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segunda-feira, 28 de agosto de 2023

Cigarro eletrônico: precisamos combater este mal

No Dia Nacional de Combate ao Fumo (29/8), o CROSP reforça o alerta sobre os malefícios dos cigarros eletrônicos e similares


Cigarros eletrônicos são dispositivos que foram desenvolvidos com a finalidade de substituir o cigarro convencional. A ideia surgiu na década de 1960, nos EUA, por Herbert A. Gillbert, sendo aperfeiçoada posteriormente em 2003, pelo chinês Hon Lik. No entanto, este objetivo não foi alcançado e os cigarros eletrônicos estão sendo usados por pessoas que nunca fumaram cigarros convencionais antes, particularmente os jovens. 

Existem vários formatos de cigarros eletrônicos, podendo ser parecidos com cigarros, canetas, pen drives, e os chamados tanques, entre outros. Visando simular a sensação de fumar um cigarro comum, eles contêm apenas a nicotina, responsável pela dependência química. A nicotina é diluída em propilenoglicol e esta mistura fica armazenada em um reservatório presente no dispositivo. Este reservatório é ligado a um vaporizador, o qual transforma o líquido em fumaça, que é tragada pelo usuário. Vale ressaltar que a concentração de nicotina presente nos reservatórios geralmente é bem maior do que nos cigarros convencionais. 

O professor Titular de Estomatologia da FOP-UNICAMP, Coordenador do Orocentro e membro da Câmara Técnica de Políticas Públicas do Conselho Regional de Odontologia de São Paulo (CROSP), Dr. Marcio Ajudarte Lopes, esclarece que o uso dos cigarros eletrônicos pode causar dependência química e promover alterações importantes no sistema respiratório e cardiovascular, devido à presença de várias substâncias tóxicas - como o formaldeído - e as derivadas de metais pesados, como ferro, alumínio e níquel, que podem levar ao desenvolvimento de câncer, principalmente em pulmão e boca.   

O especialista destaca que um fato muito preocupante que tem sido observado é o número alarmante e crescente de jovens que usam cigarros eletrônicos. De acordo com ele, muitos desses jovens começam o hábito no ensino fundamental. “Além da possibilidade de adquirirem o vício pelo cigarro eletrônico e pelo risco de desenvolverem problemas de saúde como relatado anteriormente, estudos científicos têm mostrado que adolescentes que usam cigarros eletrônicos são mais propensos a fumar cigarros convencionais quando comparados aos não usuários de cigarros eletrônicos. Portanto, o uso de cigarro eletrônico contribui para o consumo também de cigarro convencional, sendo uma maneira para atrair jovens para a dependência química”, explica o Cirurgião-Dentista. 

Dr. Marcio enfatiza que o Brasil reduziu de maneira significativa o tabagismo nos últimos anos devido, principalmente, à implementação de medidas como o aumento de preços e impostos do tabaco, bem como a adoção de leis, com destaque para a Lei Antifumo Federal (Lei 9.294/1996), que se refere à proibição de propaganda de produtos derivados de tabaco. Merece destaque, também, a Lei Antifumo do Estado de São Paulo (Lei 15.541/2009), que proíbe o uso de cigarros e similares em ambientes fechados de uso coletivo. Posteriormente, a Lei Antifumo Federal 9.294/1996 foi alterada, sendo regulamentada nova Lei Antifumo Federal (Lei 12.546/2011) que, como a lei do Estado de São Paulo, proíbe o consumo de tabaco em ambientes fechados e coletivos em todo o território nacional. 

“Com essas medidas, houve redução expressiva do número de fumantes no nosso país. Apesar da diminuição do consumo de cigarro convencional no Brasil, o número de consumidores de outras formas de tabaco, como o cigarro eletrônico, está aumentando, particularmente entre os jovens”, alerta o especialista. Vale ressaltar ainda, segundo o Dr. Marcio, que, em 2009, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) estabeleceu a regulamentação que proibiu no Brasil a venda, importação e propaganda de todos os tipos de dispositivos eletrônicos para fumar (Resolução da Diretoria Colegiada RDC 46/2009). “No entanto, apesar da proibição, a comercialização ilegal destes produtos é frequentemente observada”, lamenta ele. 

Portanto, é de extrema importância alertar a população e divulgar os malefícios dos cigarros eletrônicos e similares pelas Sociedades e Conselhos de Classe, com foco principalmente nos jovens. “A Comissão Temática de Políticas Públicas do CROSP está atenta a esta alarmante situação e, ao nos aproximarmos do Dia Nacional de Combate ao Fumo, celebrado em 29 de agosto, aproveitamos o momento para nos posicionar contra a liberação dele e salientar a necessidade urgente de regulamentação de Leis Antifumo que englobem esses dispositivos eletrônicos”.

 

Riscos do cigarro eletrônico e similares 

  • Eles contêm nicotina, droga que leva à dependência.
  • Contêm ainda mais de 80 substâncias químicas, incluindo cancerígenos comprovados.
  • O uso da nicotina aumenta o risco de trombose, AVC, hipertensão e infarto do miocárdio, entre outros.
  • Estudos também mostram que o cigarro eletrônico aumenta em cerca de três vezes as chances de o usuário fumar também cigarros comuns.

Atenção, Cirurgião-Dentista:
é muito importante alertar seus pacientes sobre todos os malefícios provocados pelos cigarros eletrônicos. Essa é uma grave questão de saúde pública.

 

Conselho Regional de Odontologia de São Paulo - CROSP
www.crosp.org.br


sexta-feira, 9 de fevereiro de 2024

Uso de cigarro eletrônico aumenta em 1,79 a probabilidade de infarto, afirma SBC em posicionamento

Uso destes dispositivos também amplia incidência de aterosclerose. Documento aponta10 razões para manter a proibição de cigarros eletrônicos no Brasil

 

Quase 3 milhões de brasileiros fazem uso regular de dispositivos eletrônicos para fumar (DFEs), popularmente conhecidos como vapes. E, o consumo regular, de acordo com estudos observados pela Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), aumenta em 1,79 vez a probabilidade de infarto do miocárdio. 

Ainda de acordo com estudos analisados pela SBC, os DEFs também impactam na incidência de aterosclerose em seus usuários, já que os vários componentes químicos, como nicotina, propilenoglicol, partículas, metais pesados e aromatizantes que estão presentes nos cigarros eletrônicos induzem aterosclerose, condição que pode ampliar significativamente a ocorrência de doenças como o Acidente Vascular Cerebral. 

Mesmo que a venda e a comercialização destes ¹produtos sejam proibidas no país desde 2009, estes dispositivos são encontrados facilmente no mercado paralelo que impacta, em especial, o público jovem.

Atenta ao impacto do uso dos cigarros eletrônicos para a saúde pública, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) lançou uma consulta pública com o objetivo de estimular a sociedade civil a opinar sobre a manutenção da proibição dos DFEs. 

