivo. Este reservatório é ligado a um vaporizador, o qual transforma o líquido em fumaça, que é tragada pelo usuário. Vale ressaltar que a concentração de nicotina presente nos reservatórios geralmente é bem maior do que nos cigarros convencionais. 

O professor Titular de Estomatologia da FOP-UNICAMP, Coordenador do Orocentro e membro da Câmara Técnica de Políticas Públicas do Conselho Regional de Odontologia de São Paulo (CROSP), Dr. Marcio Ajudarte Lopes, esclarece que o uso dos cigarros eletrônicos pode causar dependência química e promover alterações importantes no sistema respiratório e cardiovascular, devido à presença de várias substâncias tóxicas - como o formaldeído - e as derivadas de metais pesados, como ferro, alumínio e níquel, que podem levar ao desenvolvimento de câncer, principalmente em pulmão e boca.   

O especialista destaca que um fato muito preocupante que tem sido observado é o número alarmante e crescente de jovens que usam cigarros eletrônicos. De acordo com ele, muitos desses jovens começam o hábito no ensino fundamental. “Além da possibilidade de adquirirem o vício pelo cigarro eletrônico e pelo risco de desenvolverem problemas de saúde como relatado anteriormente, estudos científicos têm mostrado que adolescentes que usam cigarros eletrônicos são mais propensos a fumar cigarros convencionais quando comparados aos não usuários de cigarros eletrônicos. Portanto, o uso de cigarro eletrônico contribui para o consumo também de cigarro convencional, sendo uma maneira para atrair jovens para a dependência química”, explica o Cirurgião-Dentista. 

Dr. Marcio enfatiza que o Brasil reduziu de maneira significativa o tabagismo nos últimos anos devido, principalmente, à implementação de medidas como o aumento de preços e impostos do tabaco, bem como a adoção de leis, com destaque para a Lei Antifumo Federal (Lei 9.294/1996), que se refere à proibição de propaganda de produtos derivados de tabaco. Merece destaque, também, a Lei Antifumo do Estado de São Paulo (Lei 15.541/2009), que proíbe o uso de cigarros e similares em ambientes fechados de uso coletivo. Posteriormente, a Lei Antifumo Federal 9.294/1996 foi alterada, sendo regulamentada nova Lei Antifumo Federal (Lei 12.546/2011) que, como a lei do Estado de São Paulo, proíbe o consumo de tabaco em ambientes fechados e coletivos em todo o território nacional. 

“Com essas medidas, houve redução expressiva do número de fumantes no nosso país. Apesar da diminuição do consumo de cigarro convencional no Brasil, o número de consumidores de outras formas de tabaco, como o cigarro eletrônico, está aumentando, particularmente entre os jovens”, alerta o especialista. Vale ressaltar ainda, segundo o Dr. Marcio, que, em 2009, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) estabeleceu a regulamentação que proibiu no Brasil a venda, importação e propaganda de todos os tipos de dispositivos eletrônicos para fumar (Resolução da Diretoria Colegiada RDC 46/2009). “No entanto, apesar da proibição, a comercialização ilegal destes produtos é frequentemente observada”, lamenta ele. 

Portanto, é de extrema importância alertar a população e divulgar os malefícios dos cigarros eletrônicos e similares pelas Sociedades e Conselhos de Classe, com foco principalmente nos jovens. “A Comissão Temática de Políticas Públicas do CROSP está atenta a esta alarmante situação e, ao nos aproximarmos do Dia Nacional de Combate ao Fumo, celebrado em 29 de agosto, aproveitamos o momento para nos posicionar contra a liberação dele e salientar a necessidade urgente de regulamentação de Leis Antifumo que englobem esses dispositivos eletrônicos”.

 

Riscos do cigarro eletrônico e similares 

  • Eles contêm nicotina, droga que leva à dependência.
  • Contêm ainda mais de 80 substâncias químicas, incluindo cancerígenos comprovados.
  • O uso da nicotina aumenta o risco de trombose, AVC, hipertensão e infarto do miocárdio, entre outros.
  • Estudos também mostram que o cigarro eletrônico aumenta em cerca de três vezes as chances de o usuário fumar também cigarros comuns.

Atenção, Cirurgião-Dentista:
é muito importante alertar seus pacientes sobre todos os malefícios provocados pelos cigarros eletrônicos. Essa é uma grave questão de saúde pública.

