Dados foram
apresentados nesta quinta-feira (21) durante Reunião Anual da Sociedade
Americana de Medicina Tropical e Higiene (American Society of Tropical Medicine
and Hygiene/ASTMH), nos Estados Unidos.
Pesquisadores do World Mosquito Program (WMP)
apresentaram nesta quinta-feira, 21, novas evidências de redução de arboviroses
em áreas onde foi feita a liberação de Aedes aegypti com Wolbachia
no Brasil, Indonésia, Vietnã e Austrália. A Wolbachia é uma bactéria intracelular
que, quando presente nos mosquitos, impede que os vírus da dengue, Zika e
chikungunya se desenvolvam bem dentro destes insetos, reduzindo assim a
transmissão dessas doenças.
Dados preliminares do WMP, iniciativa global que no
Brasil é conduzida pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), apontam uma redução de
cerca de 75% nos casos de chikungunya em Niterói (RJ) nos últimos dois anos,
quando comparadas as áreas do município que receberam os mosquitos com
Wolbachia, com áreas que não receberam. "Nós monitoramos os dados a partir
das informações de vigilância do Ministério da Saúde e, no caso da chikungunya,
neste período de análise, identificamos esta significativa redução nas áreas
tratadas”, destacou Betina Durovni, coordenadora de epidemiologia do WMP
Brasil.
Estes dados foram apresentados nesta quinta-feira
(21), pelo pesquisador da Fiocruz e líder do WMP no Brasil, Luciano Moreira,
durante Reunião Anual da Sociedade Americana de Medicina Tropical e Higiene
(American Society of Tropical Medicine and Hygiene/ASTMH), nos Estados Unidos.
O WMP Brasil atua em Niterói e no Rio de Janeiro
desde 2016. Como as liberações de Aedes aegypti com Wolbachia começaram
por Niterói, estas primeiras informações divulgadas são daquele município. Os
dados são preliminares e um estudo completo, com informações sobre as duas
cidades, deverá ser divulgado até 2022.
Também foram apresentados na Reunião Anual da
Sociedade Americana de Medicina Tropical e Higiene, dados da ação do WMP
na Indonésia, Vietnã e Austrália. O trabalho do World Mosquito Program na
Indonésia envolveu a liberação de mosquitos com Wolbachia em uma área de cerca
de 65 mil pessoas próxima à cidade de Yogyakarta. As liberações começaram em
2016. A redução registrada foi de 76% nas notificações de dengue entre a
população-alvo registrada pelas autoridades locais de saúde, em comparação com
uma área de controle não tratada nas proximidades.
A pesquisadora e especialista em epidemiologia do
WMP, Katie Anders apresentou resultados de um estudo de campo realizado nas
proximidades de Nha Trang, no Vietnã, onde pouquíssimos casos de dengue foram
relatados durante o ano seguinte à liberação de mosquitos com Wolbachia do WMP.
As liberações ocorreram em 2018. Esta baixa incidência de casos de dengue na
área de intervenção foi documentada em um momento em que o próprio município de
Nha Trang enfrentava um de seus maiores surtos de dengue.
Anders também apresentou resultados publicados no
início deste ano, mostrando que no extremo norte do estado de Queensland, na
Austrália, houve a interrupção da transmissão local de dengue. As liberações de
mosquitos com Wolbachia começaram oito anos atrás e levaram a uma redução de
96% nos casos de transmissão local de dengue.
"Estamos muito animados com o impacto na saúde
pública que estamos vendo. Isto destaca o potencial dessa abordagem para
combater a dengue e as doenças relacionadas a mosquitos em uma escala
global", ressalta o professor Cameron Simmons, diretor de avaliação de
impacto e especialista na área de epidemiologia do WMP. "As evidências têm
apontado que, nas áreas onde os mosquitos com Wolbachia foram liberados, há
menos relatos de dengue do que em áreas não tratadas".
Os pesquisadores do WMP enfatizaram que as
liberações de mosquitos sempre são precedidas de ações de engajamento para
informar as comunidades locais sobre a segurança da Wolbachia e o impacto no
ecossistema. O Método Wolbachia do WMP não envolve qualquer modificação
genética, nem da bactéria, nem do mosquito.
A Wolbachia está naturalmente presente na maioria
dos insetos, mas não é encontrada nos mosquitos Aedes aegypti que
são os vetores da dengue, chikungunya e zika - todos pertencentes a uma classe
de vírus chamada arbovírus.
"Este é um trabalho animador, realizado no
meio de uma explosão de infecções de dengue que as autoridades de saúde estão
achando muito difíceis de controlar", ressaltou o presidente da Sociedade
Americana de Medicina Tropical e Higiene, Chandy C. John. "A combinação de
ciência avançada e engajamento comunitário comprometido é impressionante - e
essencial para o seu sucesso."
As evidências existentes de reduções na dengue
relacionadas aos mosquitos com Wolbachia são consistentes com as previsões realizadas
em estudos já publicados de modelagem. "Estamos muito empolgados com o
fato de esse método autossustentável e econômico ter sido adotado pelas
comunidades e oferecer os benefícios de saúde pública que esperávamos",
disse Simmons, diretor do WMP. "Nosso desafio agora é trabalhar com
parceiros e governos para levar o método a 100 milhões de pessoas até
2023".
WMP Brasil
wmpbrasil.org
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