Após 4 meses e mais de 7 mil manifestações de participantes, a discussão proposta pela consulta pública se encerra nesta próxima sexta-feira, 09 de fevereiro. 

Em linha com a sua missão primordial que é atuar pela excelência no cuidado cardiovascular no país, a SBC publicou, no último dia 02 de fevereiro, um posicionamento consistente em defesa da permanência da proibição dos DEFs no Brasil. 

O posicionamento também destaca que estudos já demonstraram que o custo para tratar diversas doenças crônicas decorrentes do tabagismo, no âmbito do SUS, somou 23,37 bilhões de reais em 2011, valor equivalente a 0,5% do Produto Interno Bruto e quatro vezes o montante dos impostos federais arrecadados do setor tabaco naquele ano. 

Ampliando o debate sobre o consumo destes dispositivos, o posicionamento da SBC demonstra, por meio de evidências científicas, que os cigarros eletrônicos não servem como via alternativa e menos prejudicial à saúde para dependentes de nicotina. 

“A alegação apresentada pela indústria do tabaco de que os DEFs são uma alternativa de menor risco à saúde para substituir os cigarros convencionais não são comprovadas por evidências científicas. Pelo contrário, estudos indicaram que jovens que fazem uso de cigarros eletrônicos têm menor propensão a cessar o tabagismo. Além disso, adultos fumantes que recorrem aos DEFs ou vapes exibem uma notável inclinação para a dupla utilização, que envolve cigarros tanto eletrônicos quanto regulares, o que aumenta os riscos à saúde”, afirma o documento assinado por membros da Sociedade Brasileira de Cardiologia, entre eles, Jaqueline Scholz, cardiologista referência no país quando o assunto é antitabagismo. 

O posicionamento da SBC indica, ainda, que diversas pesquisas demonstram uma relação direta entre o uso de cigarros eletrônicos e o incremento no risco cardiovascular. “A presença de nicotina nos dispositivos está vinculada a aumento da frequência cardíaca, elevação da pressão arterial e intensificação do estresse oxidativo”, pontua o documento.
 

Confira na íntegra as dez 10 razões elencadas pela SBC:

Link 

 

1. Evidências insuficientes de redução de danos entre fumantes 

A alegação apresentada pela indústria do tabaco de que os DEFs são uma alternativa de menor risco à saúde para substituir os cigarros convencionais carece de confirmação. Pelo contrário, estudos indicaram que jovens que fazem uso de cigarros eletrônicos têm menor propensão a cessar o tabagismo. Além disso, adultos fumantes que recorrem aos DEFs ou vapes exibem uma notável inclinação para a dupla utilização, que envolve cigarros tanto eletrônicos quanto regulares, o que aumenta os riscos à saúde. Embora o uso dual tenha sido comum nas primeiras versões dos DEFs, observa-se um crescente número de usuários exclusivos dos DEFs nas versões atuais que utilizam nicotina em freebase e sal de nicotina. Além disso, a nicotina foi identificada em usuários exclusivos de DEFs. A ausência de estudos suficientes que sustentem a tese do menor risco à saúde é relevante e contraposta por estudos clínicos e observacionais que sugerem impactos significativos na saúde dos usuários.

 

2. O cigarro eletrônico não tem combustão, mas existem outros produtos distintos daqueles do cigarro convencional, muitos dos quais com efeitos desconhecidos na saúde humana16  

Embora haja variações nos vapes, o produto consiste em quatro partes principais: um reservatório, um dispositivo de aquecimento, uma bateria de lítio e um bocal. No reservatório, são alojados a nicotina e, por vezes, os aromatizantes, os solventes e outros componentes químicos. A presença de solventes e aditivos, aquecidos durante o funcionamento do dispositivo, pode originar componentes tóxicos provenientes tanto dos próprios DEFs quanto de seus líquidos.

Os refis e os frascos de nicotina líquida de DEFs não descartáveis representam um potencial risco de intoxicação, especialmente por ingestão acidental, absorção pela mucosa oral ou contato com a pele em caso de vazamento. Os Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC) registraram um significativo aumento nas chamadas para os centros de intoxicação relacionadas aos casos de envenenamento pelo líquido dos DEFs, sendo registrado até óbito em criança por ingestão acidental dos e-líquidos. Além disso, o descarte desses elementos representa uma séria ameaça ambiental. A quantidade de dispositivos descartados no ano de 2022 acendeu alerta das autoridades sanitárias no Reino Unido e outros países da Europa, muitos dos quais pensam em banir os dispositivos descartáveis de uso único. Eles geram toneladas de lixo eletrônico com lítio e cobre presentes nas baterias e resíduos dos e-líquidos, sendo esse conjunto de elementos considerado lixo tóxico. Adicionalmente existem também incidentes relacionados a explosões dos dispositivos.

Desde 2019, tanto os CDC quanto o Food and Drug Administration (FDA) têm registrado um aumento nos casos de lesão pulmonar aguda grave associada ao uso de produtos de cigarro eletrônico ou vapes. Essa séria condição é identificada como EVALI (do inglês, e-cigarette or vaping product use-associated lung injury).

A maioria dos pacientes diagnosticados com EVALI necessitou de hospitalização, sendo que muitos receberam cuidados intensivos e suporte respiratório. Notavelmente, 2,3% dos casos resultaram em óbito. O acetato de vitamina E, um aditivo ocasionalmente utilizado em produtos contendo tetra-hidrocanabinol (THC), está significativamente associado ao surto de EVALI. No entanto, as evidências disponíveis não são suficientes para descartar a contribuição de outros produtos químicos preocupantes.

 

3. Vape um novo fator de risco para as doenças cardiovasculares 

Diversas pesquisas indicam uma relação direta entre o uso de cigarros eletrônicos e o incremento no risco cardiovascular. A presença de nicotina nos dispositivos está vinculada a aumento da frequência cardíaca, elevação da pressão arterial e intensificação do estresse oxidativo. Além disso, o consumo regular de DEFs está associado a inflamação, disfunção endotelial, lesões vasculares e desenvolvimento de aterosclerose.

Não apenas isso, os cigarros eletrônicos também demonstram uma relação com o aumento da probabilidade de ocorrência de infarto do miocárdio. Indivíduos que fazem uso habitual desses dispositivos apresentam uma probabilidade 1,79 vez maior de sofrer um infarto em comparação com não fumantes, conforme evidenciado em estudos.

 

4. Prejuízos à saúde populacional 

A comercialização e o consumo de DEFs representam uma questão de saúde pública devido ao impacto que exercem tanto sobre fumantes quanto não fumantes. Pesquisa aponta que os usuários de cigarros eletrônicos apresentam uma menor probabilidade de cessar o tabagismo de maneira voluntária, devido à significativa capacidade desses dispositivos em induzir dependência de nicotina.