 

Conselho Regional de Odontologia de São Paulo - CROSP
www.crosp.org.br


DIA NACIONAL DE COMBATE AO FUMO: Campanha alerta para o aumento do consumo de cigarros com aroma e sabor

Abead propõe mais fiscalização e multas pesadas à comercialização de cigarros a menores. Assunto é pauta do XXVII Congresso nacional em setembro


No Brasil, apesar de todas as estratégias envolvendo legislação, campanhas educativas e atendimento gratuito no SUS para combater o consumo de tabaco, a indústria encontra brechas para atrair uma clientela vulnerável e suscetível aos apelos do sabor e aroma de cigarros tradicionais e dos eletrônicos, a mais nova onda entre os adeptos do tabagismo.

No Dia Nacional de Combate ao Fumo, na terça-feira (29), o Instituto Nacional de Câncer (INCA) lança a campanha de 2023, “Sabores e aromas em produtos derivados de tabaco: uma estratégia para tornar a população dependente de nicotina” , como um alerta contra a investida mercadológica da indústria junto ao público mais jovem.

A nota técnica que embasa a campanha, destaca dados da Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar – PeNSE (2019), em relação à experimentação de estudantes de 13 a 17 anos. A pesquisa revela que o percentual que experimentou cigarro, algume vez na vida, nesta faixa etária, foi de 22,5% entre os meninos e de 22,6% entre as meninas.


Mais fiscalização e multas pesadas

No XXVII Congresso da Associação Brasileira de Estudos de Álcool e outras Drogas (ABEAD), que será realizado de 03 a 06 de setembro, em São Paulo, a discussão entre os especialistas da área de dependência química vai avaliar as políticas públicas atuais no combate do uso de tabaco, álcool, maconha, entre outras substâncias psicoativas.

A presidente da ABEAD, a psiquiatra Alessandra Diehl, elenca uma série de medidas necessárias para acirrar a redução do consumo de tabaco no país, além do que já está implementado pelo Poder Público.

“Precisamos de maior fiscalização na venda de cigarros a menores de idade, diminuir o número de pontos de venda, definir multas mais pesadas, combate ao contrabando de cigarros ditos ‘do Paraguai’, aumentar a taxação do preço do cigarro, maior controle de propaganda/marketing digital”, ressalta a psiquiatra. Diehl considera também que ampliar o acesso e a oferta de tratamento ao tabagismo no SUS e melhorar e qualificar o projeto Saúde nas Escolas com estratégias de prevenção ao fumo podem ter resultados positivos.

Segundo a presidente da ABEAD, estudos apontam que o aumento da tributação do cigarro convencional pode reduzir o consumo em 45%. Ela lembra ainda que o preço do cigarro convencional no país é o segundo mais barato da região das Américas.  “O último reajuste das alíquotas que incidem sobre o imposto específico e o preço mínimo estabelecido por lei na venda de cigarro foi feito em 2016”, afirma.

Além disso, o produto é facilmente adquirido por menores de idade em estabelecimentos comerciais autorizados. “Nove em cada 10 adolescentes que tentam comprar cigarro conseguem e 90% daqueles que compram com regularidade o fazem em bares, padarias, jornaleiros, supermercados”, afirma a psiquiatra.


Mercado em crescimento

A nota técnica do Inca que aponta que, no Brasil, o tabagismo responde por 162 mil mortes todos os anos e as despesas com doenças causadas pelo cigarro chegam a R$ 125 bilhões por ano. Já a arrecadação anual com impostos sobre esse produto gira em torno de R$13 bilhões, de acordo com o levantamento do Instituto de Efetividade Clínica Sanitária (2020).

A indústria, no entanto, o foco na produção de aromas e sabores mais palatáveis que podem agradar os adolescentes. Existem aproximadamente 16 mil sabores disponíveis no mercado, muitos deles atraentes para as crianças.

No Brasil, dentre os produtos derivados de tabaco registrados, estão os seguintes sabores: choco menta, menta cítrica, menta doce, maçã, berry, citrus, limão, uva, guaraná, coco, kiwi, laranja, hortelã, morango, chocolate, melão, melancia, abacaxi, açaí, bombom, manga, maracujá, pina colada, creme de morango, caramelo, banana, chiclete, mirtilo e pera. O levantamento foi feito este ano pela Anvisa.

A oferta está alinhada com o dado da Organização Mundial de Saúde (OMS), que aponta que 70% dos usuários jovens (12 a 17 anos) de dispositivos eletrônicos para fumar dizem que consomem esses produtos por terem sabores dos quais gostam.

