Uma conversa entre amigos com filhos em idade
escolar, ou então uma rápida busca na internet são suficientes para mostrar o
quão controversos se tornaram os grupos de WhatsApp de pais (sobretudo, mães!)
da escola. A questão abre espaço para refletir sobre como as redes sociais, em
especial o WhatsApp, têm contribuído para escancarar comportamentos
precipitados e insensatos. Vivemos numa era em que a internet empoderou a
todos, indistinta e simultaneamente.
E assim, no auge dessa sensação de poder,
a falta de educação fica evidenciada e a intolerância é, infelizmente, a
palavra que revela o comportamento em alta na sociedade de hoje. Ela brota,
silenciosa e invisível, em mensagens ou ‘emojis’ e, rapidamente, evolui no
mundo real chegando até as páginas policiais. A velocidade com que algumas
reações e julgamentos se espalham assusta quando se observa o potencial de
estragos que são capazes de provocar e a quantidade de provas que são
produzidas.
Trazendo a discussão para o universo escolar, temos
os grupos de pais do WhatsApp, que nascem vocacionados para melhorar a
comunicação entre a escola e família. O fato é que tais grupos se multiplicam
entre si, ganham vertentes paralelas e se transformam em tribunais
inquisidores. Pequenos detalhes são aumentados, fatos são deturpados, gerando
um barulho muitas vezes descabido e desnecessário. Bastam um ‘emoji’ ou palavra
mal interpretados, desencadeados por nota baixa ou uma bronca do professor - às
vezes necessária, ou mesmo um conteúdo abordado em sala de aula que não seja do
agrado de um pai ou mãe, e tudo vira combustível que inflama pessoas, revelando
a incapacidade de transitar com educação diante da divergência.
Historicamente, o ato coletivo sempre confere mais
poder que o gesto individual. Por isso, pais preferem se articular antes nos
grupos de WhatsApp, reunindo outras vozes em torno de si e só então levar a
questão para o colégio.
O problema dessa estratégia é que, em boa parte das
vezes, as situações poderiam ser fácil e amigavelmente resolvidas com uma boa
conversa com coordenadores e direção da escola em vez de jogar o assunto para
debates acalorados nas redes sociais. Um pequeno erro ou um mal-entendido tomam
a proporção de crise. Falta serenidade para conseguir enxergar que toda
história tem dois lados e mais de uma parte interessada. Praticar a empatia
(capacidade de se colocar no lugar do outro) e a alteridade (entender que o
outro é o outro, portanto diferente de nós) é que nos permite avaliar a
situação com calma e, porque não dizer, rever posições que julgávamos
imutáveis.
Sabemos que, quando se trata de nossos filhos, temos
a tendência a nos deixar arrebatar pela correnteza do instinto de proteção,
atropelando normas e convenções sociais em nome do amor e também das crenças
que cultivamos depois que nos tornamos pais e mães. Mas precisamos,
obrigatoriamente, enxergar que nossos filhos não são únicos no mundo.
Felizmente, eles estão cercados por outras crianças e adultos e, desde cedo,
devem aprender que se relacionar bem com as pessoas requer controle,
desprendimento e generosidade. E cabe a nós dar o exemplo e ensiná-los essa
importante lição de vida.
Acedriana
Sandi - diretora pedagógica da Editora Positivo.
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