É crucial salientar a existência de usuários de DEFs que fazem uso simultâneo de cigarros convencionais, o que pode acarretar um aumento substancial no risco de desenvolvimento de doenças cardiovasculares.

Adicionalmente, a relação entre a diminuição do número de cigarros consumidos e a redução do risco à saúde não segue uma trajetória linear. Mesmo exposições a níveis reduzidos podem desencadear doenças cardiovasculares. Um estudo de caso mediu biomarcadores na urina, na saliva e no cabelo de uma família consistindo de uma gestante não fumante, seu cônjuge usuário de cigarro eletrônico e um filho do casal de 3 anos de idade. Foram identificadas elevadas concentrações de cotinina (metabólito da nicotina) e níveis significativos de metais como alumínio (associado ao enfisema pulmonar), cromo (relacionado ao câncer de pulmão), níquel (associado ao câncer de pulmão e seio nasal) e cobre (causador de danos ao fígado, rins e pulmões). No leite materno de usuárias, foram detectadas concentrações elevadas de glicerol, responsável por danos pulmonares e cardiovasculares, além de cotinina em níveis altos, assemelhando-se ao efeito da exposição do bebê ao cigarro eletrônico.

 

5. Descumprimento das obrigações internacionais pelo Brasil 

A introdução de novos DEFs tem conferido à indústria um espaço renovado nas discussões. A Associação da Indústria do Tabaco do Brasil já manifestou seu apoio à regulamentação, reconhecendo que a entrada de novos dispositivos no mercado é de seu interesse econômico, mesmo quando sujeitos a regulações.

É fundamental recordar que o Brasil, na qualidade de signatário da Convenção-Quadro para o Controle do Tabaco da Organização Mundial da Saúde (CQCT-OMS), está compelido, conforme disposto no artigo 5.3, a desenvolver políticas públicas de controle do tabaco resguardadas contra influências comerciais da indústria. A narrativa que a indústria está construindo, sugerindo uma busca pela redução de danos, não é uma novidade, bastando recordar os cigarros ‘light’, supostamente causadores de menos danos. Isso constitui meramente uma estratégia da indústria para assegurar sua permanência no mercado. 

Portanto, é imperativo que o governo brasileiro esteja atento ao cumprimento de suas responsabilidades internacionais quanto ao controle do tabaco e não adote uma postura leniente em relação a essa prática.

 

6. Desafios para o cumprimento de medidas de regulação 

A promulgação da Lei Antifumo no Brasil gerou significativas mudanças culturais, em especial no que se refere aos ambientes isentos de tabaco, os quais, atualmente, são respeitados por uma parcela considerável da população brasileira. O fumo em locais como aviões, restaurantes e outros espaços coletivos fechados não é mais socialmente aceito. Não obstante, é crucial compreender que a existência da Lei Antifumo representa um caminho a ser percorrido, mas não constitui uma solução integral.

O Brasil enfrenta desafios decorrentes da escassez de recursos e da falta de uma fiscalização efetiva. No presente momento, a fiscalização dos DEFs (vapes) é relativamente simples, uma vez que todos os produtos dessa natureza são proibidos. Contudo, com a eventual introdução oficial de novos produtos no mercado, a regulamentação do comércio legal e o combate à falsificação, ao descaminho e ao contrabando tornar-se-ão tão ou mais complexos do que os associados ao cigarro convencional. Além disso, é necessário promover uma mudança cultural, em especial em relação ao cigarro eletrônico, que, atualmente, contraria as conquistas alcançadas no contexto do tabaco tradicional.

O Brasil tem desempenhado um papel exemplar na luta contra o tabagismo em âmbito global e as décadas de esforços resultaram em uma clara redução no consumo de tabaco, proporcionando benefícios evidentes para os indivíduos e a sociedade em geral. A proibição dos cigarros eletrônicos mantém a coerência de uma política voltada para preservar a saúde em nível tanto individual quanto coletivo.

 

7. Recursos para controle do tabaco em risco 

A regulamentação dos novos produtos implicaria um ônus adicional para o orçamento da saúde, que já enfrenta restrições significativas devido a diversas prioridades. Esse desafio abrange não apenas recursos financeiros, mas também humanos, que atualmente se mostram insuficientes para supervisionar tanto o uso quanto a comercialização do cigarro convencional, bem como para desenvolver políticas eficazes de cessação do tabagismo no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS).

Além disso, a atenção primária e a atenção especializada enfrentam o desafio do tratamento de todas as enfermidades associadas ao consumo de produtos fumígenos, o que sobrecarrega as filas de atendimento. Considerando a insuficiência de recursos na saúde para tratar o tabagismo e suas ramificações, seria um equívoco permitir a circulação de outro produto tão prejudicial, o que certamente acarretaria um aumento nos custos com saúde no país. Um estudo conduzido em 2011 no Brasil concluiu que o custo para tratar diversas doenças crônicas decorrentes do tabagismo, no âmbito do SUS, totalizou 23,37 bilhões de reais, equivalente a 0,5% do Produto Interno Bruto e quatro vezes o montante dos impostos federais arrecadados do setor tabaco naquele ano܂Esse custo tende a aumentar com a expansão do consumo de vapes. Como a maioria dos usuários é jovem, o que favorece o apelo da indústria por uma falsa percepção de segurança, estudos de curto prazo reafirmam os efeitos agudos cardiovasculares, pulmonares e cerebrovasculares e o fardo sobre o sistema de saúde certamente virá em algumas décadas. A cessação do tabagismo, inquestionavelmente, representa a estratégia mais custo-efetiva e o Brasil dispõe de um programa de tratamento eficaz, gratuito e acessível para a interrupção do tabagismo.

 

8. Diferença econômica e riscos associados na comparação entre Brasil e outros países 

Comumente, a indústria dos DEFs cita países em que a comercialização do produto é liberada com o objetivo de obter sua liberação no Brasil, como um exemplo a ser seguido. Contudo, mesmo em nações com um aparato legal e regulatório mais robusto, como Estados Unidos, Austrália, Reino Unido, Nova Zelândia e França, as legislações referentes aos cigarros eletrônicos estão sendo revisadas devido ao expressivo aumento no uso de vapes entre jovens, crianças e adolescentes, com incidência em escolas de ensino fundamental. Portanto, é imprudente que o Brasil presuma que, sem as condições adequadas para garantir a aplicação integral da Lei Antifumo, seria capaz de controlar o consumo desenfreado de DEFs, expondo a população jovem aos comprovados malefícios desses produtos.

A indústria do tabaco está realizando investimentos substanciais na produção de vapes, transformando-os em um lucrativo empreendimento para as empresas internacionais do setor, que atualmente totalizam 466 marcas no mercado. Além disso, o produto vem sendo aperfeiçoado ao longo do tempo, oferecendo capacidade de maior oferta volumétrica dos e-líquidos nos tanques, maior concentração de nicotina e redução nos preços, favorecendo ainda mais o consumo e a adição.

