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quinta-feira, 27 de outubro de 2016

Austeridade




Política de austeridade, quando vilões
Arrasaram a coisa pública e o social
Paradoxo a amarrotar os homens anões
Que produzem e só recebem o mal.

Enganam-se os que pregam igualdade
Contudo, sob o tacão de outro massacre
Em que morre também a liberdade
Estocada sob o monturo da luta de classe.

Haverá um dia de descortino geral
Em que a sociedade viverá o acordo
Do consenso e do equilíbrio racional?

Por ele pregamos o justo e a reforma
Austeridade e penas para os sicários
Ressureição de um país lançado à lama.


  
Amadeu Roberto Garrido de Paula - advogado e poeta. Autor do livro Universo Invisível e membro da Academia Latino-Americana de Ciências Humanas.  



LIÇÃO DE BOA POLÍTICA



 Os dois prefeitos que estão coexistindo na cidade de São Paulo – o eleito e o que deixará o cargo em janeiro – protagonizam um raríssimo caso de civilidade política, de postura republicana e de respeito à voz das urnas. Poucos dias após as eleições municipais, João Dória e Fernando Haddad se reuniram para acertar a etapa de transição, que anunciaram como histórica e colaborativa, visando ao bem da população. Também informaram que o primeiro passo será dado com a participação de técnicos da equipe de Dória no plano de combate às enchentes no próximo verão, que já está em elaboração pela administração Haddad.

Vale destacar que os dois prefeitos pertencem a partidos adversários e que ambos disputaram o primeiro turno da mesma eleição, colocando-se, respectivamente, em primeiro e em segundo lugar. Fato esse que realmente tornará histórica a transição entre dois governantes. Vale lembrar que a crônica política registra casos extremos, como políticos que zeraram (quando não engordaram as dívidas) dos cofres públicos antes de deixarem os cargos ou aqueles que até saíram pela porta dos fundos, recusando-se a sequer cumprimentar o sucessor escolhido pelos eleitores.

A par dos elogios que merece, a atitude dos dois políticos paulistanos – um buscando colaborar para assegurar a continuidade dos serviços da prefeitura e outro reconhecendo os acertos da gestão de seu antecessor –, pode ter adicionalmente um efeito salutar sobre a intolerância e a agressividade cada vez mais agudas nas ruas e nas redes sociais, que estão dividindo as pessoas, inclusive amigos, familiares e colegas de trabalho. Ou seja, em lugar de estimular um saudável e produtivo embate de ideias e propostas entre adversários partidários ou ideológicos, a diversidade de opiniões políticas está criando um verdadeiro campo de batalha, no qual vale tudo para impor posições, até insultos, xingamentos e rompimentos de relações pessoais estreitadas ao longo de décadas.

Parece que largos segmentos da população estão esquecendo que a democracia pressupõe espaço e respeito a diferentes visões de mundo e de políticas públicas. E que uma das mais belas características do Estado Democrático de Direito é exatamente o debate produtivo entre os contrários, que pode gerar uma rica soma de propostas, soluções e sugestões, a serem aplicadas em benefício de todos.   


Luiz Gonzaga Bertelli - presidente do Conselho de Administração do CIEE


Integrar é preciso




A inovação é um conceito que não foi bem assimilado pela sociedade brasileira ao longo das últimas décadas. Criaram-se algumas ilhas de excelência tecnológica, mas falta um sistema articulado de inovação no país. Não há um processo integrado, capaz de impor maior produtividade aos recursos aplicados em pesquisas. Faltam ligações entre os atores do processo. Ou seja, predomina uma visão linear do processo em detrimento de uma visão sistêmica.

O efeito da falta de integração entre os atores do sistema de inovação se reflete na péssima colocação brasileira no relatório Global Innovation Index, que classifica 128 países em 2016 com base na comparação entre eles de itens definidos como insumos para a inovação e os seus produtos. São listados nações de alta, média e baixa renda. No caso brasileiro o adequado é sua comparação com economias emergentes e um caso interessante é a China. No geral, os chineses ficaram na 25ª posição e o Brasil no 69º lugar.

No item instituições o Brasil fica à frente da China, que tem má avaliação por conta de seus entraves políticos e regulatórios. O maior problema brasileiro nesse quesito refere-se ao burocrático ambiente de negócios.

Em relação ao quesito capital humano e pesquisa a situação brasileira em relação à China é muito desfavorável, com destaque negativo para a péssima posição do país nos componentes educação e ensino superior, ainda que nesse último elemento a situação chinesa também não é favorável.

Em infraestrutura em geral o Brasil fica muito atrás da China. Os chineses mostram situação pior que a brasileira no item tecnologia da informação.

No tocante a mercado a situação brasileira é muito ruim em relação ao crédito. Já na China o problema nesse quesito está relacionado à competição.

No elemento relacionado aos negócios o Brasil fica atrás na qualificação dos trabalhadores e na absorção de conhecimento. A pior situação chinesa está nas ligações de informações entre as universidades e o setor produtivo.

Em termos do resultado do processo de inovação a situação brasileira é vexatória. O país tem péssima avaliação em termos de difusão, impacto e criação de conhecimento. Os chineses se destacam em relação a esses elementos, ficando entre os primeiros no ranking.

Em termos de produção criativa a situação brasileira é melhor que a chinesa por conta da péssima posição daquele país em termos de criatividade on line, uma vez que na China há severas restrições de acesso às redes sociais.

 Em todos os itens que a inovação contempla o Brasil mostra severas deficiências. O exemplo comparativo com a China revela que o país tem um longo caminho a percorrer. Mudar esse quadro vai além de medidas pontuais. A saída é integrar governo, empresas e universidades.

Inovar deve ser pensado em um cenário marcado pela interação entre capital, conhecimento e empreendedorismo. Esses elementos devem atuar em um ambiente que seja capaz de captar suas ações e integrá-las para que haja eficácia em termos da produção de inovação, fator cujo peso é preponderante para o desenvolvimento econômico sustentado.




Marcos Cintra é doutor em Economia pela Universidade Harvard (EUA), professor titular e vice-presidente da Fundação Getulio Vargas. É presidente da Finep (Financiadora de Estudos e Projetos).
                               

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