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sexta-feira, 18 de agosto de 2017

4 mulheres são internadas por hora com transtornos comportamentais e mentais: conheça os 7 pecados capitais do trauma



Psicólogo clínico e neurocientista, Julio Peres, lista os principais fatores que impedem a superação de traumas psicológicos


Assaltos, sequestros, estupros, acidentes naturais, enfermidades, conflitos interpessoais, desajustes familiares, desamparo, confrontos armados, acidentes automobilísticos e perdas de entes queridos são considerados, entre outros, eventos potencialmente traumáticos. Estes assuntos serão tratados no curso“ Trauma Psicológico: Diagnóstico e Tratamento”, realizado pelo Laboratório de Neurociências do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas em 23 de setembro.

Para se ter ideia da dimensão do problema no Brasil, dados do Ministério da Saúde indicam que a cada hora mais de cinco pessoas são internadas por conta de transtornos mentais e comportamentais, sendo a maioria de mulheres. 

De janeiro a junho foram 24.148 casos - 15.986 mulheres e 8.162 homens.

“É um mal que atinge todos, independentemente da faixa etária e da classe social. Infelizmente, de maneira distinta ao que ocorre com a doença ‘física’, os transtornos psicológicos raramente são debatidos com a população em geral”, afirma o psicólogo clínico e neurocientista Julio Peres, que lista abaixo os principais fatores que impedem a superação, os sete pecados capitais, do trauma psicológico:

1-Fugir das lembranças do acontecimento: é compreensível a dificuldade de expressar nossos sentimentos. Ficar em silêncio não impedirá que lembranças e emoções dolorosas se manifestem com toda sua potência. Também não permite o processamento do trauma e sua superação;

2- Autovitimização: pensamentos e diálogos como “Não deveria acontecer comigo” ou “Isto é uma injustiça comigo” e ainda “Por que eu?”. Esta postura só intensifica e prolonga a dor, além de dificultar a recuperação;

3-Não ter confiança: o medo causado pelo trauma pode, muitas vezes, gerar o sentimento de que o pior sempre está por vir, aumentando cada vez mais a insegurança e a ansiedade. Pensamento que paralisa e prejudica planos futuros. Quando se descobre a importância de seguir adiante, o trauma perde a força;

4-Medo de que a dor nunca será superada: é fundamental acreditar que a dor será superada ou ao menos amenizada. Os sinais psicológicos e psicopatológicos mudam ao longo do tempo. Buscar ajuda profissional e buscar exemplos que sirvam de apoio é fundamental;

5-Responder ao trauma criando outro: é comum as pessoas buscarem válvulas de escape negativas para fugir de uma situação traumatizante criando outra. Será criada uma bola de neve de sentimentos ruins e não aplacará a dor psicológica;

6-Isolamento: é importante evitar o afastamento das pessoas. Busque os amigos certos e converse com eles, de forma adequada sobre sua dor, sempre evitando a vitimização. Também procure atividades que lhe dão prazer, caminhadas, leitura etc;

7-Não criar novos objetivos: criar e/ou participar de novos projetos pode ajudar na superação dando uma nova motivação para o dia a dia. A prostração pode levar à depressão.





Julio Peres - Psicólogo clínico com 27 anos de experiência clínica, neurocientista há 15 anos. Como clínico e pesquisador, unificou os campos da Psicologia e Neurociências e aprofundou seu interesse nos efeitos neurobiológicos da psicoterapia. Conduziu estudos  com neuroimagem funcional sobre o tema em seu doutorado e um dos pós-doutorados, revelando as repercussões cerebrais da superação mediada pela psicoterapia.  É doutor em Neurociências e Comportamento pelo Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo. Tem pós-doutorado pela University of Pennsylvania e pela Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) em Diagnóstico por Imagem. É autor do livro “Trauma e Superação: o que a Psicologia, a Neurociência e a Espiritualidade ensinam” da editora ROCA. Possui artigos científicos publicados sobre trauma e superação, neurociências, neuroimagem, psicoterapia, resiliência, espiritualidade, entre outros temas.  Também é pesquisador do PROSER, Instituto de Psiquiatria da Universidade de São Paulo. Editor da seção Psicologia e Psicoterapia do periódico científico Archives of Clinical Psychiatry. 



