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segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Dinheiro, vida e morte




Um cidadão japonês já perdeu sua vida. Ninguém é capaz de avaliar o sentido da perda da vida. Suposições não têm conta. Outro seguirá o mesmo destino. Fuzilados covardemente pelo Estado Islâmico, a exemplo de outras pessoas estrangeiras, em execuções em série.
Ao governo do Japão, foi pedido 200 milhões de dólares para não perpetrar a sórdida execução. O governo resistiu. O preso remanescente criticou sua nação por não salvá-los. O premiê japonês, Shinzo Abe, permanece irredutível.
A súplica comove, porquanto a morte é a escuridão ignorada. No entanto, razão assiste ao governo. Chantagens de todo tipo já foram suportadas por muitas pessoas físicas, jurídicas e políticas. Estas, porém, cuidam do Estado. E o Estado vergado é estado demolido. A sociedade não tem mais seu suporte ordenatório, de defesa e respeitabilidade. A nação fica debilitada, à beira da morte.
A grande pergunta: tais valores políticos valem uma vida? Cremos que sim. Poderemos ser chamados de hipócritas. A vida alheia. Não a nossa, que não deve servir aos interesses fundamentais comuns.
Meditemos, ainda que o preço seja nossas próprias vidas. Os 200 milhões de dólares do povo japonês, hoje, por dois compatriotas que caíram no mais profundo desfiladeiro da infelicidade. Amanhã, mais 200 e assim por diante. Ceder a uma chantagem, como é curial, é torna-se servo do chantagista. Não há vida pior. Em se tratando de uma grande nação como a japonesa, a debilidade consequente fere fundo a sociedade, que se torna desprotegida, sujeita aos sicários como esses delinquentes situados na escala mais elevada do desprezível.
Percebe-se a dor do chefe de governo ao não ficar de joelhos frente a esses seres ignóbeis. Claro que pensa no homem já fuzilado e no futuro morto. Porém, não pode ceder. Provavelmente, estas são suas piores noites. A vida, boa ou má, é conhecida. Todos a defendemos, a partir da nossa, instintivamente. A morte é a incógnita. Evitar a morte de seus cidadãos é dever do respectivo governo. Opção terrível, quando os agressores visam deprimir a dignidade de um povo organizado.
O Japão merece solidariedade. E passou da hora das forças democráticas e respeitadoras dos direitos no mundo dar uma lição exemplar ao pretensioso Estado Islâmico, não por 200 mil dólares, mas a qualquer preço.

Amadeu Garrido de Paula - advogado especialista em Direito Constitucional, Civil, Tributário e Coletivo do Trabalho.

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