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sexta-feira, 27 de julho de 2018

Motociclistas e caminhoneiros sofrem mais acidentes de trânsito


Levantamento aponta que em onze anos, o número de notificações de acidentes de transporte relacionados ao trabalho aumentou quase seis vezes


Um levantamento realizado pelo Ministério da Saúde apontou que os motoboys são os que mais sofrem acidentes de trânsito relacionados ao trabalho, e que os caminhoneiros são os que mais vão a óbito em atividade. Os trabalhadores em duas rodas representaram 7,5% dos 118.310 acidentes registrados entre os anos de 2007 e 2016. Já quando falamos em óbitos, os motoristas de caminhão corresponderam a 13,2% das 16.568 mortes computadas no mesmo período. Os dados são dos Sistemas de Informação de Agravo e Notificações (SINAN) e do de Mortalidade (SIM), do Ministério da Saúde. Para chegar a esta constatação, foram considerados os acidentes de trânsito ocorridos quando o trabalhador tem uma função que envolve locomoção ou quando estava indo ou voltando do local de trabalho.

Em onze anos, o número de notificações de acidentes de transporte relacionados ao trabalho aumentou quase seis vezes, passando de 2.798 em 2007 para 18.706 em 2016. Os anos de 2016 (18.706) e 2015 (17.327) foram os que apresentaram os maiores números de notificações para um único ano. Na contramão deste aumento, os óbitos, neste caso, caíram 28% no mesmo período, saindo de 1.447 para 1.393, em 2016.

Para a coordenadora-substituta de Saúde do Trabalhador, Élem Cristina Cruz Sampaio, esses acidentes tem relação com alguns aspectos no trabalho desses profissionais. “Eles estão relacionado à aspectos estruturais e organizacionais, como falta de adesão das normas de seguranças no manejo de veículos e equipamentos que são utilizados durante esse transporte, bem como o fato dos trabalhadores terem pouca qualificação para esse transporte; a longa jornada de trabalho, são esses aspectos que a gente entende como determinante desse tipo de acidente”, destacou.

Ainda de acordo com o estudo, oito em cada 10 acidentes de trânsito relacionados ao trabalho foram sofridos por homens. Por faixa etária, os jovens com idades entre 18 e 29 anos foram as maiores vítimas (40,1%) e quase metade desses acidentes ocorreram nos estados da região Sudeste (47,5%). Quando falamos em lesões, o Sinan registrou que 22,5% delas foram ocorridas em membros inferiores e 15,7% nos superiores. Desses acidentes, 63% evoluíram para incapacidade temporária.

O coeficiente de mortalidade, no Brasil, por acidentes de trânsito relacionados ao trabalho foi de 1,5 óbito a cada 100 mil. Entre os estados, destacam-se Rondônia (4,9), Mato Grosso (4,3), Paraná (3,2) e Santa Catarina (3,1). De acordo com o Ipea, essas regiões possuem fatores que contribuem para esse destaque como maior produto interno bruto (PIB), maior concentração de riquezas, de número de veículos motorizados e de viagens refletem no maior volume de tráfego e de acidentes nesses estados.


AÇÕES DE VIGILÂNCIA E PREVENÇÃO

O Ministério da Saúde em parceria com outros órgãos vem realizando ações para reduzir os óbitos e prevenir esses acidentes. A partir de cooperações com a Polícia Rodoviária Federal (PRF), monitoramento pela Rede Nacional de Atenção Integral à Saúde do Trabalhador (Renast) e Desenvolvimento do Projeto-vida-no-trânsito, a partir de 2010, tem conseguido priorizar a intervenção nos fatores de risco para acidente de trânsito, como o consumo de bebida alcoólica e velocidade inadequada para a via, além de priorizar determinados grupos de vítimas, como os motociclistas, a partir das análises de situação.

Outra ação que conta com a participação do Ministério da Saúde e que tem contribuído para a conscientização da população no trânsito é o Rodovida. Criado em 2014 e coordenado pela Casa Civil da Presidência da República em conjunto com a PRF e participação interministerial, o projeto vem agindo com ações pontuais nas rodovias federais. Durante a sua última vigência, o projeto conseguiu reduzir em 14% o número de mortos no trânsito. Os trabalhos começaram em 22 de dezembro de 2017 e foram concluídos em 18 de fevereiro deste ano, período em que foram contabilizados 2.930 feridos graves, contra 3.012 no ano anterior.

Importantes avanços para a prevenção de acidentes de trânsito estão sendo obtidos no país, a partir da implementação da Política Nacional sobre o álcool, por meio do Decreto nº 6.117/2007, que contempla, entre suas diretrizes, o tema “associação álcool e trânsito”, e da alteração do Código de Trânsito Brasileiro, por meio da Lei nº 11.705 (“Lei Seca”), instituída em 2008. Essa lei impõe severas penalidades para o condutor que dirigir alcoolizado e proíbe a comercialização de bebidas alcoólicas para consumo no local em rodovias federais e terrenos contíguos com acesso a rodovias.