Chama a atenção do Inca que, no país, de 2014 a 2020, a proporção de usuários de cigarros eletrônicos com sabor (dentre os usuários atuais do produto) aumentou de 65,1% para 84,7%; e,  entre os alunos do Ensino Médio que usavam qualquer tipo de cigarro eletrônico com sabor, os mais usados são os de: frutas (73%), menta (56%), mentol (37%) e sobremesas ou outros doces (37%).

No mundo, sete países europeus que já adotaram restrições de sabor em cigarros eletrônicos: Finlândia, Estônia, Hungria, Dinamarca, Holanda, Ucrânia e Lituânia. Já o Canadá proibiu os cigarros mentolados.

“Penso que, no Brasil, a venda de qualquer produto fumígeno para menores de 18 anos tem que ser amplamente fiscalizada e punida. A lei proibindo já existe. É preciso cumprí-la”, constata a presidente da ABEAD.


Debate internacional

O XXVII Congresso da ABEAD será realizado no Centro de Convenções Rebouças, em São Paulo (SP)l. A cerimônia de abertura e palestra magna acontecem na segunda-feira (04/09), a partir das 19h.

No total, no Congresso da ABEAD serão realizadas 176 palestras com profissionais especialistas e renomados de várias regiões do Brasil, referências dos setores público e privado, universidades, organizações não governamentais, organizações de assistência social, do direito, da educação e de saúde. Participam também palestrantes de organizações internacionais dos Estados Unidos, Canadá, Portugal, Argentina, México e Chile. 



Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas - ABEAD
abead.com.br


sexta-feira, 25 de agosto de 2023

Cigarro de palha ou cigarro eletrônico: versões diferentes para um mal semelhante

Em 29 de agosto é celebrado o Dia Nacional de Combate ao Fumo


Cigarro convencional, “paiero”, cigarro eletrônico, narguilé. A indústria do tabaco é ativa no que se refere a criar releituras para o hábito que traz malefícios em todas as suas roupagens. O cigarro de palha, por exemplo, ganhou a atenção dos jovens apoiado pelo conceito de possuir menos elementos químicos, ser mais “natural” e, portanto, impactar menos a saúde em geral. E nada disso é verdade. O cigarro de palha tem uma potência tabágica cinco vezes maior que a do cigarro industrializado, explica André Moraes, oncologista clínico do Centro de Oncologia Campinas.

O Dia Nacional de Combate ao Fumo, celebrado em 29 de agosto, é mais uma ocasião para lembrar que o cigarro é um problema de saúde pública e uma causa evitável de mortes, independentemente da versão em que se apresente. Já é sabido que pelo menos 40% dos óbitos por doenças em todo o mundo estão relacionados ao tabagismo.

“Se olhar especificamente para o câncer, o tabaco é o agente causal mais importante. Está associado a uma série de tumores, não só de pulmão, mas do trato aéreo digestivo alto, pâncreas, rim, colo de útero em mulheres, bexiga. Talvez seja mais importante a interferência do tabaco nas doenças de bexiga do que nas de pulmão”, exemplifica André Moraes.

Os vapes (cigarros eletrônicos) e os “paieros” (de palha) são responsáveis por disseminar entre os jovens a falsa ideia de acarretarem menor risco à saúde em comparação ao cigarro industrializado. Segundo o oncologista do COC, esse discurso se resume a uma estratégia de marketing da indústria do tabago para recuperar terreno no mercado de consumo.

“Um indivíduo que fuma quatro cigarros de palha por dia, na verdade está fumando um maço de cigarro industrializado pela proporção das toxinas. O cigarro de palha tem uma potência tabágica cinco vezes maior que a do cigarro de papel. Do ponto de vista da dosagem de alcatrão e nicotina, as concentrações são maiores”, afirma Moraes.

É errado também, diz o médico, acreditar que o filtro de feltro usado nos cigarros de palha tem a capacidade de amenizar os malefícios. “Essa foi outra jogada de marketing para iludir os fumantes no sentido de que aquele filtro diminuiria a quantidade de toxinas. O filtro fica da cor de alcatrão, mas na verdade não tem impacto do ponto de vista de saúde”.

