Há mais de meio século, partidos de
esquerda priorizaram a infiltração na política estudantil e a tomada dos seus
organismos de representação. Acompanhei uma parte dessa história e posso
testemunhar que, já então, a conduta dos jovens militantes era, tanto quanto
agora, de estilo autoritário, presunçoso e arrogante. Nas disputas eleitorais, nas assembleias e
congressos estudantis, e na afirmação de suas causas, colocavam-se aqueles
jovens colegas acima da lei, das regras e da ordem. Não surpreende a constante
reiteração de tais comportamentos ao longo dos anos. Afinal, onde o comunismo
foi democrático, respeitoso e tolerante?
Assim, em junho deste ano, por
exemplo, mais de 150 escolas do Estado foram invadidas por pequenos grupos de
estudantes ligados a dois ou três partidos de esquerda. Entravam, aferrolhavam
as portas e declaravam que a escola lhes pertencia. Eles não queriam aulas, que
se danassem, então, os colegas, os professores e todas as famílias prejudicadas
com a paralisação do ano letivo. E ai de quem dissesse que a escola é um
patrimônio público! Era logo rotulado fascista, expressão que podia muito bem,
pelo que estavam a fazer, ser proferida pelos próprios se diante de um espelho.
Outras invasões ocorreram na mesma
época, entre elas a do prédio da Secretaria da Fazenda, no último dia 15 de
junho, durante a greve dos municipários. Eram algumas dezenas de menores de
idade, acompanhados de uma dúzia de adultos. Que relação poderia haver entre a
pauta corporativa dos servidores e o movimento estudantil? Para que precisavam
os maiores, da presença dos menores? Ora, a causa era política, ou melhor, a
política era a causa. Quem não vê? Resultado da operação invasora: muito dano
ao patrimônio público. Para que isso? Procure suas respostas em alguma obra
sobre práticas fascistas.
Feito o rescaldo, ocorreu o
necessário inquérito policial, houve denúncia ao Ministério Público e o
promotor Luís Felipe Tesheiner, incumbido do processo referente aos maiores de
idade, não prevaricou, não deixou de cumprir seu dever funcional. Fez o que
inequivocamente lhe competia diante de um conjunto de crimes simultâneos, que
vão do dano qualificado ao aliciamento de menores. Pronunciou-se pelo
acolhimento, sugerindo uma pena branda de comparecimento periódico ao Foro da
Capital durante dois anos ao longo dos quais os acusados não podem se envolver
em ações semelhantes.
Em sua incomparável capacidade de
escolher o lado errado, afrontar a sociedade, ignorar as vítimas, desprezar os
danos e abraçar os culpados, arrepiaram-se os membros do Conselho Estadual de
Direitos Humanos (CEDH-RS). Cavalgaram o surrado chavão da "criminalização
dos movimentos sociais" e cuidaram de apontar ao digno promotor algo que
seria o verdadeiro "sentido de sua missão constitucional". No entender
do CEDH-RS, esse sentido seria afagar os responsáveis, louvar sua dedicação à
causa que os levou a aliciar, invadir e depredar, e pedir um autógrafo aos
bravos combatentes do movimento revolucionário.
Percival Puggina - membro da Academia Rio-Grandense
de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de
dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo;
Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil. integrante do
grupo Pensar+.
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