 

9. Proliferação dos DEFs entre jovens e não fumantes 

Apesar da exposição ilegal, os adolescentes continuam a ser altamente suscetíveis aos DEFs. A Global Youth Tobacco Survey evidencia um aumento epidêmico no consumo de cigarros eletrônicos, que chega a ser três vezes superior entre adolescentes na mesma faixa etária considerando países em que a comercialização é permitida em comparação a países com o banimento da comercialização, como Brasil e Tailândia. 

A Pesquisa Nacional de Saúde dos Escolares, conduzida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística e abrangendo 159.245 estudantes brasileiros, revela que a experimentação de cigarro eletrônico em algum momento da vida entre escolares de 13 a 17 anos atingiu 16,8% (IC95% 16,2-17,4), sendo que 3,6% (IC95% 3,3-4,0) utilizaram nos últimos 30 dias.

Vale ressaltar que o uso de qualquer produto relacionado ao tabaco, englobando cigarros convencionais, vapes e outros, aumentou de 9% em 2015 para 12% em 2019 entre adolescentes. Portanto, após duas décadas de declínio, a tendência entre adolescentes está se revertendo, influenciada pelo uso de produtos como vapes e narguilé, conforme evidenciado pela Pesquisa Nacional de Saúde dos Escolares.

Segundo a pesquisa Covitel 2023, um em cada quatro jovens entre 18 e 24 anos já experimentou cigarros eletrônicos, sendo seu uso 40 vezes mais comum na população abaixo dos 40 anos, mesmo com a venda proibida no país. Entre os usuários de cigarros eletrônicos de 15 a 24 anos, 63% nunca experimentaram cigarro convencional, indicando que os DEFs têm se tornado a forma de iniciação ao fumo na juventude. 

Mesmo sob regulamentação, a permissão da venda de DEFs apenas ampliaria as oportunidades de seu consumo entre os jovens, uma vez que o acesso seria facilitado. Além disso, essa regulamentação promoveria a falsa ilusão de um produto menos nocivo. O amplo comércio, aliado à limitada capacidade de fiscalização, poderia proporcionar aos menores de idade mais chances de iniciar ou manter seu vício desde cedo, evidenciando os riscos associados à liberação do consumo de DEFs no país.

 

10. Princípio da precaução 

Diante das evidências disponíveis, considerando a natureza dos riscos vinculados ao uso dos novos DEFs, seu elevado potencial para adição e a incapacidade de implementação eficaz de medidas fiscalizatórias, bem como a falta de recursos destinados a tratar as consequências do consumo desses novos produtos, torna-se imperativo manter sua proibição no Brasil. Isso visa prevenir uma potencial nova epidemia de consumo de vapes ou agravamento da atual.


quarta-feira, 28 de agosto de 2019

Cigarros eletrônicos podem causar câncer e mutação genética


O alerta é de médico especialista em doenças provocadas pelo tabagismo, que explica que os e-cigarros aumentam a dependência e o uso dos cigarros tradicionais


O avanço do uso de cigarros eletrônicos é uma preocupação crescente em todo o mundo. Nos Estados Unidos, o número de jovens que consomem o produto aumentou em 1,5 milhão entre 2017 e 2018, segundo dados do Centro de Controle de Doenças (CDC) norte-americano. Não há números relativos ao Brasil, mas por aqui a tendência também é de alta - embora a discussão sobre a liberação do aparelho ainda esteja na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). 

Conhecidos como e-cigarros, esses equipamentos estão se popularizando entre os usuários do tabaco pela crença errônea de que trariam menos prejuízo à saúde. Mas, assim como os cigarros comuns, eles têm o mesmo potencial para causar dependência e diversos tipos de câncer, além de aumentar o risco de mutações genéticas. Os e-cigarros também são apontados como uma das possíveis causas de uma doença pulmonar grave, a pneumonite, identificada em jovens de diversos estados norte-americanos e que está sendo investigada pelo Centro de Controle de Doenças (CDC) e pela agência nacional de vigilância dos Estados Unidos, a FDA. Em todos os pacientes foi registrado consumo de cigarro eletrônico associado a outras substâncias, como flavorizantes (para dar sabor) e até maconha.

De acordo com o doutor Ricardo Marques, membro da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC) e médico associado da Clínica OncoStar, muitos usuários encaram de forma errônea os e-cigarros. Apesar de não terem tabaco, esses equipamentos evaporam quantidades de nicotina similares às do cigarro comum. “Os cigarros eletrônicos consistem em uma bateria que liga o aparelho, um tanque que contém o líquido e um sistema capaz de aquecê-lo, transformando-o no vapor que é inalado para dentro dos pulmões. E o problema é que esse líquido contém a mesma quantidade de nicotina que o cigarro tradicional e, portanto, potencial para causar os mesmos malefícios à saúde de quem o consome.”

O tema reflete uma preocupação cada vez maior dos órgãos de Saúde com relação ao tabagismo. Para conscientizar sobre os problemas advindos do hábito de fumar, 29 de agosto é considerado o Dia Nacional do Tabagismo. 

Com relação aos e-cigarros, o doutor Ricardo alerta ainda que esses equipamentos estimulam o uso subsequente do cigarro tradicional em adolescentes e adultos jovens. O médico destaca outros prejuízos à saúde causados pelos cigarros eletrônicos: 

  • Além da nicotina, a maioria dos cigarros eletrônicos emite várias substâncias potencialmente tóxicas, como metais pesados; 
  • O nível de exposição do usuário à nicotina é igual ou maior que no cigarro tradicional;
  • O aerossol desses cigarros pode causar danos agudos às células das paredes dos vasos sanguíneos, e os efeitos a longo prazo são desconhecidos;
  • Alguns compostos químicos presentes no aerossol (tais como formaldeído e acroleína) são capazes de causar dano na estrutura dos genes e consequentes mutações. Estas evidências indicam o risco e a possibilidade de causarem câncer e efeitos sobre o sistema reprodutivo.

Tabagismo

Todas as campanhas de alerta sobre o vício em tabaco apontam para os altos índices de câncer causados pelas substâncias liberadas pelos cigarros. Doutor Ricardo esclarece, porém, que há outros impactos para a saúde oriundos do consumo de tabaco e nicotina:

  • Destruição dos pulmões, levando a dificuldades para respirar (caso da bronquite crônica e enfisema);
  • Entupimento de artérias de várias áreas do corpo, causando infartos e derrames cerebrais mais frequentes;
  • Envelhecimento precoce da pele;
  • Degeneração macular, uma alteração no olho que pode levar à cegueira;
  • Osteoporose, ou seja, perda da dureza dos ossos, facilitando fraturas; 
  • Efeitos sobre o sistema reprodutivo feminino, incluindo diminuição da fertilidade;
  • Impotência masculina.