A linha de evolução do tabagismo corre em paralelo à do aumento das doenças cujos riscos são ampliados pelo tabaco. “Lá no início do século 20, em 1902, o câncer de pulmão representava 2% dos cânceres humanos e hoje chega a 17%. Depois da Primeira Guerra Mundial, o hábito de fumar foi difundido. A partir dali vieram as propagandas fantásticas que vendiam imagem de riqueza e sucesso. O vício cresceu e as doenças também”, conta o médico.

Dados indicam ainda que novas doenças pulmonares estão sendo diagnosticadas por causa da adoção de diferentes hábitos de fumar. “Recentemente tivemos a notícia do falecimento de um jovem por uma infecção fúngica, ou seja, um tipo de mofo, novo, que não era causador de doenças em seres humanos, mas que se tornou nesses indivíduos que usam o vape”, informa.

 Informação contra a propaganda

É importante, observa o oncologista, divulgar a informação de que cigarros de palha e vapes também viciam, como os industrializados. Eles possuem substâncias biologicamente ativas que induzem o indivíduo ao uso crônico. “É mais ou menos semelhante ao que a velha nicotina do cigarro industrializado causa”, reforça Moraes. “Tem muita gente comprando tabaco e construindo cigarro de palha como se isso fosse menos tóxico, mas é pura ilusão”.

O argumento de que o cigarro industrializado tem muita química, ao contrário do de palha, indica Moraes, não possui fundamento científico. “A toxicidade de alcatrão e nicotina, por exemplo, que são drogas que depositam lixo na via respiratória e causam dependência, é mais concentrada no cigarro de palha. Isso é um fato importante, precisa ser divulgado e repassado aos jovens que entraram nessa onda”, alerta.

Moraes acrescenta que “movimentos contra o fumo são bons para lembrar que o tabagismo é uma causa importante para desenvolvimento de doenças. É um mal que a gente conhece, passível de intervenção.”

A indústria do tabaco, observa, é violenta e inovadora. Os cigarros vapes, que prometem ter menos toxinas, impõem uma falsa teoria ao indivíduo que é viciado. “O fumante se ilude. Caminha para uma trilha em que ele troca o cigarro industrializado, que é sabidamente nocivo à saúde, por outro que é vendido como não sendo nocivo, mas que, na verdade, causa tanto mal quanto”.


 Quem é tabagista?

André Moraes explica que é aceita uma definição de tabagista para o indivíduo que fuma um cigarro por dia há pelo menos um ano. “Isso significa que esse indivíduo sofre influências das substâncias químicas presentes no cigarro como todos os tabagistas. É óbvio que a dose está diretamente relacionada a doenças diferentes. Quanto maior a carga tabágica, maior o risco de ter determinadas doenças”, esclarece.

Ex-fumante, do ponto de vista clínico, é aquele indivíduo que abandonou o vício há pelo menos 14 anos, define Moraes, do ponto de vista dos riscos de câncer de pulmão. Para outras doenças, o período de abstinência do vício é ainda maior. “A gente estima que demore cerca de 14 anos sem fumar para um indivíduo que foi tabagista retornar ao nível próximo daqueles indivíduos que nunca foram tabagistas, do ponto de vista do risco de desenvolver câncer de pulmão”, diz.

A relação do tabagismo com o câncer de bexiga, por exemplo, tem efeito mais prolongado. “Pode chegar a 30 ou 35 anos o tempo sem fumar e, mesmo assim, o surgimento de um câncer de bexiga ainda estará clinicamente atrelado ao fato de ter fumado lá atrás”, afirma o médico do COC.

A explicação é fisiológica. Moraes diz que todos os tecidos do corpo são renovados, porém, a pessoa que não fuma tem um ciclo de recapeamento do tecido muito mais lento do que aquele que é estimulado pelo tabagismo. “No fumante, a exigência que o tecido se renove mais rapidamente aumenta as chances de haver mutações nesse tecido, que eventualmente podem acelerar o processo de desenvolvimento de câncer.”


 Como parar de fumar?

A grande maioria dos fumantes já tentou parar de fumar um dia. Boa parte deles também se esconde atrás da teoria que pode largar o vício quando quiser. São comportamentos que, segundo Moraes, se assemelham aos dos alcóolicos que, quando expostos, sucumbem à aceitação do vício. A diferença entre os dois, contudo, é que menos difícil parar de fumar do que parar de beber.

“Os tratamentos para cessação do tabagismo são mais eficientes que os contra o alcoolismo. Há importantes auxílios medicamentosos e intervenções psicoterápicas que são muito eficientes, desde que o indivíduo queira largar o vício”, reforça Moraes. “Se o indivíduo está empenhado, se compreende e sabe que é difícil parar porque tem dependência, existem tratamentos clínicos eficientes, inclusive na saúde pública. O primeiro passo é querer parar de fumar”.

