O conceito de humanização vinculado ao ambiente hospitalar se deu em meados do século XX com o início do debate sobre a necessidade de renovar tais espaços, atrelado à discussão sobre saúde e doença. Esta visão foi ampliada para todos os atendimentos com foco, principalmente, nas unidades de pediatria, pensando no acolhimento às crianças em tratamento. Com isso, o espaço físico hospitalar passa a ter um olhar acolhedor ao paciente, alterando a percepção de impessoalidade e hostilidade.
Um estudo de casos
realizado pela Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) sobre humanização em
unidades de quimioterapia ambulatorial pediátrica mostrou que a valorização do
paisagismo, ampla entrada de luz natural para promover contato com o ambiente
externo, iluminação suave em departamentos assistenciais e atenção à família
são estratégias de humanização adotadas nas nove instituições de saúde
avaliadas. O Hospital Infantil de Suzhou, na China, por exemplo, projetado em
2010 pelo escritório HKS Architecture, teve sua fachada inspirada em uma pipa
colorida, com cores que mudam de tonalidade conforme a posição do sol, criando
um momento de descontração para as crianças atendidas e os familiares que os
acompanham.
Considerando, também,
os atendimentos adultos, esse novo conceito arquitetônico passa a ser percebido
nos quartos de internação, nas áreas de medicação e em todo o local por onde o
paciente circula, se parecendo cada vez mais com um hotel. Com a pandemia da
Covid-19, o que se percebe é a necessidade de ampliar esse olhar humanizado
para os profissionais da saúde, que enfrentam jornadas longas, grande carga de
trabalho e, consequentemente, alto nível de estresse.
Em 2016, uma pesquisa
da Sodexo mostrou que empresas que investem na qualidade de vida de seus
colaboradores apresentam clima no trabalho 91% melhor do que as que não
investem, além de um aumento de 86% na produtividade, 70% na rentabilidade e
76% na atração de talentos. E qualidade de vida no trabalho também é sinônimo
de uma estrutura arquitetônica planejada com foco no bem-estar da equipe. Isso
é possível por meio da neuroarquitetura, que estuda como o ambiente físico
impacta no cérebro das pessoas.
O conceito passa pela
biofilia, que consiste na conexão da natureza com o ser humano, seja por meio
de plantas ou materiais que remetam à natureza, como um piso em madeira,
jardins de espera ou de descanso; pela chamada experiência do usuário
(conhecida pelo termo em inglês, user experience), que permite o
fortalecimento da marca ao gravar, de forma positiva, aquele ambiente na
memória do usuário; e pela neurociência das cores e luzes, que aponta como o
cérebro de uma pessoa se comporta diante de informações captadas visualmente.
É importante ressaltar
que, dentro de um programa de arquitetura hospitalar, existem fluxos e
ambientes que são obrigatórios para o corpo clínico e equipe administrativa,
como sala para reuniões, espaço de descanso para a equipe, copa para refeições.
A questão, a partir de agora, será a qualidade do que é fornecido. Se o
hospital tem que ter um local para descanso do plantonista, a partir da
pandemia, ele deve oferecer mais qualidade e apostar em mais unidades, em mais
espaço, e até mesmo deixar esses ambientes mais bonitos. Será aprimorado aquilo
que já obrigatoriamente teria que existir.
Visto que este setor
tem recebido uma forte carga de pressão, muito acima dos outros mercados, é
preciso repensar rapidamente o ambiente hospitalar como um todo, não com foco
unicamente aos pacientes. Uma estratégia pode ser criar condições que estimulem
que o funcionário se levante, caminhe, tenha acesso à luz natural - o que é
fisiologicamente benéfico -, tenha uma área de descanso mais adequada. Ainda
que a tendência, com o fim da crise sanitária, seja voltar a uma rotina mais
equilibrada, os hospitais deverão dar mais atenção a um espaço de descanso e de
trabalho mais pensado e preparado, não só aos pacientes, mas também aos
médicos, enfermeiros, auxiliares, assistentes sociais e demais funcionários.
Denise Moraes e Érica
Prata
AKMX
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