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sexta-feira, 13 de julho de 2018

Senado aprova proposta que mantém subsídio da indústria de refrigerantes: medida pode trazer consequências à saúde brasileira


Benefícios tributários haviam sido cortados durante a Greve dos Caminhoneiros. Nova proposta vai contra a tendência internacional de redução do consumo de alimentos industrializados

 
Na última terça-feira, 10, o Senado aprovou a revogação do decreto que acabava com um subsídio para o setor de refrigerantes. O projeto segue para a Câmara dos Deputados. A decisão ignorou argumentos referentes aos malefícios à saúde, bem como a movimentação global em prol da diminuição do consumo de bebidas açucaradas.

O decreto de Michel Temer surgiu em meio à Greve dos Caminhoneiros, fazendo parte de um pacote de medidas para compensar a redução de R$ 0,46 do litro do diesel e que custará R$ 13,5 bilhões aos contribuintes brasileiros. A medida representava grande passo para a saúde brasileira, visto que a taxação de bebidas açucaradas tende a diminuir o consumo desse tipo de produto, que está associado ao desenvolvimento de doenças crônicas como obesidade, Diabetes tipo 2 e problemas cardiovasculares. Porém, com a decisão do Senado, o Brasil está prestes a enfrentar um retrocesso.

O subsídio milionário concedido à indústria de refrigerantes acaba sendo um contrassenso não só para a economia do País, mas para a saúde pública. “Enquanto a Organização Mundial da Saúde e associações profissionais do mundo discutem o aumento de impostos para bebidas açucaradas, subsidiar o setor vai contra a tendência internacional. Nos países com taxação desses produtos, há redução da compra e, consequentemente, redução do consumo”, afirma a Dra. Maria Edna de Melo, presidente da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica (ABESO).

De acordo com a Pesquisa de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel), de 2017, do Ministério da Saúde, mais da metade da população nas capitais brasileiras está acima do peso. A obesidade tem causa multifatorial, sendo fruto da combinação da predisposição genética e fatores ambientais. Dessa forma, o consumo excessivo de alimentos industrializados ricos em açúcar, gordura saturada, sal e calorias – os denominados nutrientes críticos – pode ser um fator agravante dessa condição.

A decisão contraria, ainda, a tentativa da ANVISA de contribuir para uma educação nutricional voltada à busca de uma dieta mais saudável ao mudar a rotulagem de alimentos, de forma que as informações nutricionais fiquem mais claras. “A rotulagem tem sido alterada para deixar os nutrientes críticos mais evidentes à população, como uma forma de alertar que aquele alimento não é saudável e, assim, diminuir o acesso a esses produtos. Subsidiar uma indústria que produz alimentos que não contribuem com a saúde da população vai contra essa tentativa de educação”, afirma Débora Bohnen Guimarães, coordenadora do Departamento de Nutrição da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD).

A Gerência Geral de Alimentos da ANVISA publicou, no final de maio, o Relatório Preliminar de Estudo de Impacto Regulatório sobre Rotulagem Nutricional, que aponta como principal problema da atual forma de regulamentação a dificuldade de compreensão da rotulagem nutricional pelos consumidores brasileiros. “A proposta de rotulagem frontal de advertência, demonstrando a presença de nutrientes críticos, ajuda a população a fazer melhores escolhas alimentares e poderia contribuir para a redução da progressão alarmante dessas doenças no País”, comenta Débora.

A indústria alimentícia não é só uma parte vital da economia nacional, mas é também uma facilitadora da rotina da população. É necessário que tenha um apoio no sentido de desenvolver produtos com melhor composição nutricional. “A indústria também tem um compromisso social e isso deveria ter um peso maior quando estamos tratando de saúde. Quem deveria se beneficiar do subsídio oferecido pelo governo é quem produz frutas, verduras e legumes, que são os alimentos que precisam estar mais presentes na rotina das pessoas”, conclui a presidente da ABESO.
 





Sobre a SBD
Filiada à International Diabetes Federation (IDF), a Sociedade Brasileira de Diabetes é uma associação civil sem fins lucrativos, fundada em dezembro de 1970, que trabalha para disseminar conhecimento técnico-científico sobre prevenção e tratamento adequado do diabetes, conscientizando a população a respeito da doença e melhorando a qualidade de vida dos pacientes. Também colabora com o Estado na formulação e execução de políticas públicas voltadas à atenção correta dos pacientes, visando a redução significativa da doença no Brasil.
Conheça nosso trabalho: www.diabetes.org.br


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