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quinta-feira, 31 de agosto de 2017

Psicoterapia reequilibra atividades cerebrais saudáveis de pacientes que sofreram traumas psicológicos



 Falar sobre o trauma pode alterar funções no córtex pré-frontal e ajudam a superar a dor


A maioria de nós passou ou passará por situações estressoras que podem configurar traumas psicológicos. E, ao contrário do que o senso comum acredita, psicólogos e psiquiatras começam a reconhecer o trauma como uma oportunidade para os indivíduos transformarem suas vidas para melhor. Muitas das vítimas dos traumas psicológicos vivem o resto da vida assombradas pela lembrança do evento motivador do trauma. Porém, estudos em neurociências revelam que existe o outro lado da moeda. 

O psicólogo clínico e neurocientista Julio Peres comprovou as mudanças palpáveis de perspectivas e qualidade de vida e de atividades cerebrais nos seus estudos com neuroimagem em pacientes traumatizados que fizeram psicoterapia. Em um dos estudos, Dr. Peres investigou 16 pacientes com estresse pós-traumático parcial (que não apresentam todos os critérios de diagnóstico). Eles passaram por quatro meses de psicoterapia. Os indivíduos narraram o momento traumático várias vezes de maneira tecnicamente orientada. Depois, foram convidados a relembrar situações difíceis que foram superadas anteriormente, assim como as respectivas sensações e emoções positivas. Exames de neuroimagem ao final do tratamento que envolve estratégias de superação revelaram que o funcionamento cerebral é modificado significativamente, em comparação com os primeiros exames feitos antes da psicoterapia.

“Experiências traumáticas podem criar oportunidades de crescimento pessoal através da introdução de novos valores e perspectivas para a vida, que podem ser apreendidas na psicoterapia”, afirma o psicólogo e neurocientista. 

"Quem passou pela psicoterapia apresentou maior atividade no córtex pré-frontal, que está envolvido com a classificação e a 'rotulagem' da experiência”. 

A melhora da qualidade de vida após a psicoterapia se relaciona geralmente com cinco fatores: desenvolvimento de novos interesses e objetivos; apreciação e valorização da vida; melhor relação familiar e interpessoal; resgate da religiosidade e espiritualidade no dia-a-dia; e descoberta de força e recursos pessoais para superação de adversidade. "Por outro lado, a atividade da amígdala, que está relacionada à expressão do medo, foi menos intensa, que se refere a maneira nova de olhar a dor, como aliada ao aprendizado e crescimento”, finaliza.





Mês Mundial da Doença de Alzheimer: menos de 50% dos portadores são diagnosticados.



Setembro é Mês Mundial da Doença de Alzheimer. Durante os próximos 30 dias serão promovidas ações em todo o mundo, especialmente no dia 21, o Dia Mundial da Conscientização sobre a Doença de Alzheimer, com o objetivo de destacar a importância da detecção precoce dessa patologia. 

O tema da Campanha Mundial de Conscientização sobre o Alzheimer neste ano é “Lembre-se de mim” (Remember Me, na versão original). O tema foi escolhido porque menos de 50% dos portadores de Alzheimer recebem esse diagnóstico e têm acesso aos tratamentos disponíveis.

De acordo com neurologista Roger Taussig Soares, o Alzheimer é uma doença degenerativa do cérebro, decorrente do acúmulo de proteínas como o amiloide beta e a proteína tau, que formam aglomerados proteicos tóxicos para as células cerebrais, ocasionando sua morte. “Os sintomas são decorrentes da dificuldade de comunicação nas redes cerebrais e da morte neuronal”, explica.

Quanto mais idosa a população, maior o número de pessoas com Alzheimer. 
Isso significa que há cada vez mais doentes no Brasil, por conta do aumento da expectativa de vida. “Atualmente estima-se que existem cerca de 1,3 milhão de indivíduos acometidos em nosso País. No mundo, considera-se de mais de 40 milhões de pessoas têm a patologia”, adverte o neurologista.

Soares instrui que o diagnóstico antecipado pode auxiliar no tratamento da doença, na orientação dos cuidadores e no planejamento para o futuro. “Pessoas diagnosticadas na fase inicial da doença são capazes de tomar decisões de vida, inclusive para realizar sonhos que ficaram no passado”, preconiza. 

