Brasil
e Espanha firmam acordo para troca de experiências em transplantes
Acordo técnico
permitirá intercâmbio de experiências bem-sucedidas, como a de cirurgias que
envolvem coração parado ou de múltiplos órgãos
Duas
referências mundiais vão unir esforços para adotar e aprimorar capacitações,
qualificação e pesquisa na área de transplantes. Nesta terça-feira (11/11), o
governo brasileiro assinou, em Brasília, um acordo de cooperação técnica com o
Ministério da Saúde, Serviços Sociais e Igualdade do Reino da Espanha, por meio
da Organização Nacional de Transplantes (ONT). O documento prevê a formação de
equipes de transplantadores em campos inéditos ou pouco explorados no país,
como o transplante com coração parado (morte circulatória) e de múltiplos
órgãos.
“A Espanha é referência no
desenvolvimento de transplantes no mundo e possui um dos programas públicos
mais avançados no processo, desde a doação até a cirurgia. Apesar de
geograficamente não possuir relação com o Brasil, os dois países se assemelham
muito em questões técnicas, de legislação e de gestão”, afirma o ministro da
Saúde, Arthur Chioro.
A partir da parceria e
projetos-piloto, profissionais do Sistema Único de Saúde (SUS) terão acesso a
experiências bem-sucedidas, como o programa de doação de órgãos a partir de
doadores com coração parado (morte circulatória).. Nesses casos, não há chances
de sobrevivência para a vítima, mas existem técnicas que permitem o
aproveitamento não só do coração, mas mantém de outros órgãos sólidos, como
pulmão e rins. No Brasil, os transplantes só ocorrem após a confirmação da
morte encefálica e com a permissão da família.
Para que esse tipo de
transplante ocorra, além das equipes treinadas para lidar com a vítima de óbito
por parada cardíaca na rua, em casa ou mesmo em situações de internação, os
profissionais de captação de órgãos devem ter um equipamento que mantém o
coração irrigado e funcionando artificialmente até chegar a um hospital
habilitado para fazer a cirurgia. Também deve haver rapidez na abordagem com a
família, uma vez que somente após a autorização dos familiares a retirada dos
órgãos pode ser feita. A logística envolve também a Central de Transplante
local, para que haja agilidade na comunicação e preparação junto à família e a
pessoa que está na lista de espera por um órgão.
Outro caso é o de cirurgias de
intestino, que já são realizadas com sucesso na Espanha, mas pouco praticadas
no Brasil, estando no estágio do campo de pesquisas, em São Paulo. Além disso,
também pode haver troca de experiência nos chamados transplantes compostos ou
de membros (braços e pernas), um tipo de procedimento raro.
Outros itens previstos no acordo
são a discussão da legislação e regulação na área de transplantes, a prestação
de serviços à população, melhoria do transporte e a garantia de qualidade dos
órgãos doados para transplantes, avanços tecnológicos na área, além da
organização de reuniões bilaterais, simpósios e outros encontros, com a
participação de especialistas. O acordo também vai fortalecer o intercâmbio
entre os serviços de saúde e pesquisa.
O acordo de cooperação técnica
foi assinado nesta terça-feira (11), em Brasília, na XIV Reunião da
Rede/Conselho Ibero-americana de Doação e Transplante (RCIDT), cuja secretaria
permanente é de responsabilidade da ONT-Espanha. O evento conta com a
participação de representantes de 20 países latino-americanos e se estende até
quinta-feira (13), na sede da Organização Pan-americana (OPAS) no Brasil.
Durante a abertura do evento, o
secretário de Atenção à Saúde (SAS), Fausto Pereira dos Santos, afirmou que o
acordo assinado é resultado de muitas discussões entre os dois países. "A
Espanha tem sido uma forte inspiração para o Sistema Nacional de
Transplantes brasileiro. Já temos uma parceria longínqua e esperamos
que nosso país possa contribuir com o sistema de transplantes espanhol.
Para o Brasil, essa parceria é mais um passo para aprimorarmos nosso
Sistema, que vem buscando incorporar avanços científicos e tecnológicos",
afirmou o secretário.
Além de fortalecer ações nos
dois países, no caso brasileiro, a parceria trará benefícios na área de
formação. Desde 2004, a Espanha já recebe anualmente profissionais brasileiros
para atividades de capacitação e de especialização na área de transplantes. A
partir do acordo formal de parceria entre os países, haverá o fortalecimento
das ações e atividades.
CIRURGIAS NO SUS - O
Brasil é referência mundial no campo dos transplantes e 95% dos procedimentos
são realizados no (SUS). Trata-se do maior sistema público de transplantes do
mundo. No primeiro semestre de 2014, o país já realizou 11,4 mil transplantes.
Desse total, 6,6 mil são cirurgias de córnea, 3,7 mil de órgãos sólidos
(coração, fígado, rim, pâncreas, rim/pâncreas e pulmão) e 965 de medula óssea.
Em 2013, o Brasil fechou o ano com 23.457 realizados, 11,5% a mais do que em
2010 (21.040).
Em setembro deste ano, foi
lançada a nova campanha publicitária de estímulo à doação, com o slogan ‘’Seja
doador de órgãos e avise sua família. Sua família é a sua voz”. O objetivo é
sensibilizar as famílias sobre a importância da autorização para a retirada de
órgãos após a confirmação de óbito por uma equipe médica. Atualmente, 56% das
famílias entrevistadas em situações de morte encefálica aceitam e autorizam a
retirada de órgãos para a doação.
Ubirajara Rodrigues
Agência Saúde – Ascom/MS