Criado para complementar a formação acadêmica, o estágio no Brasil
acabou perdendo seu objetivo educacional com o passar dos anos. Uma cultura
secular arraigada em nosso país parece pensar que estagiário é sinônimo de
mão-de-obra de baixo custo. Uma espécie de ‘faz tudo’ e ‘pau para toda obra’
que é contratado sob os auspícios de aprendizado, mas que não se mostra
efetivo.
Uma explicação para isso pode ser a elevada carga tributária
brasileira associada às pesadas contribuições sobre salários, que tornam a
operação das empresas muitas vezes um desafio. A Lei 6.494 de 1977, que
regulamentava a situação dos estagiários, deixava enormes lacunas, o que
permitia às empresas contratar estagiários com isenção dos encargos sobre os
salários para cumprirem funções e papéis que não tinham relação com seu curso
de formação. A nova lei do Estágio (11.788 de 2008) corrigiu erros da antiga e
regulamentou a atividade, mas ainda existe o ‘jeitinho brasileiro’, ou seja,
continuar contratando estagiários beneficiando-se das isenções, mas sem o
compromisso com o processo de aprendizagem favorável à formação do jovem.
Além disso, também existe a reclamação das empresas que dizem
receber estudantes com pouca formação acadêmica. Para resolver esse problema,
algumas organizações criaram os Programas de Trainee. Neste modelo, as empresas
selecionam profissionais que estejam formados em até, no máximo, 24 meses e os
preparam para atuação em posições de gestão. É uma resposta das empresas à
fragilidade de formação e modelo de preparação que as instituições de ensino
ofertam.
Outra solução seria a chamada Aprendizagem Cooperativa ou CO-OP.
Esse modelo vem sendo aplicado com excelentes resultados na Universidade de
Waterloo, no Canadá, e adotado em outras Universidades mundo afora. A
Aprendizagem Cooperativa é baseada em pesquisas que defendem a necessidade de cooperação
como condição de desenvolvimento e progresso. Funciona com a revisão dos
programas de ensino e aprendizagem que faz uma intercalação entre períodos
letivos e momento com imersão total no mundo do trabalho, realizando avaliações
e supervisão permanentes. O estudante consegue alternar estudo com prática,
fazer rodízio de funções, explorando opções para carreira e construindo um
networking.
Nessa modalidade, as empresas identificam talentos e ganham com as
novas ideias e motivação dos estudantes. As instituições de ensino que oferecem
essa possibilidade atraem mais estudantes, com aumento da visibilidade e
reputação, já que proporcionam enriquecimento da comunidade educacional com
graduados bem preparados e projetos colaborativos com os empregadores.
Mas, o que seria ideal no Brasil? É necessário que o sistema de
estágio seja adequado a cada realidade social, cultural e local. Quando um
sistema é suficientemente flexível para permitir adequações a cada realidade,
boas experiências podem ser obtidas e bons resultados conquistados. Para isto,
é fundamental que o estudante aplique no mundo do trabalho os conceitos que
aprendeu na escola. E para a empresa deve ser visto como um investimento na
renovação da organização, com as ideias e entusiasmo do jovem, que trará da
escola novas visões de mundo que poderão ser adequadas à realidade corporativa.
Para isto ocorrer, a empresa precisa estar aberta ao novo e a escola deve
efetivar seu papel formativo e se beneficiar das experiências das organizações
para rever permanentemente seus currículos e práticas.
Marcus Garcia - Especialista em
inteligência motivacional e gestão de pessoas, e atua como professor do
Instituto Superior de Administração e Economia (ISAE), de Curitiba (PR).
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