SAÚDE DO TRABALHADOR

A Rede Nacional de Atenção Integral à Saúde do Trabalhador (RENAST) foi criada em 2002, pela Portaria 1.679, com objetivo de disseminar ações de saúde do trabalhador, articuladas às demais redes do Sistema Único de Saúde, na ótica da promoção, assistência e vigilância para o desenvolvimento das ações de Saúde do Trabalhador. Fazem parte desta Rede os Centros de Referência em Saúde do Trabalhador (CEREST), que têm como objetivo realizar apoio para o desenvolvimento das ações de saúde do trabalhador em todos os níveis de atenção, bem como executar ações de fiscalização, investigação e análise de causalidade entre o trabalho e o adoecimento. No Brasil, atualmente existem 214 centros habilitados, sendo 27 estaduais e 187 regionais.

Em 2012, a fim de fortalecer as ações em saúde do trabalhador, o Ministério da Saúde publicou a Portaria 1.823, com ênfase na Atenção Integral à saúde, na Vigilância, na Promoção e Proteção da saúde do trabalhador e na Redução da morbimortalidade, a partir da análise dos modelos de desenvolvimento e processos produtivos.






Victor Maciel
Agência Saúde

Mudança do clima tornou onda de calor européia mais provável, dizem os cientistas


Cientistas descobriram que as mudanças climáticas fizeram com que a atual onda de calor que aflige diversos países no norte da Europa tivesse uma probabilidade duas vezes maior de ocorrer


Pesquisadores da rede World Weather Attribution compararam as altas temperaturas atuais com registros históricos em sete estações meteorológicas no norte da Europa - duas na Finlândia, uma na Dinamarca, na República da Irlanda, na Holanda, na Noruega e na Suécia. Essas estações foram selecionadas porque os dados atuais de temperatura podem ser acessados ​​em tempo real e possuem registros digitalizados que remontam ao início do século XX. Os cientistas também usaram modelos de computador para avaliar o impacto da mudança climática provocada pelo homem.

Para cada ano no registro histórico, eles observaram o período mais quente de três dias consecutivos. Para 2018, foram os três dias mais quentes até o momento - já observados ou em previsão de curto prazo.

"Descobrimos que para a estação meteorológica no extremo norte, no Círculo Ártico, a atual onda de calor é extraordinária - sem precedentes no registro histórico", destacou o Dr. Geert Jan van Oldenborgh, Pesquisador Sênior do Instituto Real de Meteorologia da Holanda (KNMI).

“Embora seja uma descoberta impressionante, é difícil quantificarmos o aumento da probabilidade com precisão, porque as temperaturas no verão variam muito de ano para ano, tornando impossível estimar a tendência a partir das observações. O mesmo vale para as outras três estações do norte.

"Mas para as três estações mais ao sul - na Holanda, Dinamarca e Irlanda - o registro histórico nos permite fazer um cálculo, e mostra que a mudança climática em geral aumentou mais de duas vezes as chances de ocorrência da atual onda de calor."

Destas três estações, a que apresenta o menor aumento na probabilidade devido a alterações climáticas antropogénicas é Dublin, com um fator de 1.2-3,3 e uma melhor estimativa de 2. Para Copenhague, as probabilidades aumentaram por um fator de 2.4-12, com um melhor estimativa de 5; e para De Bild (Holanda), 1.6-16, melhor estimativa 3.3. Para as quatro estações mais ao norte, observações e modelos indicam um aumento na probabilidade, mas muito mais difícil de ser quantificada.

Os cientistas advertem que esta é uma análise preliminar: está sendo publicada antes do final da onda de calor, então a definição do “evento extremo” é em parte baseada na previsão das temperaturas. Resultados quantitativos robustos sobre a temporada de verão na Europa em 2018 só podem ser feitos após o término da estação.

No entanto, dizem eles, o sinal da mudança climática não é ambíguo.

"A lógica que a mudança climática segue é inevitável - o mundo está se tornando mais quente, e ondas de calor como essa estão se tornando mais comuns", disse Friederike Otto, vice-diretor do Instituto de Mudança Ambiental da Universidade de Oxford.

“O que antes era visto como um clima excepcionalmente quente se tornará comum - em alguns casos, já aconteceu. Então, isso é algo para o qual a sociedade pode e deve se preparar - mas também não há dúvida de que podemos e devemos restringir a crescente probabilidade de todos os tipos de eventos climáticos extremos, limitando as emissões de gases de efeito estufa da forma mais rápida possível.”

A equipe da WWA planeja publicar esses resultados formalmente em um periódico científico. Isso fará parte de uma análise mais aprofundada deste verão extraordinário; a equipe também avaliará se a mudança climática desempenhou um papel na alta pressão prolongada observada no norte da Europa desde maio e, em caso afirmativo, até que ponto.