Além disso, o diagnóstico entre os vários tipos de demência é mais fácil no início da doença, permitindo diferenciar o Alzheimer de outras formas de demência, inclusive de algumas que são potencialmente reversíveis, como a deficiência de vitamina B12 ou a hidrocefalia de pressão normal.

Há vários estudos científicos em andamento com medicamentos que poderão atuar no desenvolvimento da doença. O neurologista conta que a comunidade médica aguarda para outubro desse ano o resultado dos testes com uma droga denominada Inteperdine, que age sobre os receptores de serotonina, uma forma inovadora de atacar a doença de Alzheimer.

“Esperamos que as novas pesquisas resultem em tratamento eficazes que retardem o aparecimento e a evolução da doença; mas nosso maior objetivo e esperança é encontrar meios efetivos para prevenção”, conclui.




Roger Taussig Soares - formado em Medicina pela Universidade Estadual de Londrina, com Residência Médica e Pós-Graduação em Neurologia Clínica pela Universidade de São Paulo. É membro da Academia Brasileira de Neurologia e da American Academy of Neurology. É médico neurologista nos Hospitais Albert Einstein, Oswaldo Cruz e Beneficência Portuguesa, além de atuar em consultório próprio em São Paulo. 




Medicina é humanismo, amar gente



É evidente que a prática da medicina no Brasil atualmente fica cada vez mais difícil. Seja na rede pública ou privada, os problemas são recorrentes e parece faltar vontade política das autoridades de plantão para enfrentá-los e buscar solução.

Planos de saúde pressionam médicos a reduzir procedimentos e pedidos de exames muitas vezes essenciais à boa assistência. O Sistema Único de Saúde, perfeito, no papel, está à beira do caos. Carece de investimento, oferecendo aos cidadãos um cardápio de dificuldades: a espera por consultas só aumenta, há carência de leitos, de insumos básicos e de recursos humanos, entre outras.

O próprio ensino da medicina caminha na contramão do bom senso. A formação não visa a qualidade de vida das pessoas. Longe disso. Escolas médicas são abertas sem qualquer critério, sem a mínima base ao aprendizado.

Assim, pululam faculdades sem hospital-escola, de grade pedagógica medíocre e desprovidas de preceptores de bom nível. O resultado é uma enxurrada anual de novos “doutores” de mentirinha.  Recentes avaliações com médicos saídos dessas escolas evidenciam que nós, os pacientes, corremos perigo.

O Exame do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (CREMESP), já em sua 11ª edição, é um alerta sobre as distorções que aqui exponho. Em 2016, houve reprovação de 48% dos participantes. Ou seja, quase metade dos recém-formados não conta com a base mínima para passar na prova, que é bem rasa, aliás. Principalmente os que saem das instituições particulares, cujo percentual de inaptos chega a 58%.

Outro levantamento da Sociedade de Medicina e Cirurgia de Campinas com médicos e acadêmicos da região concluiu que 61% alegam que a faculdade não contribuiu em nada, ou de forma pífia, para atuação frente ao mercado de trabalho, em relação às operadoras de saúde.

A mesma declaração é utilizada referente à gestão e administração do negócio (57%) e do direito médico (30%). Ou seja, o profissional sai das escolas sem capacidade de lidar com os problemas da sociedade e com a rotina do ambiente de trabalho.

A maioria, não é exagero afirmar, serve no máximo para tratar de gripe e dor de barriga. Se tivermos algo mais complicado do que isso, é prudente escolher a dedo com quem se consultar.

Se todo o exposto já não fosse suficientemente trágico, existe também a perda da essência do “ser médico”. Em hospitais, clínicas e unidades de saúde, pacientes não têm mais nome. São chamados pelo número do quarto, a categoria do plano de saúde, a senha de espera, essa, aliás, interminável. O aperto de mão e a arte de ouvir, assim como o toque, morrem aos poucos, enquanto cresce o poder das indústrias de equipamentos sofisticados e medicamentos.

Nem precisaria escrever aqui, mas o faço só para deixar o preto no branco.
A principal vítima de toda essa sandice e do jogo de interesses que estão
transformando a medicina/saúde é o paciente.

Antes que tenhamos um desfecho catastrófico nessa história toda, convido você, caro leitor e cidadão do bem, a resistir, a denunciar e se mobilizar. Ou tomamos o destino da saúde em nossas mãos ou nos preparamos para o pior. Não, isso não!





Antonio Carlos Lopes - presidente da Sociedade Brasileira de Clínica Médica.





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