Dr. Ricardo Marques - Médico associado da Clínica Onco Star, também é membro titular da Oncologia D’Or. Faz parte do corpo clínico do Hospital São Luiz Itaim (Rede D’Or), é membro da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC), além de possuir cadeira na American Society of Clinical Oncology (ASCO). Graduado em medicina pela Faculdade de Medicina do Triângulo Mineiro em Uberaba (MG), possui fellowship em Onco-Hematologia pela British Columbia Cancer Agency (Vancouver / Canadá) e em Oncologia Clínica pela Princess Margaret Hospital (Toronto / Canadá).

terça-feira, 31 de maio de 2022

Tabagismo volta a preocupar com número de óbitos e alerta para o crescente consumo de cigarros eletrônicos

Uma das causas decorrentes do tabagismo e da exposição ao fumo passivo é a Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC), quinta causa de morte no Brasil

 

O tabagismo é reconhecido como uma doença crônica causada pela dependência à nicotina presente nos produtos à base de tabaco. A Organização Mundial da Saúde (OMS) aponta que o tabaco mata mais de oito milhões de pessoas por ano. Mais de sete milhões dessas mortes são do uso direto e cerca de 1,2 milhão é o resultado de não-fumantes expostos ao fumo passivo. A OMS afirma ainda que cerca de 80% dos mais de um bilhão de fumantes do mundo vivem em países de baixa e média renda onde o peso das doenças e mortes relacionadas ao tabaco é maior.       

No Brasil, 443 pessoas morrem a cada dia por causa do tabagismo, segundo dados do Instituto de efetividade clínica e sanitária (2020) e cerca de R$ 125 bilhões são os danos produzidos pelo cigarro no sistema de saúde e na economia. Quanto às mortes anuais atribuíveis ao tabagismo, 37.686 correspondem à Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC), 33.179 às doenças cardíacas, 25.683 a outros cânceres, 24.443 ao câncer de pulmão, 18.620 ao tabagismo passivo e outras causas, 12.201 à pneumonia10.041 ao acidente vascular cerebral (AVC)

 “A DPOC é uma condição caracterizada pela limitação da passagem do ar pelos pulmões. Essa limitação do fluxo aéreo é irreversível e, em sua maioria, está associada a resposta inflamatória anormal dos pulmões devido à inalação de partículas nocivas, principalmente do tabaco, pois a fumaça e outras substâncias presentes no cigarro provocam, aos poucos, a destruição do tecido que forma as vias respiratórias. É a quinta causa de morte entre todas as idades e, nas últimas décadas, foi a quinta maior causa de internação no Sistema Único de Saúde (SUS) entre pacientes com mais de 40 anos, correspondendo a cerca de 200.000 hospitalizações e gasto anual aproximado de 72 milhões de reais”, evidencia o médico pneumologista credenciado da Omint Saúde, Ricardo Henrique Teixeira. 

Não se engane, cigarro eletrônico é tão vilão ou mais que o cigarro tradicional 

Os cigarros eletrônicos, proibidos no Brasil desde 2009, voltaram a circular, principalmente entre o público jovem. Segundo a Associação Médica Brasileira (AMB), 650 mil pessoas estão fumando com esse dispositivo. O médico cardiologista credenciado da Omint Saúde, Carlos Alberto Pastore, explica que esses dispositivos eletrônicos possuem uma concentração maior de nicotina, o que leva a uma maior dependência. Além disso, o vapor quente inalado prejudica as vias aéreas e as substâncias presentes para imitar sabores e odores também são tóxicas ao organismo. “Através de partículas ultrafinas que conseguem ultrapassar a barreira dos alvéolos do pulmão e acabam caindo na corrente sanguínea, são causadas inflamações que ao atingir os vasos, resultam em eventos cardiovasculares agudos como infarto e AVC. Diferentemente do cigarro convencional, que demora às vezes mais de 20 anos para manifestar um câncer ou algumas doenças relacionadas, o cigarro eletrônico chega de forma mais agressiva, de acordo com estudos recentes”, alerta Pastore. 

 

Prevenção e tratamento 

“No caso da DPOC existem tanto medicações de uso contínuo destinadas à prevenção das crises como aquelas que agem se o fôlego faltar. Mas, o que vale para todas as doenças respiratórias é manter a ingestão de líquidos, boa alimentação com frutas e legumes, agasalhar-se conforme a temperatura; evitar lugares fechados com aglomerações e sem ventilação; evitar o tabagismo, inclusive o passivo; lavar bem as mãos, principalmente ao tossir e espirrar; manter o uso de máscara em lugares abertos ou fechados se apresentar algum sintoma de infecção; nunca se automedicar; manter o calendário de vacinação atualizado; e o acompanhamento médico”, esclarece Teixeira. 

Para o tabagismo existem vários programas disponíveis pelo SUS, além do tratamento com medicamentos. Os especialistas apontam que o paciente fumante, ativo ou passivo, deve procurar orientação médica ao sentir qualquer desconforto, para que possa receber o tratamento mais adequado para o seu caso e melhorar sua qualidade de vida.

  

Omint

https://www.omint.com.br/blog/tabagismo/

 

Referências:

1.    https://www.inca.gov.br/tabagismo
  1. https://amb.org.br/noticias/posicionamento-sobre-os-dispositivos-eletronicos-para-fumar-defs/
3.    https://www.msdmanuals.com/pt-br/casa/fatos-r%C3%A1pidos-dist%C3%BArbios-pulmonares-e-das-vias-respirat%C3%B3rias/doen%C3%A7a-pulmonar-obstrutiva-cr%C3%B4nica-dpoc/doen%C3%A7a-pulmonar-obstrutiva-cr%C3%B4nica-dpoc?query=DPOC
4.    https://www.who.int/gard/publications/The_Global_Impact_of_Respiratory_Disease_POR.pdf

 

segunda-feira, 29 de maio de 2023

SUS oferece grupo de apoio ao tabagismo para fumantes e ex-fumantes

UBSs de São Paulo disponibilizam apoio especializado para vencer o vício em cigarro


O tabagismo é uma doença crônica resultante da dependência à nicotina, uma substância presente em diversos produtos que possuem tabaco em sua composição. O uso contínuo tem um impacto negativo na saúde e pode acarretar em uma série de problemas e doenças tanto para o usuário quanto para as pessoas que fazem parte do seu convívio social.

Estima-se que o tabaco seja responsável, anualmente, por mais de 8 milhões de mortes, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS). Não só isso, o hábito também é responsável por 25% de todas as mortes por câncer no mundo, segundo a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS).

Embora as pessoas saibam de todos os malefícios do uso da substância, abandonar o vício do cigarro e de produtos à base de tabaco é uma tarefa extremamente desafiadora, o que torna o processo de parar de fumar ainda mais complexo.

