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sábado, 22 de abril de 2017

Horta comunitária não é só coisa de gringo



Condomínios brasileiros já apostam no compartilhamento de alimentos para uma vida fisicamente melhor e socialmente mais ativa.

Já imaginou sair do seu apartamento pouco antes do almoço para colher verduras frescas e sem agrotóxicos? As hortas comunitárias não apenas proporcionam mais saúde à mesa, mas também ajudam no convívio social entre as pessoas de uma comunidade.
A nova moda, que em outros países não é tão nova assim, está chegando ao Brasil e promete trazer de volta uma série de princípios perdidos com a correria do dia a dia e a falta de tempo das pessoas. “Todos nós consumimos níveis absurdos de agrotóxicos todos os dias e uma horta comunitária dentro do condomínio faz com que as pessoas se alimentem melhor, além de ser um processo simples de ser realizado”, garante Rejane Carvalho, franqueada da BRCondos Jaraguá do Sul, administradora de condomínios.
Cultivar uma horta não requer muitos recursos financeiros e também não exige um espaço tão grande quanto parece. Porém, claro, deve ser aprovada pela maioria simples dos condôminos em assembleia. “Essa obra é considerada útil e deve começar devagar. Além disso, pode ser feita em uma pequena parte do jardim do prédio até que se tenha certeza de que o projeto dará certo”, explica.
Após decidir o espaço, o condomínio deve orçar os custos da terra que será utilizada e outros itens como nivelamento do solo, criação dos canteiros, escolha das sementes e outras questões fundamentais - como o sistema de irrigação da horta. “Para os condomínios que não têm espaços disponíveis, a indicação é criar a horta em vasos que possam ser transportados”, sugere.
Esse processo funciona melhor com a contratação de um profissional que passe as primeiras instruções na fase de implantação. O especialista vai auxiliar na escolha do lugar mais apropriado, iluminado e de fácil acesso aos moradores. “Além de tudo isso, essa pessoa vai ensinar necessidades básicas para que uma horta dê certo, como a prática da compostagem, onde os moradores reaproveitam o lixo orgânico de suas próprias casas, por exemplo”, completa.
As sementes ou mudas podem ser decididas pelos moradores, sendo que os espaços menores não comportam grandes folhosos como brócolis e alface, por exemplo. Condomínios menores podem investir em temperos como manjericão, salsa, cebolinha, hortelã e orégano. “Outro ponto importante é a manutenção das verduras, que precisa ser feita diariamente. Uma boa dica éenvolver as crianças nesse serviço”, diz Rejane.
Alguns condomínios optam pela colheita individual e outros funcionam melhor com uma distribuição racionada. “É fundamental que as regras de uso da hortaestejam bem claras para todos, o que evitará conflitos desagradáveis. Épossível revezar entre os condôminos a manutenção do espaço e estabelecer quais dias da semana serão utilizados para colher os alimentos”, acrescenta.
Na Alemanha, mais especificamente em Berlim, são cerca de 80 mil hortas comunitárias. Além disso, quase 80% das famílias que vivem em áreas urbanas da Rússia fazem uso desse tipo de compartilhamento. Áustria, Bélgica, Portugal e muitos outros fazem isso há bastante tempo.
O Brasil ainda está engatinhando nesse caminho, mas as possibilidades de que o sistema funcione são grandes. “Estamos falando de processos simples e capazes de modificar a vida das pessoas emocionalmente, fisicamente e socialmente. Basta que haja conscientização dos moradores sobre a importância de unir praticidade, sustentabilidade e saúde, além de uma boa dose de generosidade para compartilhar tudo isso”, conclui Rejane.



Jéssica Gonçalves



Aleitamento materno: isso é “para inglês ver”? *



Não acredito que alguém tenha qualquer dúvida a respeito da importância do aleitamento materno, segundo as recomendações da Organização Mundial de Saúde, (OMS): desde a sala de parto, exclusivo e em livre-demanda até o 6º mês, estendido até 2 anos ou mais.

Dia após dia, esse tema é debatido, discutido e ainda não consigo entender quais os motivos que dificultam essa prática de alimentação saudável, levando benefícios ao bebê (lactente) e às mães que amamentam (lactantes), fortalecendo o vínculo, favorecendo um mundo mais humano e mais interessante de se viver.