SAIBA AS DIFERENÇAS ENTRE PSIQUIATRIA, PSICOLOGIA, PSICOTERAPIA E PSICANÁLISE



Você saberia explicar as diferenças entre psiquiatria, psicologia, psicoterapia e psicanálise? A não ser que você seja um profissional da área, é bem provável que desconheça suas singularidades.

Para quem precisa de um tratamento na área de saúde mental, ou mesmo seguir a carreira, é importante entender cada um deles para escolher o mais adequado às suas necessidades (se for paciente) ou ao seu perfil profissional (se for estudante ou profissional recém-formado em busca de uma especialização).

Tanto a Psicologia como a Psiquiatria (as duas estão dentro do âmbito da
Medicina) são profissões regulamentadas no Brasil, com seus respectivos Conselhos Federais e Regionais, os quais estabelecem as normas éticas e de atuação profissional. Já as psicoterapias, entre elas, a psicanálise, não têm legislação específica no Brasil. No entanto, tanto o ‘psicoterapeuta’ quanto o ‘psicanalista’ estão incluídos na Classificação Brasileira de Ocupações, do Ministério do Trabalho.


PSIQUIATRIA: A Psiquiatria é uma especialidade médica focada no diagnóstico e tratamento de transtornos mentais. Para se tornar Psiquiatra, a pessoa precisa primeiro cursar a Faculdade de Medicina, que tem duração de 6 anos. Já formado, é preciso fazer Residência Médica em Psiquiatria, que dura, geralmente, de 3 a 4 anos.

Após a Residência, a pessoa fará as provas para obtenção do título de Especialista em Psiquiatria. Este título envolve, principalmente, a Psiquiatria de Adultos. Dentro da Psiquiatria, há algumas
sub-especialidades: Psiquiatria da Infância e Adolescência, Psiquiatria Forense, Psiquiatria Geriátrica, entre outras.

O Psiquiatra, como já dito, é o responsável pelo diagnóstico e tratamento de doenças mentais. Por ser médico, ele pode prescrever medicamentos psicofármacos, como ansiolíticos, antidepressivos ou antipsicóticos. Estas medicações atuam no sistema nervoso central, alterando o modo como os neurotransmissores funcionam, seja aumentando sua atuação, seja diminuindo, conforme o tipo de psicofármaco. Os transtornos mentais, falando de um modo muito simples, decorrem de um desequilíbrio químico do cérebro, e os medicamentos procuram restabelecer esse equilíbrio.


PSICOLOGIA: A Psicologia estuda diversos aspectos da mente humana “normal” ou sadia, no contexto individual ou de um grupo e também no diagnóstico e tratamento de problemas emocionais e do comportamento. Para se formar Psicólogo, a pessoa deve cursar a Faculdade de Psicologia, com duração de cerca de 5 anos. Uma vez formado, o Psicólogo pode se especializar em diferentes áreas de atuação, como educacional, recursos humanos, hospitalar, neuropsicologia, psicoterapia entre outras.

O Psicólogo é o responsável pela aplicação de avaliação psicológica e neuropsicológica e pode atuar como psicoterapeuta. Diferentemente do Psiquiatra, ele não pode prescrever medicações. A prescrição de remédios só pode ser realizada por quem se formou em Medicina. No entanto, ambos podem fazer uma especialização na área de Psicoterapia.


PSICOTERAPIA: A Psicoterapia é um método que utiliza principalmente a fala e o diálogo. O intuito é auxiliar um indivíduo a compreender a si mesmo e a lidar melhor com seus problemas e dificuldades, que podem ser decorrentes de um transtorno mental leve (ansiedade ou fobias) ou decorrentes de situações que fazem parte da vida de todos (separação ou morte), mas que o paciente tem uma dificuldade maior de compreensão e aceitação ou ainda de características da personalidade que prejudicam a pessoa e sua integração emocional e social.

Para estes problemas, há diversas teorias e técnicas de Psicoterapia. As mais conhecidas são a Psicanálise, a Terapia Cognitivo Comportamental, o Psicodrama e a Terapia Junguiana, entre outras. Cada uma possui diferentes formas para auxiliar o indivíduo a superar suas dificuldades, a partir da teoria que as constitui e respectivas técnicas de abordagem.

É importante lembrar que o tratamento medicamentoso e o psicoterápico não são mutuamente excludentes. Na imensa maioria dos casos, a somatória do tratamento medicamentoso e psicoterápico produz um melhor resultado para o indivíduo.