Pensando nisso, a UBS Jardim Capela (SP), gerenciada pelo CEJAM - Centro de Estudos e Pesquisas “Dr. João Amorim” em parceria com a Secretaria Municipal da Saúde de São Paulo, vem desenvolvendo um trabalho de conscientização e apoio na luta contra o vício de forma gratuita. Nos últimos cinco anos, aproximadamente 150 pacientes da região receberam assistência a partir do grupo de apoio ao tabagismo, que realiza encontros semanais com fumantes e ex-fumantes.

“A ação é uma maneira de alcançar um maior número de pessoas de uma única vez. Ao mesmo tempo em que, proporciona uma abordagem mais intensiva, o que não é viável em atendimentos individuais durante consultas médicas ou de enfermagem. Além disso, a definição de dias e horários fixos cria uma rotina para o paciente, o que contribui de maneira disciplinar para uma maior efetividade na cessação do tabagismo”, afirma Rodrigo Silva Cunha, Coordenador Médico do Grupo de Tabagismo da UBS Jardim Capela.

O grupo de apoio é composto por enfermeiros, farmacêuticos e médicos, que realizam sessões com o objetivo de informar e auxiliar o paciente na redução gradual do tabagismo até o fim da dependência completa. Quando necessário, também é utilizada a abordagem farmacológica, como a terapia de reposição de nicotina por intermédio de adesivos transdérmicos e medicamentos administrados oralmente.

Durante as reuniões, são realizadas ações de conscientização e informação sobre os riscos do vício e do uso de qualquer dispositivo ou produto contendo tabaco e/ou nicotina. Inclusive, são apresentados aos participantes os inúmeros benefícios que a interrupção do uso do tabaco proporciona para a saúde.

“As informações são transmitidas por meio de palestras ministradas pelos profissionais da unidade, bem como por meio do compartilhamento de experiências dos pacientes, que relatam tanto os benefícios de fazer parte de uma rede de apoio, quanto as dificuldades enfrentadas em suas rotinas durante o processo de parar de fumar”, complementa o médico.

Para dar o melhor suporte a esses pacientes, a UBS também oferece uma equipe multidisciplinar que realiza auriculoterapia, uma especialidade semelhante à acupuntura, utilizando pontos nas orelhas para tratar diversas patologias. Além disso, há apoio nutricional e sessões em grupo com psicólogos e psiquiatras.

Os encontros ocorrem durante todo o ano e são divulgados em consultas médicas e de enfermagem, visitas domiciliares dos Agentes Comunitários de Saúde quando identificam algum tabagista na casa e durante o acolhimento na Unidade Básica de Saúde.

Além do grupo do Jardim Capela, o CEJAM apoia a ação em outras unidades de saúde que gerencia em São Paulo. Aos interessados, mais informações e direcionamentos sobre esse tipo de atendimento podem ser adquiridos na UBS mais próxima.

 

CEJAM - Centro de Estudos e Pesquisas “Dr. João Amorim”

 

terça-feira, 31 de maio de 2022

Não se engane: fumar qualquer tipo de cigarro faz muito mal à saúde

NCM AMRIGS
No dia 31 de maio: Dia Mundial sem Tabaco, AMRIGS alerta para riscos de inovações da indústria tabagista, mas que fazem tão mal quanto o cigarro tradicional

 

O tabagismo é uma doença causada pela dependência química da nicotina e que, há muito tempo, vem sendo combatida pelos médicos. Apesar de haver muito trabalho no esforço de conscientização por entidades médicas e profissionais, há uma nova preocupação no cenário atual que é o cigarro eletrônico, que vem sendo amplamente usado, especialmente por jovens e que acabam servindo como porta de entrada para o fumo tradicional.

Segundo artigo feito por pesquisadores da Coordenação de Prevenção e Vigilância do Instituto Nacional de Câncer (INCA), o uso de cigarro eletrônico aumenta em mais de três vezes o risco de experimentação de cigarro convencional. Pelo menos 1 a cada 5 jovens de 18 a 24 anos usa cigarros eletrônicos no Brasil, ou seja, 19,7%

“A diferença é que no cigarro eletrônico a nicotina é volatilizada enquanto no cigarro tradicional há a queima, feita por combustão. Porém em ambos os casos acontece a absorção da nicotina que vai trazer malefícios. O cigarro eletrônico está proibido no Brasil. Porém, é facilmente encontrado e percebemos um número muito grande de jovens aderindo, o que nos preocupa muito. E não se enganem: o aroma mais agradável não impede a ação da nicotina sobre nosso organismo”, alertou o médico cirurgião oncológico, diretor de comunicação da AMRIGS, Marcos André dos Santos.

As sociedades médicas brasileiras esperam que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) decida ainda este ano manter proibida a importação e venda de cigarros eletrônicos no Brasil. Em 2009, a agência publicou resolução proibindo os chamados Dispositivos Eletrônicos para Fumar (DEFs), que agora passam por processo de discussão e atualização de informações técnicas.

A AMB, o Conselho Federal de Medicina (CFM) e entidades médicas, como a Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT), têm se unido em torno da proibição do comércio dos cigarros eletrônicos. Essas entidades alertaram a Anvisa sobre os prejuízos desse aparelho e têm lutado contra a informação falsa dos fabricantes, que afirmam que o cigarro eletrônico é alternativa mais saudável ao cigarro convencional.

Esse tipo de cigarro, chamado de vapers pelos fabricantes, na intenção de associar à figura do cigarro, contém uma série de substâncias nocivas e cancerígenas. Eles trazem, em sua composição, substâncias como nicotina, propilenoglicol e glicerol, ambos irritantes crônicos; acetona, etilenoglicol, formaldeído, entre outros produtos cancerígenas e metais pesados (níquel, chumbo, cádmio, ferro, sódio e alumínio). Para atrair consumidores, são incluídos aditivos e aromatizantes como tabaco, mentol, chocolate, café e álcool.

“Todos nós sabemos os malefícios que o tabagismo causa à nossa saúde. O cigarro, independente de sua característica, é um fator promotor de tumores malignos. Entre os mais comuns estão o câncer de boca e de laringe. Além disso, causa uma série de complicações pulmonares como enfisema pulmonar e doenças cardíacas. Portanto, estamos falando de um sério problema de saúde pública”, finalizou.


Orientação para quem quer parar de fumar

A Associação Médica do Rio Grande do Sul (AMRIGS), em parceria com a Sociedade de Pneumologia e Tisiologia do Rio Grande do Sul, reforça algumas orientações para quem está tentando parar de fumar. Os sintomas de abstinência do cigarro são transitórios e passageiros. A síndrome de abstinência da nicotina é um sinal de que o organismo está voltando a funcionar normalmente.