E não se trata de um julgamento. De forma alguma, uma mãe que, por qualquer razão, não amamenta seu filho não é uma mãe melhor ou pior do que as outras que amamentam. Trata-se simplesmente de INFORMAÇÃO, de estudos científicos. O fato de algo não ser adequadamente praticado não tira sua validade. Vale assim para não fumar, não ingerir bebidas alcoólicas na gestação, para prática de exercícios físicos, entre tantas outras questões que, apesar de (quase?) todos conhecerem os riscos, não é uma unanimidade nas ações.

Na comemoração do Dia das Mães no Reino Unido (26 de março), uma campanha (#freethefeed - movimento que promove uma abordagem não-julgadora da amamentação), de uma agência de publicidade (Mother London), “viralizou” e o mundo viu a imagem de um seio gigante sobre um prédio, publicada inclusive no New York Times, entre outros, para “sensibilizar as pessoas na Inglaterra sobre os estigmas sociais que cercam a amamentação, especialmente, em público.”

Segundo a agência, “Esse foi nosso projeto para o Dia das Mães. Uma celebração de que toda mulher tem o direito de decidir onde e como quer alimentar seus filhos sem se sentir envergonhada ou culpada por suas escolhas”.

Pois vejam só as matérias publicadas no The Guardian (jornal de língua inglesa de maior distribuição mundial), também da Inglaterra, uma delas (09/09/2016) sobre a baixíssima taxa de aleitamento materno no país (uma das menores do mundo), outra (23/03/2017) afirmando que menos de 50% das mães inglesas continua amamentando após os 2 meses de idade e uma mais recente (28/03/2017) mostrando a experiência dessas mães em relação ao aleitamento.

Chamou minha atenção uma matéria publicada em 09/04/2017 num site com o título: O que as mães modernas pensam sobre amamentação: não é real”, onde é citada uma pesquisa realizada com 500 mães, em Londres, mostrando que 75% delas iriam parar de amamentar devido ao medo de dor, 71% devido a tomar remédios e 63% devido ao embaraço de ter que amamentar em público.

Vale lembrar que o The Lancet é uma revista inglesa de grande influência, que abrange também a área de Pediatria, e na qual foi publicada uma importantíssima série sobre aleitamento materno, com a participação de um médico brasileiro (Dr. Cesar Victora), premiado recentemente no Canadá (prêmio Gairdner de Saúde Global) pelos brilhantes serviços prestados em prol da saúde mundial por defender a relevância da amamentação.

O Prêmio Gairdner distingue anualmente sete cientistas por suas contribuições à pesquisa em medicina e saúde global, que reconhece avanços científicos que produziram profundo impacto para a saúde em países em desenvolvimento. Cada um dos premiados é considerado um potencial candidato ao prêmio Nobel.

Voltando à matéria do site, no estudo foram destacadas seis razões alegadas pelas mães para não quererem amamentar.

·         Toda a experiência foi cansativa.
A maioria das mães com seu primeiro filho descobriu que o aleitamento materno é exaustivo, especialmente quando há tarefas domésticas associadas, e o desgaste pode afetar seu bem-estar físico, emocional e mental.

·         Isso tornou o bebê mais satisfeito.
A amamentação é altamente recomendada, mas pode não satisfazer o bebê e a mudança para fórmula faz ver o bebê crescer.

·         Falta de suporte.
A licença paternidade curta (duas semanas) deixará a mãe sozinha para cuidar do bebê e da casa, e essa falta de apoio pode trazer o risco de desmame precoce.

·         Algumas mães simplesmente não gostam.
Uma mãe da pesquisa rejeitou a ideia e a prática da amamentação, sentindo-se emocionalmente abalada e sem apoio para essa questão dos profissionais de saúde.

·         Pressão social.
As mães se sentem muito questionadas sobre o tempo de amamentação e são pressionadas para o uso de fórmulas acima de 3 meses, colocando em risco a amamentação.

·         Antigos costumes sociais.
A mentalidade tradicional, antiga, considera o aleitamento materno como um tabu e socialmente inaceitável, prejudicando a amamentação em público.

Assim como na Inglaterra, outros países de 1º mundo apresentam essa abordagem em relação ao aleitamento materno e contam com uma taxa baixíssima (Estados Unidos, França, entre outros) dessa prática.

Apesar de as nossas taxas de duração do aleitamento materno exclusivo (AME), percentual de AME até o 6º mês, taxa de AM até 1 e 2 anos serem muito mais significativas, nos últimos 10 anos, pudemos observar uma estagnação desses valores.

