Pneumologista
do Vera Cruz Hospital explica sobre os prejuízos à saúde; fumantes têm mais
chances de desfecho fatal caso contraiam o novo coronavírus Divulgação
"Uma válvula de escape
para os momentos de estresse e irritação." Assim Helena Molinari, 39 anos,
profissional de relações públicas, resume o vício no cigarro. "Sou fumante
há três anos e, durante a pandemia, minha rotina de trabalho tem sido em home
office, o que facilita o acesso ao tabaco. Preciso gerir o tempo e a equipe
a distância, tenho mais demandas e cobranças, e acabo fumando mais."
O caso de Helena não é
isolado. Aliás, pelo contrário, se aplica a muitos brasileiros. Dados do IPC
Maps, banco de dados que mede o índice potencial de consumo em todo país,
mostra que o consumo do tabaco aumentou 16% em 2021, quando comparado ao ano
passado. Na região de Campinas, o crescimento foi de 16,6%, um pouco acima dos
parâmetros nacionais, sendo o vício mais presente nas classes C, D e E, que
fumaram 20% a mais do que em 2020.
Os dados ganham
destaque no próximo domingo (29), que marca o Dia Nacional de Combate ao Fumo.
Na visão do pneumologista Ricardo Siufi, do Vera Cruz Hospital, o aumento
durante a pandemia é multifatorial. "Provavelmente, o maior gatilho está
na questão emocional, como coexistência de transtorno de ansiedade e depressão
em pacientes tabagistas. Não podemos negar, porém, que novos hábitos
desenvolvidos ao longo da pandemia, como o trabalho em home office, por
exemplo, exercem uma influência importante, visto que diversos regimes de
trabalho presenciais não permitem o tabagismo", exemplifica.
Outra pesquisa, da
Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), em parceria com a UFMG (Universidade Federal
de Minas Gerais) e a Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), já havia
monitorado este aumento no ano passado, logo que a orientação à população era
pelo distanciamento social para combater a disseminação do coronavírus. Na
ocasião, mais de 30% dos homens e 38% das mulheres fumantes passaram a
consumir, ao menos, 10 cigarros a mais por dia em média.
A maioria das pessoas
acende o primeiro cigarro por curiosidade ou, eventualmente, de forma
recreativa. "Comecei por curiosidade. É um vício nocivo para a saúde,
quero sempre parar porque não gosto de fumar, me incomoda o cheiro, o gosto,
mas ainda não consegui. Tentei no início deste ano, mas achei que estava
fazendo bem para meu psicológico, e não encontrei ainda um substituto para esse
momento de pausa e reflexão que o cigarro me propõe", adiciona Helena.
Para o médico, as
pessoas perpetuam o hábito de fumar pela presença da nicotina. "A
substância tem alto poder em causar dependência e gerar uma sensação de
bem-estar, com uma ativação importante de nosso sistema de recompensa",
explica Siufi.
Segundo o médico, o
crescimento no tabagismo durante a pandemia é preocupante, pois o hábito piora
os desfechos da Covid-19. "Temos vivido com frequência complicações de
pessoas fumantes. O uso do tabaco pode elevar o risco de desenvolver a
Covid-19, com quadros mais graves e até mesmo fatais", salienta.
Doenças relacionadas
ao consumo do tabaco
O especialista
esclarece que o consumo do tabaco deve ser tratado como uma doença, já que
causa dependência. "Não apenas a nicotina exerce efeito maléfico para o
nosso organismo, tanto que já foram encontradas mais de 40 substâncias
comprovadamente carcinogênicas no cigarro industrial", diz.
O ato de fumar está
relacionado a aproximadamente 50 doenças, entre elas as respiratórias (doença
pulmonar obstrutiva crônica, infecções respiratórias e asma), cardiovasculares
(infarto agudo do miocárdio e hipertensão arterial) e diversos tipos de
cânceres (pulmão, laringe, faringe e esôfago).
"Os fumantes
adoecem com uma frequência duas vezes maior do que os não fumantes e têm menor
resistência física, menos fôlego e um pior desempenho nos esportes e na vida
sexual, além de envelhecerem mais rapidamente", pontua Siufi.
Benefícios de parar de
fumar
Cessar o consumo de
cigarro traz inúmeros benefícios, segundo o pneumologista. Tais vantagens podem
ser observadas logo na primeira hora. "Com 20 minutos, é possível observar
melhora na pressão sanguínea. Em duas horas, há uma baixa acentuada nos níveis
de nicotina no sangue. Entre 12 e 24 horas, os pulmões já funcionam melhor.
Após um ano, o risco de morte por infarto é reduzido à metade e, finalmente,
após 10 anos, o risco de sofrer infarto será igual ao das pessoas que nunca
fumaram", classifica.
O primeiro passo para
parar de fumar é reconhecer os danos que o hábito causa à saúde e, na
sequência, procurar por um pneumologista para uma avaliação adequada e início a
tratamentos adequados. "Os cuidados envolvem desde um exame clínico
completo, solicitação de exames e avaliação do grau de dependência nicotínica
para que, assim, em decisão compartilhada, seja proposta a melhor terapêutica
para a cessação", conclui Siufi.
Fonte: Hospital Vera Cruz
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