PSICANÁLISE: A Psicanálise é um tipo de Psicoterapia. Exige uma formação especializada, em geral, de 5 a 10 anos, em Sociedades de Psicanálise (de preferência, vinculadas a International Psychoanalytical Association – IPA –, criada pelo próprio Freud e colaboradores, em 1910). Tendo essa formação, tanto o Psiquiatra quanto o Psicólogo podem fazer atendimentos usando a teoria e a técnica psicanalíticas.

Embora o senso comum possa auxiliar, nem sempre ele funciona bem, pois muitas vezes ele se baseia em premissas falsas. Uma delas é a ideia de que transtornos mentais não têm uma base física, cerebral. Um quadro depressivo pode ser, por exemplo, consequência de um desequilíbrio da tireoide.

Se não for investigada por um Psiquiatra, esta alteração da tireoide não será detectada, e o paciente não se beneficiará de um tratamento psicoterápico. A avaliação médica é sempre importante para exclusão de doenças físicas que causam sintomas mentais. A partir de um diagnóstico preciso, fica mais fácil conduzir a terapêutica, seja medicamentosa, seja psicoterápica.




Prof. Dr. Mario Louzã - médico psiquiatra e psicanalista. Doutor em Medicina pela Universidade de Würzburg, Alemanha. (CRMSP 34330)





Mediação de conflitos nas escolas em busca da pacificação social




O Poder Judiciário oferece técnicas restaurativas de solução de conflito em salas de aula para promover a paz nos ambientes escolares do País e evitar que novos processos judiciais nasçam desses conflitos.

Comarcas em diversos Estados já aplicam a mediação e os chamados círculos restaurativos em conflitos escolares, práticas que estão em conformidade com a Política Nacional de Resolução de Conflitos no Judiciário, instituída pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) por meio da Resolução n. 125/2010, e com a Resolução n. 225/2016, que contém diretrizes para implementação e difusão da Justiça Restaurativa no Poder Judiciário.

Em Vila Velha/ES, servidores formados pelos cursos de instrução em mediação do CNJ capacitaram professores e conselheiros tutelares da cidade, além de alunos da rede pública de ensino, nas técnicas da comunicação pacificadora. O curso, voluntário, começou no ano passado e contou com 180 alunos. Até outubro deste ano, a expectativa é que 300 jovens sejam treinados em mediação escolar. O trabalho, segundo a juíza Patrícia Pereira Neves, da 1ª Vara de Infância e Juventude de Vila Velha (ES), tem provocado mudança de comportamento entre os jovens.

“Havia uma sala que, de manhã, recebia uma turma de 5ª série, com crianças entre 10 e 12 anos. No turno da tarde, a mesma sala era utilizada por alunos mais velhos, que rabiscavam as mesas, pichavam as portas e frequentemente rasgavam os trabalhos feitos pelas crianças. Pedimos ajuda aos mediadores e eles foram conversar com a turma vespertina. Contaram da tristeza das crianças que dividiam a sala com eles e a resposta não poderia ter sido melhor: a turma não só pediu desculpas à meninada, como ajudou a limpar os objetos e refizeram os cartazes estragados”, disse a juíza. A reação positiva dos jovens foi uma surpresa para as crianças que, no dia seguinte, gravaram uma música de agradecimento. 



“Foi uma situação especial, de respeito entre todos, e que revela o poder da mediação frente a um conflito”, disse Patrícia Pereira Neves, que tem buscado utilizar ações da Justiça Restaurativa mesmo em atos infracionais mais graves que chegam à Justiça, como tráfico de drogas, posse de armas e roubos. “O alcance é maior e mais profundo que apenas a resolução em nível processual”, diz ela.

Professor-mediador

A Justiça Restaurativa em âmbito escolar começou a ser testada em São Paulo, no Rio Grande do Sul e no Distrito Federal ainda em 2005. Na época, foi criada a figura do professor-mediador, cuja função, exclusivamente, era cuidar da boa convivência de todos no ambiente escolar. As ações nesse sentido, no entanto, não chegaram a ser expandidas de modo homogêneo para o resto do País.

