A economia do Brasil vive um paradoxo. De um lado,
milhares de vagas de empregos disponíveis no mercado, de outro a falta de
qualificação adequada para que os jovens as ocupem.
Embora estejamos vivendo com menos restrições que
no início da pandemia, principalmente nas atividades econômicas, ainda temos
cerca de 13,5 milhões de desempregados, sendo que, segundo pesquisa da
Confederação Nacional da Indústria (CNI), a falta de qualificação impede que
boa parte destes brasileiros ingresse no mundo do trabalho. Esse paradoxo se
acentua em um dos setores que mais emprega no Brasil, o industrial. Cinco em
cada dez indústrias enfrentam dificuldades para encontrar profissionais
qualificados, interferindo diretamente em nossa tão sonhada recuperação
econômica e social.
Esse cenário também é desanimador em setores que,
tradicionalmente, requisitam grande quantidade de mão de obra, como os de
móveis, vestuário, têxtil e, ainda, o de máquinas e equipamentos. Em algumas
profissões, como de operador, por exemplo, a carência de qualificação supera a
casa dos 96%.
Motivos elementares, como a dificuldade de
expressão, problemas com cálculos matemáticos, ausência de noções básicas em
informática, falta de domínio de outras línguas, principalmente o inglês, e
poucos anos de estudo curricular, fazem parte de uma pesquisa da União Geral
dos Trabalhadores (UGT) que explica essa contradição de muitas vagas e um
grande número de pessoas buscando um trabalho, ao mesmo tempo.
Sugestões já foram dadas por setores da sociedade,
sem contar as várias propostas engavetadas no parlamento brasileiro para
solucionar esse problema, entretanto, elas se perdem por serem muito
"pontuais". A maioria delas deixa de lado a discussão da “causa”,
atendo-se apenas aos “efeitos”.
Enquanto o foco for apenas em programas
assistenciais, a exemplo do Bolsa Família e o recém-criado Auxílio Brasil, sem
desmerecê-los pelas suas importâncias, principalmente em momentos como de
agora, vamos continuar consumindo montanhas de recursos públicos e pulando de
crise em crise, sem focar no cerne do problema!
O Brasil precisa de medidas estruturantes, que
priorizem a EDUCAÇÃO das camadas mais pobres da população. A meu ver, esse é o
único caminho para acabarmos com a desigualdade social e econômica da nossa
nação.
Existem exemplos que comprovam essa tese. Um deles
é o da Coréia do Sul, que experimentou um crescimento econômico vertiginoso nas
últimas quatro décadas, tendo como uma das principais razões de tal
transformação o desenvolvimento educacional, conquistado a partir de uma
verdadeira revolução no ensino básico do país.
De forma complementar, foram implementados
programas de qualificação, como o de aprendizagem, que já revelaram sua
eficácia, pois as novas gerações continuam impulsionando o desenvolvimento do
país asiático. Podem ter certeza que aqui no Brasil não seria diferente. Quanto
mais iniciativas voltadas à educação e formação de nossos jovens forem criadas,
mais oportunidades reais estaremos criando.
A experiência do CIEE (Centro de Integração
Empresa-Escola) atesta que o Programa de Aprendizagem, aplicado de acordo com a
Lei n.º 10.097/2000, é um treinamento extremamente eficaz para o futuro
profissional. A qualificação teórica, ajustada à prática do trabalho na empresa
onde os jovens atuam, aprimora a capacidade e corrige deficiências técnicas e
comportamentais, preenchendo a lacuna deixada pelas falhas (ou os chamados gaps)
que ainda temos no ensino escolar brasileiro.
A recém-instalada Comissão Especial do Estatuto do
Aprendiz (PL 6461/2019), composta por deputados de diferentes partidos e de
vários estados da Federação, tem como grande missão produzir uma legislação
moderna para o novo Marco Regulatório da Aprendizagem do Brasil.
Além de melhorar a qualidade do nosso sistema de
ensino, principalmente o público, precisamos semear agora o que queremos colher
no futuro. Por esse motivo, somente se plantarmos hoje a semente da
educação conseguiremos celebrar no futuro a
"colheita" de uma safra de adultos aptos a ocupar o seu lugar no
mundo do trabalho. E o Brasil, então, poderá ocupar o lugar que sempre mereceu.
Domingos
Murta - presidente do Centro de Integração Empresa-Escola do Paraná (CIEE/PR),
ex-presidente do Banco do Estado do Paraná (1996/1997), ex-diretor do Banco
Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (1997/1999).
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