Tem gente que se adapta às lentes
bifocais ou multifocais com a maior facilidade. Outros levam um tempo maior
para se sentirem seguros e, por fim, há sempre aqueles que preferem ter vários
óculos para diferentes necessidades. Certamente, tem menos trabalho quem se
adapta logo às lentes que vão se ajustando às necessidades de a pessoa enxergar
de perto, meio perto, e de longe. Mas o médico Renato Neves,
diretor-presidente do Eye Care Hospital de Olhos, alerta para o risco de
quedas – principalmente em relação aos idosos. “No começo, a pessoa pode ser
induzida a pisar em falso algumas vezes. Isso se deve à falta de foco – que
pode durar alguns segundos. Com a visão levemente embaçada, é comum errar o
passo e tropeçar ou cair. Daí a importância de redobrar os cuidados nessa fase,
até estar plenamente adaptado à lente multifocal”.
O médico explica que essa
percepção de imagem desfocada, borrada, é maior quando a pessoa está olhando
para a frente de onde está pisando. Estudo realizado na Universidade de
Tecnologia de Queensland, na Austrália, detectou aumento na quantidade de
quedas em idosos que estão tentando se adaptar aos óculos com lentes bifocais.
Dezenove pessoas com idade média de 72 anos e visão normal fizeram uma série de
tarefas relacionadas às suas pisadas. Depois, fizeram os mesmos testes
usando óculos que provocavam visão manchada – similar à dos óculos multifocais.
Os registros finais revelaram que os participantes cometeram muitos erros no
posicionamento dos pés, ficando predispostos a quedas.
Neves afirma que é bastante
normal passar por um período de adaptação dos óculos bifocais ou das lentes
progressivas. “Mas é fundamental que o médico oftalmologista pergunte a seu
paciente sobre as atividades que pratica, o trabalho que desempenha, se costuma
dirigir, cozinhar, ler, costurar, ou praticar qualquer outro hobby. Enfim,
conhecer os hábitos de visão do paciente é meio caminho andado para que ele se
acostume mais rapidamente com as lentes que se adaptam às necessidades do
momento. São necessárias medições de ajuste bastante precisas para que as
lentes funcionem corretamente”.
De acordo com o oftalmologista,
cérebro e olhos têm de aprender a se ajustar às lentes progressivas – tão
necessárias para quem já passou dos 45 anos. “Os pacientes vão, aos poucos, se
acostumando a mudar o posicionamento da cabeça para enxergar melhor e com mais
confiança. Para olhar para a frente, por exemplo, devem usar apenas a parte de
cima das lentes. Já para subir uma escada, devem usar a parte de baixo da
lente. Pessoas que não se adaptam de jeito nenhum a esse tipo de lente podem
optar pela cirurgia a laser para corrigir a presbiopia – que é justamente esse
distúrbio da visão provocado pela perda de elasticidade do cristalino, a lente
natural do olho. Principalmente hoje em dia, quando todos estão antenados às
redes sociais via smartphone, ninguém deseja ficar no troca-troca de óculos – o
que seria um retrocesso”.
Prof. Dr. Renato
Augusto Neves - médico oftalmologista, diretor-presidente do Eye
Care Hospital de Olhos, em São Paulo, e autor do livro “Seus Olhos”
(Editora CLA).
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