Você poderá sentir dor de cabeça, irritabilidade, dificuldade de concentração, ansiedade, alteração do sono e aumento de apetite. Segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA), a intensidade dos sintomas de ficar sem o cigarro variam de pessoa para pessoa, considerando também o nível de dependência. Mas eles passam e são parte do caminho na luta de quem quer parar de fumar.

Dicas do INCA para lidar com a síndrome de abstinência:

🚭 Não ter cigarro em casa;

🚭 Evitar álcool e café;

🚭 Fazer exercícios e se alimentar bem;

🚭 Pensar nos benefícios.

Ao parar de fumar, os benefícios à saúde são quase imediatos, conforme explicado pelo INCA:

Após 20 minutos, a pressão sanguínea e a pulsação voltam ao normal.

Após 2 horas, não há mais nicotina circulando no sangue.

Após 8 horas, o nível de oxigênio no sangue se normaliza.

Após 12 a 24 horas, os pulmões já funcionam melhor.

Após 2 dias, o olfato já percebe melhor os cheiros e o paladar já degusta melhor a comida.

Após 3 semanas, a respiração se torna mais fácil e a circulação melhora.

Após 1 ano, o risco de morte por infarto do miocárdio é reduzido à metade.

Após 10 anos, o risco de sofrer infarto será igual ao das pessoas que nunca fumaram.

Escolha uma melhor qualidade de vida! Diga NÃO ao tabaco 🚭

 

 Marcelo Matusiak


quarta-feira, 31 de maio de 2023

Pare de fumar e ganhe mais qualidade de vida

Fechando o mês de maio, no dia 31, temos o Dia Mundial Sem Tabaco, uma campanha global que busca conscientizar as pessoas a respeito dos males do tabagismo e apoiar as políticas públicas de restrição ao uso de cigarro. Infelizmente, embora tenha sido criado em 1987, um dia como esse não é capaz de mudar a cabeça de tantas pessoas que ainda fumam, mas é um esforço que vale a pena ser mantido. 

O tabagismo é um problema de saúde pública global. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), trata-se da principal causa evitável de morte em todo o planeta, responsável por cerca de 8 milhões de óbitos todos os anos. Estima-se que quase 1,3 bilhão de pessoas são adeptas ao tabagismo no mundo, o que representa cerca de 20% da população adulta global; e o consumo de tabaco é mais prevalente em países de baixa e média renda, onde as políticas de controle do tabagismo são menos abrangentes e eficazes. Mesmo sendo parte desse grupo de países, o Brasil possui bons resultados no controle do tabagismo. Segundo dados do Ministério da Saúde, o percentual total de fumantes com 18 anos ou mais no Brasil é de 9,1% (quase 20 milhões de pessoas), com maior concentração no público masculino.  

Embora os dados do tabagismo no Brasil indiquem uma tendência de redução no número de fumantes nas últimas décadas, ainda há desafios a serem enfrentados, como a alta prevalência de fumantes entre pessoas de baixa renda e a exposição ao tabagismo passivo em ambientes públicos e privados, bem como o advento dos dispositivos eletrônicos para fumar (DEFs).  

O tabagismo é responsável por uma série de problemas de saúde, incluindo doenças cardiovasculares, câncer, doenças respiratórias e problemas de saúde mental. Além disso, o tabagismo também afeta a economia global, causando perdas significativas em termos de produtividade e custos de saúde. 

Sobre os DEFs – cigarros eletrônicos e vapes – vale lembrar que a importação, venda, propaganda e publicidade são proibidas em território nacional desde 2009. Segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), a decisão foi tomada com base em estudos que indicavam que esses dispositivos representavam riscos à saúde pública e que não havia evidências suficientes para comprovar sua segurança e eficácia. A ANVISA tem reforçado a proibição dos cigarros eletrônicos e, portanto, sujeitos às mesmas restrições legais que os cigarros convencionais. 

Parar de fumar é difícil, pois trata-se de uma dependência. Ela ocorre principalmente em razão da nicotina, um alcaloide que age no sistema nervoso central e é responsável pela sensação de prazer e relaxamento que muitos fumantes relatam sentir ao fumar. Quando a nicotina é inalada através da fumaça do cigarro, ela é rapidamente absorvida pelos pulmões e levada para o sistema nervoso central. Lá, a nicotina se liga a receptores específicos nas células nervosas e desencadeia a liberação de neurotransmissores, como a dopamina, que produzem sensação de prazer e bem-estar. O problema é que, com o tempo, o cérebro se adapta à presença constante da nicotina e os receptores de nicotina se multiplicam. Isso pode levar a uma maior dependência do alcaloide e a uma necessidade cada vez maior de fumar para manter a sensação de prazer e evitar os sintomas de abstinência. Além da nicotina, o cigarro também contém outras substâncias químicas que podem causar dependência, como a acetaldeído e a acroleína. Por isso, o cigarro é considerado uma das drogas mais viciantes e prejudiciais à saúde. 

Porém, por mais desafiador que seja, parar é possível. Demanda esforço e determinação, além de uma mudança na rotina, pois muito do vício no cigarro se relaciona com os hábitos do fumante. Vale lembrar que, atualmente, existem diversas alternativas terapêuticas para a cessação tabágica, que vão desde a psicoterapia até terapias farmacológicas, com evidências robustas na literatura. 

Portanto, se você é tabagista e já pensou ou tentou cessar o tabagismo e não conseguiu, procure um profissional de saúde. Caso ainda não tenha considerado parar de fumar, considere.  

 

Ricardo Siufi - pneumologista e professor do curso de Medicina da Universidade Santo Amaro – Unisa. 


quinta-feira, 25 de agosto de 2022

Dia Nacional de Combate ao Fumo: dez perguntas e respostas sobre a relação entre tabagismo e câncer

 90% dos casos de câncer de pulmão possuem como origem o hábito. Por isso, é fundamental alertar sobre os prejuízos à saúde e lembrar que é sempre tempo de parar de fumar

 

O Dia Nacional de Combate ao Fumo, comemorado em 29 de agosto, é dedicado à conscientização dos danos causados pelo tabagismo. Dentre eles, o câncer de pulmão, doença que tem como origem em 90% a prática do hábito, está no topo. Os fumantes possuem um risco 20 vezes maior de desenvolverem tumores pulmonares, fazendo com que o alerta seja visto com ainda mais sensibilidade para este grupo em especial. 

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), apesar dos dados não serem novidades, os tumores pulmonares ainda lideram o ranking de doenças oncológicas com maior número de óbitos todos os anos. Além disso, de acordo com o Instituto Nacional do Câncer (INCA), mais de 30 mil pessoas irão ter o diagnóstico da doença em 2022. 

Um dado alarmante, também apresentado pelo INCA, indica que aproximadamente 10% dos brasileiros acima de 18 anos fumam - ou seja, 20 milhões de pessoas são fumantes no país. Mesmo o Brasil sendo reconhecido mundialmente por suas campanhas de combate ao fumo, esse desafio ainda é grande. Segundo a Dra. Mariana Laloni, oncologista da Oncoclínicas São Paulo, é necessário alertar quanto ao uso de vaporizadores de fumo, que tem sido usado principalmente por jovens. 

