O
mercado profissional do advogado no Brasil precisa de um novo caminho.
Acabamos
de eleger novos presidentes da Ordem do Advogados do Brasil (OAB), no Conselho
Federal e também nas regionais estaduais, mas o assunto mais importante da
advocacia foi deixado de lado pelos candidatos. O exponencial crescimento do
número de advogados cria, hoje, uma série de problemas de empregabilidade. E o
atual ritmo de expansão vai levar a classe ao colapso.
Não
se tem notícia, de uma classe profissional com diploma de nível superior que
cresça tanto, no mundo inteiro, como crescem os advogados no Brasil. Em uma
progressão geométrica, chegaremos a 2 milhões de advogados, em breve. E a
consequência desse crescimento desordenado é a falta de oportunidade e um
mercado incapaz de assimilar tantos novos profissionais.
Salários
achatados, honorários prostituídos pelo excesso de competição, poucos clientes
e o advento da inteligência artificial já fazem parte do presente da advocacia,
e com viés de piora do quadro. Hoje, temos um nítido crescimento de serviços de
advogados correspondentes, que acabam sendo servos dos grandes escritórios do
país.
A
questão é lógica, hoje no Brasil 93% das empresas são micro e pequenas, soma-se
também a esse número, os microempreendedores individuais (MEIs), contra apenas
7% de médias e grandes empresas. Quando a OAB, por exemplo, a do Estado de São
Paulo coloca em sua tabela o mínimo para advocacia de partido (contratação pela
empresa de escritório ou advogado) o valor de R$ 2.041,00 ela exclui
praticamente 14 milhões de empresas, que não podem pagar por esse serviço,
deixando de dar oportunidade para milhares de advogados.
Levando-se
em consideração que o país tem apenas 15% de famílias com renda acima de R$ 5
mil, ao analisar a tabela da OAB do estado de Santa Catarina, em que a média
dos serviços é em torno de R$ 6 mil, notamos claramente a exclusão da classe C
do acesso a serviços jurídicos, a não ser que em situações emergenciais onde
parcelamentos a perder de vista já são práticas usuais no mercado.
Está
na hora de revolucionarmos o mercado. Abrir novos horizontes e acabar com os
feudos da advocacia brasileira. Os dirigentes da OAB devem abrir, rapidamente,
os olhos para esse problema com vontade de solucioná-lo. Não se pode falar em
valorização da advocacia, sem acesso da massa aos advogados.
Cobrança
de consulta é luxo para a minoria dos profissionais do país, a grande massa
está em um leilão de honorários.
A
democratização da advocacia é o caminho urgente para uma mudança no quadro,
caso isso não aconteça, em um futuro próximo estaremos colocando no mercado uma
imensa quantidade de profissionais com o rótulo do fracasso pela escolha do
curso errado.
Jorge Calazans - advogado criminalista, sócio do
escritório Yamazaki, Calazans e Vieira Dias Advogados, conselheiro federal da
Associação Nacional dos Criminalistas (Anacrim) e diretor-executivo da
Plataforma AstreiaJus