Nossas ações institucionais (Iniciativa Hospital Amigo da Criança, Método Canguru, Norma Brasileira de Comercialização de Alimentos para Lactentes e. Crianças de 1ª Infância, Bicos, Chupetas e Mamadeiras, Semana Mundial de Aleitamento Materno, Lei para favorecer aleitamento materno em público) estão em andamento, mas ainda precisamos de um apoio e conscientização maiores e mais efetivos da sociedade, do governo, dos profissionais de saúde, dos empresários, das escolas para atingirmos a meta da OMS de 50% de aleitamento materno até o 6º mês em 2.025.

Então, vamos agir. Juntos. Em apoio às mães e às crianças. Isso pode garantir o futuro do Brasil, do mundo e dessas próximas gerações.

*É uma expressão cujo sentido o Dicionário Houaiss define como “para efeito de aparência, sem validez”. Uma das explicações mais aceitas é do filólogo João Ribeiro em seu livro “A língua nacional”: no tempo do Império, as autoridades brasileiras, fingindo que cediam às pressões da Inglaterra, tomaram providências de mentirinha para combater o tráfico de escravos africanos – um combate que nunca houve, que era encenado apenas para inglês ver”. O sentido da expressão nesse contexto é exatamente o mesmo que ela tem até hoje.






Dr. Moises Chencinski
·         CRM-SP: 36.349
·         Pediatra e homeopata
·         Presidente do Departamento de Aleitamento Materno da Sociedade de Pediatria de São Paulo (2016 / 2019)
·         Membro do Departamento de Pediatria Ambulatorial da Sociedade de Pediatria de São Paulo. 



E LULA ACORDOU NUM SÍTIO QUE NÃO ERA DELE


 
        Para contar desde o começo essa história do sítio de onde Lula se autodespejou, eu preciso começar por seu personagem mais estranho - Fernando Bittar. Ele é dono de um local aprazível onde não chegava telefonia celular. A propriedade precisava de cuidados e reformas para cuja execução não dispunha de renda suficiente. Mas não se deixou abater por isso.
        Disposto a transformar o Santa Bárbara num pequeno paraíso serrano, para onde nunca ia nem iria, o remediado Bittar, em vez de pedir orçamento para três empreiteiros e escolher o de menor preço, como faríamos nós, perguntou a seus universitários botões: qual é a maior empreiteira do país, universitários? E os botões, em coro lhe responderam: a Odebrecht. Não havendo discordância entre os informantes, Fernando decide. Que seja a Odebrecht.
        A poderosa construtora de hidroelétricas, portos e rodovias, despacha engenheiros para Atibaia. E a obra foi feita, ficando pronta bem antes da Linha 6 do metrô de São Paulo. Mas faltavam detalhes. Se alguma vez na vida você tentou falar com empresa de telefonia celular por telefone, deve saber o quanto isso é difícil. Imagine, então, conseguir dela a instalação de uma torre, só para você, em meio aos matagais e matacões de despovoada serra. Impossível? Não ao Fernando. Ele ligou para a OI e conseguiu sua torre. Também a velha cozinha não estava legal. Era preciso melhorar aquela parte da casa. Para a impressionante e complexa tarefa, nosso herói chamou outra grande empreiteira, a OAS, terceira no ranking das maiores do país.
        Agora, pasmem. Quando tudo ficou pronto, num lance de fazer inveja a João Pedro Stédile, o ex-presidente Lula irrompe no Santa Bárbara, sem foices nem bandeiras vermelhas, com aquela entourage que a nação lhe disponibiliza vitaliciamente para que nunca mais na vida necessite ir até a adega buscar uma garrafa. E de tudo, a partir daí, usou e abusou em 111 visitas até seu autodespejo.
        Gostaria de haver assistido aquela alvorada de uma nova consciência na alma de Lula. Só pode ter sido algo assim. Veja se não. Ele acordou, esfregou os olhos, contemplou assustado seu entorno, sacudiu a galega até despertá-la e disparou: "O que estamos fazendo aqui, mulher? Não me chamo Fernando e não moro em Atibaia! Vamos embora deste lugar!". E se foram para nunca mais voltar.
        Nem Luiz Inácio, nem Fernando. Só alguns milhares de garrafas de vinhos finos, se não resgatadas, dormem serenas na fria encosta da Serra do Itapetinga.



Percival Puggina - membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil. integrante do grupo Pensar+.

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