Estudos anteriores publicados pelo grupo mostraram que a mudança climática aumentou as chances de chuvas fortes no norte da Inglaterra no inverno de 2015-16 e em Houston devido ao furacão Harvey, e que a mudança climática não mudou a probabilidade de seca na região de São Paulo.



Mudanças climáticas: nossos esforços são suficientes?


No dia 2 de agosto o Rio de Janeiro sediará a edição brasileira do Diálogo Talanoa, iniciativa global ligada à Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC) que busca discutir alternativas e pensar ações efetivas para a redução das emissões de gases de efeito estufa e combate à intensificação do aquecimento global por consequências antrópicas. A UNFCCC estimula a realização desses diálogos antes da  24ª Conferência das Partes (COP 24), que será realizada na cidade de Katowice, na Polônia, em dezembro. O principal objetivo é incentivar países e sociedade a incrementar esforços para que os objetivos do Acordo de Paris sejam atingidos.

Iniciativas como essa são importantes para relembrar o que temos feito para enfrentar a mudança global do clima. Mas, será que nossos esforços estão sendo suficientes? Pelo Acordo de Paris, ratificado por 179 países para conter as emissões de gases de efeito estufa e garantir o desenvolvimento sustentável, o governo brasileiro colocou como sua meta de contribuição a redução de 37% das emissões até 2025. Além disso, indicou uma contribuição indicativa subsequente de redução de 43% em 2030. No entanto, é importante relembrar que o País usou como referência 2005, ano em que foi registrado o recorde de emissões do País e de desmatamento na região Amazônica. Na época, a destruição da área chegava a 30 mil quilômetros quadrados por ano. Hoje, o desmatamento no local fica em torno de 7 mil quilômetros quadrados/ano. Números esses que praticamente garantiram a meta de redução de emissão de gases, quando a mesma foi estabelecida. 

Apesar do avanço da entrada em vigor do Acordo de Paris,  estamos longe de ter somente motivos para comemorar. O Observatório do Clima – rede que reúne mais de 40 instituições brasileiras atuantes na agenda climática – propõe um teto para emissão de gases de efeito estufa no Brasil. O valor máximo seria de 1 giga tonelada/ano em 2030. Em 2016, foi emitido 1.58 giga tonelada/ano (GtCO2e/ano). A distância da meta reflete que ainda é preciso somar muitos esforços. Além disso, o Brasil é o País que mais desmata florestas tropicais no mundo. Fator que, juntamente com as mudanças de uso do solo, é responsável por metade das emissões nacionais. É preciso enfrentar esse dilema e aproveitar melhor as áreas que já são utilizadas para a produção. Mais de cem milhões de hectares desmatados para a agropecuária estão abandonados no País e o investimento em tecnologias garantiria um melhor aproveitamento dessas áreas, possibilitando um aumento significativo da produção sem a necessidade de novos desmatamentos.

Apesar de praticamente cumprir as metas propostas no Acordo de Paris, o Brasil ainda carece de políticas claras de redução de emissão com a diminuição do desmatamento, fortalecimento de tecnologias e iniciativas que promovam o uso de energias limpas e reduzam o consumo de combustíveis fósseis. Não podemos esquecer também da importância de conservar as áreas naturais que ainda resistem à expansão urbana e da agropecuária. As Soluções baseadas na Natureza são a chave na busca pela melhoria da qualidade de vida. Quanto mais equilibrado estiver o ecossistema, menos impacto a sociedade vai sentir em relação às mudanças climáticas. 

É preciso pensar em soluções agora. As alterações climáticas não são consequências que deixaremos apenas para as futuras gerações. Em várias regiões, vemos problemas gerados por chuvas excessivas ou secas extremas. Em relação à biodiversidade, há o risco de que várias espécies sofram os impactos das alterações do clima. Assim como nós, que já sofremos com tantos eventos climáticos extremos como as fortes chuvas que assolaram a região serrana do Rio de janeiro, em 2011, ou a estiagem que secou torneiras no estado de São Paulo, em 2015. Pensar em ações de adaptação para enfrentar as mudanças que já ocorrem são essenciais, assim como políticas eficientes capazes de frear o aquecimento global. E a resposta para conseguir esse salto está na própria natureza. O uso de Soluções baseadas na Natureza para aumento da capacidade adaptativa de regiões vulneráveis pode também ser parte das ações de mitigação, uma vez que florestas absorvem carbono durante seu desenvolvimento, contribuindo para o atingimento das metas do Acordo de Paris de forma estratégica.






André Ferretti - gerente na Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza, membro da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza e coordenador geral do Observatório do Clima.


Juliana Ribeiro - bióloga especialista em Mudanças Climáticas e analista de projetos ambientais na Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza



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