Em São Paulo, depois de algum tempo suspenso, o trabalho recomeçou em 2013. Cerca de 50 casos já foram resolvidos por meio da utilização da técnica, que propõe um olhar humanizado e corresponsável entre os envolvidos nos conflitos. Atualmente, há vários núcleos de Justiça Restaurativa implementando ações em parcerias com o sistema educacional paulista.

Segundo o juiz Marcelo Samosa, titular da Vara do Juizado Especial Cível e Criminal e da Infância e Juventude da comarca de Tatuí/SP, o enfoque nos círculos restaurativos conseguiu importantes vitórias na pacificação de crianças, jovens, escolas e famílias. Além de eliminar o conflito, a técnica ajuda os envolvidos a entenderem suas corresponsabilidades em relação aos fatos que contribuíram para gerar o desentendimento. “É preciso lembrar que a agressividade, muitas vezes, tem como origem a sensação de não pertencimento. E quando vamos fundo nos sentimentos que geraram os conflitos, quase sempre a visão muda. Os pais entendem os dois lados e a escola percebe sua responsabilidade. É um trabalho que gera conexão e solidariedade”, diz Marcelo Samosa.

Bullying e lesão corporal 

O magistrado relembra um caso em que o círculo restaurativo ajudou não só a pacificar a relação de dois estudantes, como também contribuiu para ajudar a família de um deles. O menino havia empurrado a colega causando uma fratura em seu braço. Os relatos ouvidos durante o trabalho do círculo revelaram que o menino vinha sofrendo bullying da menina há meses. Na época da agressão, o pai do menino estava desempregado e descontava sua frustração na família, de maneira agressiva e ingerindo abusivamente bebidas alcoólicas. 

A técnica ajudou os pais a perceberem as falhas ocorridas nas atitudes dos dois jovens; o colégio passou a trabalhar mais os conteúdos sobre paz e respeito humano; e o juizado pediu ajuda de assistentes sociais para o pai do menino. “As soluções foram encontradas de maneira conjunta e os dois alunos, que haviam chegado brigados, com sentimento de culpa e vitimização equivocadas, saíram do encontro falando de cultura de paz, juntos. Toda a comunidade foi envolvida e se sentiu reparada”, diz Marcelo. 

Círculo Restaurativo

A técnica dura entre três e quatro horas, com todos os envolvidos no conflito sentados em círculo. Ali, cada um tem um tempo para falar e ser ouvido por todos. O procedimento se divide em três etapas: o pré-círculo (preparação para o encontro com os participantes); o círculo, propriamente dito, e o pós-círculo (fase de acompanhamento). O trabalho não visa apontar culpados ou vítimas, mas fazer que os presentes entendam que suas ações afetam a si próprios e aos outros e que são responsáveis por seus efeitos.

Na 1ª rodada, o facilitador estimula as pessoas a se apresentarem. Na 2ª rodada, o facilitador coloca perguntas que permitam aos presentes falarem sobre os valores que acreditam ser importantes para a sua vida. Na 3ª rodada, o facilitador faz com que as pessoas contem alguma história sobre a sua vida. 

As perguntas servem para promover uma conexão da pessoa com a humanidade do outro. Na 4ª rodada ocorrer abordagem do conflito em si. O facilitador pergunta o que cada um sente em relação aos fatos apontados. Nesse momento a vítima expõe a dor que sente; a comunidade (família, por exemplo) também coloca seus sentimentos. Esse processo, segundo o juiz, auxilia o ofensor a refletir sobre o erro e desconstruir suas desculpas. Na 5ª rodada há o trabalho de reparação dos danos. O ofensor é convidado a apresentar um plano para reparar o dano que fez à vítima, a si próprio e à comunidade. Três meses depois, há um pós-círculo, para que seja confirmado que o acordo está sendo cumprido. Se não estiver, o processo volta para a Justiça comum. Segundo o juiz, é raro o descumprimento. 


Justiça Restaurativa

A Justiça Restaurativa é uma técnica de auxílio na solução de conflitos que tem como foco a escuta das vítimas e dos ofensores. Ela tem sido utilizada em diversos casos, inclusive na resolução de crimes contra a vida. A presidente do CNJ e do Supremo Tribunal Federal (STF), ministra Cármen Lúcia, também vislumbra na prática a possibilidade de recomposição das famílias, especialmente em relação às situações que atingem as crianças e, a longo prazo, na pacificação social.




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