"Apesar da redução do consumo de cigarros no país, em decorrência das campanhas de conscientização e proibições do fumo, que vêm sendo aplicadas em locais públicos desde a década de 1990, o número absoluto de tabagistas ainda é alarmante. E os novos dispositivos tecnológicos de vape, que conquistam especialmente as chamadas gerações Millennial e Z sob a falsa justificativa de serem menos nocivos à saúde e por seu design moderno - que serve como atrativo adicional para essa parcela da população - representam uma ameaça ainda maior de retrocesso na luta contra o tabagismo", comenta a especialista. 

No mundo, a OMS aponta que atualmente 8 milhões de pessoas vão à óbito por causa de doenças relacionadas ao tabaco. No Brasil, esse número pode chegar a 156 mil mortes anualmente - uma média de 428 óbitos por dia. Vale lembrar ainda que o tabagismo vai muito além do câncer de pulmão, incluindo problemas de saúde como: doenças cardiovasculares, diabetes, infarto e Acidente vascular cerebral (AVC), entre outros.

 

Iluminando o caminho 

Com o avanço da ciência, as diferentes maneiras de tratar o câncer foram se transformando ao longo dos anos. No caso das neoplasias de pulmão, as alternativas terapêuticas têm sido indicadas para o enfrentamento da doença, como é o caso da radioterapia isolada. "A indicação depende principalmente do estadiamento, tipo, tamanho e localização do tumor, além do estado geral do paciente", diz Mariana Laloni. 

A imunoterapia exerce um papel importante para o enfrentamento do câncer de pulmão. A partir do reconhecimento do tumor pelo organismo, e que com o passar do tempo ele irá se "disfarçar" para não ser reconhecido e crescer, a técnica consiste em fazer com que o corpo ative uma espécie de chave, religando a resposta imunológica para agir contra o problema. 

"Embora o sistema imune esteja apto a prevenir ou desacelerar o crescimento do câncer, as células cancerígenas sempre dão um jeitinho de driblá-lo e, assim, evitar que sejam destruídas. O papel da imunoterapia é justamente ajudar os ‘soldados’ de defesa do organismo a agir com mais recursos contra o câncer, produzindo uma espécie de super estímulo para que o corpo produza mais células imunes e assim a identificação das células cancerígenas seja facilitada - devolvendo ao corpo a capacidade de combater a doença de maneira efetiva", explica a especialista. Entretanto, é fundamental alertar que antes de remediar, o câncer de pulmão deve ser prevenido. Para Mariana Laloni a melhor alternativa é sempre parar de fumar. 

A seguir, a oncologista Mariana Laloni esclarece dez perguntas e respostas comuns sobre a relação entre o fumo e o câncer.

 

O fumo pode aumentar o risco de câncer de pulmão? 

Sim. O tabagismo pode aumentar em aproximadamente 20 vezes o risco de desenvolver câncer de pulmão. Cerca de 90% dos casos estão relacionados ao fumo.

 

Quais são os principais sintomas do câncer de pulmão? 

Nas fases iniciais da doença, onde a chance de cura é maior, o problema é, infelizmente, silencioso, não apresentando sintomas. Já nas fases em que o câncer está mais avançado, o paciente pode apresentar sinais no aparelho respiratório, como tosse, dor no peito e falta de ar.

 

Quais são os principais tipos de câncer de pulmão? 

Existem dois tipos de câncer de pulmão, sendo eles o carcinoma de pequenas células e o de não pequenas células. Geralmente, o segundo caso corresponde a 80 a 85% dos casos, podendo ser subdividido em carcinoma epidermóide, adenocarcinoma e carcinoma de grandes células. No mundo, o tipo mais comum é o adenocarcinoma, atingindo 40% dos pacientes.

 

Como é o tratamento para câncer de pulmão? 

Para o tratamento adequado, é importante analisar o estadiamento, subtipo, tamanho e localização do tumor, além se o paciente possui algum tipo de comorbidade. Caso a doença esteja em seu estágio inicial e localizado apenas no pulmão, a indicação é de cirurgia ou radiocirurgia, uma radioterapia direcionada. 

Já nos casos mais avançados, porém sem lesões à distância, o tratamento escolhido pode ser a combinação da quimioterapia e radioterapia, podendo consolidar a imunoterapia. Quando existem metástases, o caminho para os recursos irá depender do tipo de tumor.

 

Além do câncer de pulmão, o tabagismo aumenta o risco de outros tipos de câncer? 

Sim. Além do câncer de pulmão, o fumo pode aumentar os riscos para o câncer de de cabeça e pescoço, boca, laringe, faringe e bexiga.

 

Quais são os principais elementos cancerígenos dos cigarros convencionais? 

Ao todo, existem quase cem tipos diferentes de substâncias cancerígenas nos cigarros tradicionais. As principais são: monóxido de carbono, amônia, cetonas, formaldeído, acetaldeído, acroleína, nicotina e alcatrão. Dentre elas, é importante ressaltar aida a mais perigosa em termos cancerígenos: a nicotina.

 

Qual dessas substâncias causa dependência em cigarros? 

É justamente a nicotina, uma vez que provoca a sensação de prazer e pode levar ao vício. Essa substância psicoativa faz parte da Classificação Internacional de Doenças (CID) da OMS.

 

O cigarro eletrônico também aumenta o risco de câncer de pulmão? 

Sim. Como ele vaporiza um líquido com grande quantidade de nicotina, a substância também pode elevar os riscos da doença. Mas, vale lembrar que ainda não se sabe qual a extensão de impacto no desenvolvimento de cânceres, devido ao desenvolvimento recente e uso variado do produto: há pessoas que fumam apenas ele, outras que consomem cigarros eletrônico e convencional, aquelas que nunca fumaram cigarro convencional e foram direto para o eletrônico, as que substituíram o convencional pelo eletrônico, etc.

 

Depois de quanto tempo sem fumar há a diminuição do risco de desenvolvimento de cânceres ligados à nicotina? 

Com o passar das horas e dias, os benefícios à saúde são bastante perceptíveis e as chances de desenvolvimento de cânceres também diminui com o passar dos anos - com 10 anos sem fumar, os riscos são considerados baixos. Mas, dependendo da carga tabágica - número de maços por dia vezes o número de anos que a pessoa fumou - é importante continuar de olho.

 

Que impacto haveria nos diagnósticos de câncer se todos os fumantes do mundo conseguissem se livrar do vício agora? 

O principal impacto seria a diminuição de aproximadamente 33% do número de casos de câncer diagnosticados e, ao longo do tempo, uma redução ainda mais expressiva.
 


Grupo Oncoclínicas

www.oncoclinicas.com

 

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