 


COC - Centro de Oncologia Campinas
Rua Alberto de Salvo, 311, Barão Geraldo, Campinas
Telefone (19) 3787-3400.


quarta-feira, 23 de agosto de 2023

Unidades de Saúde oferecem grupo de apoio ao tabagismo para fumantes e ex-fumantes

No Dia Nacional de Combate ao Fumo, instituições reforçam o compromisso em apoiar todos aqueles que necessitam de suporte para deixar o vício em cigarro


O tabagismo ainda é considerado um grave problema de saúde pública em diversas partes do mundo, incluindo o Brasil. Essa doença crônica é decorrente da dependência à nicotina, uma substância presente em vários produtos que contêm tabaco em sua composição.

O uso excessivo e contínuo de cigarros pode acarretar vários sintomas prejudiciais ao organismo, tais como doenças respiratórias, disfunção erétil e diversos tipos de câncer. De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (Inca), fumantes têm de 2 a 4 vezes mais chances de desenvolver acidente vascular cerebral (AVC) quando comparados a não fumantes. Em relação ao câncer de pulmão, homens aumentam suas chances em 23 vezes e mulheres em 13 vezes.

A Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) estima que o tabagismo seja responsável pela morte de mais de 8 milhões de pessoas por ano, um número que gera grande preocupação.

Pensando nisso, o CEJAM - Centro de Estudos e Pesquisas “Dr. João Amorim” vem trabalhando em unidades de saúde sob sua administração, a fim de conscientizar e apoiar na luta contra o vício. A Unidade de Saúde da Família (USF) Jardim Aeroporto II de Mogi das Cruzes, administrada pela organização em parceria com a prefeitura local, é um exemplo.

“Em nosso grupo, pessoas que querem largar o cigarro passam a ter acesso a aconselhamentos de profissionais, além de métodos de tratamento, medicamentação e terapias para esse momento tão delicado”, afirma Eliane Pereira Da Silva, enfermeira da unidade e coordenadora do coletivo.

A partir de uma abordagem humanizada e dinâmica, desde 2019, a USF vem realizando o serviço para a população. Já foram cerca de 60 pessoas que receberam todo o apoio necessário durante os meses de tratamento e deixaram de vez o hábito.

“O serviço em Mogi das Cruzes começou por conta da identificação da alta taxa de fumantes na região. Com esse alerta, passamos a nos qualificar da melhor forma para dar assistência nesse sentido aos moradores”, explica a profissional.

Maria Auxiliadora Evangelista, 49, foi uma das participantes que conseguiu se libertar da dependência a partir do serviço, após mais de 20 anos com o vício. “Eu pedi ao médico clínico que me indicasse apenas um remédio, mas ele informou que o tratamento para tabagismo era mais amplo”, conta.

A decisão de buscar ajuda foi motivada pelo reconhecimento de que enfrentar o processo sozinha era bastante desafiador. "Eu tinha a meta de parar de fumar aos 30 anos, mas não consegui. Foi somente aos 47 que percebi a necessidade de fazer algo, de buscar apoio. Eu já estava hipertensa e fiquei com medo de desenvolver mais problemas de saúde", relata.

A paciente, agora ex-fumante, frequentou o grupo por um ano e usou medicação durante três meses. “Nesse tempo, recebi diferentes orientações para lidar com a ansiedade e sobre o que eu poderia fazer para enfrentar tudo da melhor forma. Durante o período, também pude dividir muitas experiências com pessoas que estavam vivendo a mesma situação que eu, nós acompanhamos a evolução um do outro ali”, reitera.

O grupo de apoio ao tabagismo é composto por uma equipe de profissionais como enfermeiros, médicos e dentistas, que realizam sessões com o objetivo de informar e auxiliar o paciente na redução gradual do tabagismo, até o fim da dependência completa. Quando necessário, também é utilizada a abordagem farmacológica, como a terapia de reposição de nicotina por intermédio de adesivos transdérmicos e medicamentos.

Aos interessados, o atendimento é realizado através da identificação de tabagistas por agentes comunitários ou por meio de solicitação na própria unidade de saúde.



CEJAM - Centro de Estudos e Pesquisas “Dr. João Amorim”
@cejamoficial
cejam.org.br/noticias

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