Intensidade de energia é controlada
por médico treinado para incidir sobre regiões específicas do sistema nervoso e
assim transformar as sensações
Dor
crônica é um tormento e quando já se tentou de tudo e ainda assim ela permanece
chega a ser desesperador. Mas há uma luz no fim do túnel: o tratamento de Estimulação Medular, que por meio de
impulsos elétricos na medula há a supressão
da dor.
De acordo com a neurocirurgiã Juliana
Zuiani, de Campinas, o método de neuromodulação
consiste no envio de impulsos através de eletrodos implantados sobre a medula.
Movidos a um gerador de energia -- um neuroestimulador ou um marca-passo
neurológico --, os pulsos elétricos provocam alteração nos circuitos cerebrais,
mudando a sensação da dor.
“Na prática, o funcionamento é
simples. A energia elétrica é emitida em doses controladas para regiões
específicas do sistema nervoso. Neste processo, fibras medulares são
despertadas ou inativadas para controlar a dor, além de ocorrer alteração de
microcirculação sanguínea e modulação de circuitos cerebrais no centro de
controle da dor”, explica.
Peixe elétrico
Não é de hoje que se recorre a
energia elétrica para tratamento da dor. Gravuras do Egito antigo (600 a.C.)
mostram uma espécie de peixe elétrico do rio Nilo (Torpedo Fish) sendo
usado como terapia em pacientes.
Os primeiros marca-passos
implantáveis foram os cardíacos, surgidos na década de 1940. O avanço
tecnológico permitiu o desenvolvimento de baterias portáteis de longa duração,
bem como de eletrodos que se moldam entre a coluna vertebral e a meninge, que
reveste a medula espinhal (espaço epidural). Essa evolução viabilizou o
implante marca-passo neurológico e possibilitou o cuidado e o alívio para dores
intratáveis.
“Dependendo da região da medula que
recebe os estímulos, o cérebro interpreta como um formigamento leve ou uma
massagem no local onde antes existia a sensação de dor. A sensação gerada é
agradável e substitui a dor”, enfatiza Dra. Juliana.
Segundo ela, existem métodos de
estimulação medular que funcionam em determinadas frequências e que o paciente
nem percebe que algo está acontecendo. A programação dos geradores de pulsos é
feita por médico treinado. O especialista vai escolher quais polos dos
eletrodos estarão com cargas positivas, negativas ou neutras. “Há muitas
combinações e o treinamento do médico é para que se evite uma programação
ineficaz”.
As principais
indicações para o tratamento de dor crônica são para pacientes com dores
neuropáticas refratárias às terapias clínicas e multidisciplinar, como por
exemplo, Síndrome de Dor Regional Complexa, Síndrome Pós-Laminectomia, dor
associada a vasculopatia de membros inferiores (dor vascular nas pernas),
angina refratária (dor de angina - apenas para casos já tratados pelo
cardiologista e que persistem com dor), radiculopatia crônica (dor irradiada),
neuropatia diabética, entre outras.
”Para saber se o
problema é tratável por esse método, deve-se procurar um especialista em dor ou
um neurocirurgião funcional para avaliação”, recomenda Juliana. Outras
utilizações com resultados promissores, mas ainda em fase experimental são
reabilitação de pacientes com lesão medular, auxílio na recuperação da marcha
(voltar a andar), melhora de espasticidade em casos selecionados, progresso de
marcha em pacientes com Doença de Parkinson, entre outros.
O procedimento pode ser realizado com
anestesia local ou geral. Vai depender da técnica aplicada e da tolerância do
paciente. Essa cirurgia demora entre 40 minutos até duas horas, conforme o
caso.
As quatro marcas de Estimuladores Medulares
disponíveis no Brasil são: Medtronic (EUA); Abbott - St. Jude Medical
(EUA); Boston Scientific (EUA) e StimWave (EUA). A Dra.
Juliana frisa que cada marca tem suas peculiaridades, mas todas são sólidas no
mercado, com qualidade técnica e garantia, além de possuírem equipe disponível
para auxílio ao paciente. É importante suporte vitalício para os aparelhos, uma
vez que os implantes podem durar o resto da vida, com eventual troca de
geradores, já que possuem bateria com vida útil variável.
Dra. Juliana Zuiani - Formada em Medicina pela Unicamp, onde também fez
Residência Médica em Neurocirurgia; Especialização em Neurocirurgia Funcional
na Universidade de Toronto - Canadá, e aperfeiçoamento na Cleveland Clinic --
EUA; Especialização em microcirurgia no ICNE - SP com o Prof. Dr. Evandro de
Oliveira; Título de especialista em Neurocirurgia; Membro da Sociedade
Brasileira de Neurocirurgia e da Sociedade Brasileira de Estereotaxia e
Neurocirurgia Funcional; Coordenadora da Divisão de Neurocirurgia Funcional do
Hospital da PUC Campinas.
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