Cientistas
defendem que a doença deixe de ser classificada como uma síndrome respiratória
aguda grave (SRAG) para se tornar a primeira febre viral trombótica
Para a maior parte
dos leigos, a covid-19 pode ser definida apenas como uma doença respiratória,
que em poucos dias pode acometer os pulmões. Porém, cientistas descobriram
recentemente que esta é apenas uma das faces da doença. "O SARS-CoV-2
possui também impacto vascular no organismo por causar lesão endotelial, que é
a camada interna do vaso. "Esta lesão pode causar dissecção deste vaso,
inflamação do endotélio com comprometimento da circulação, tromboembolismo
arterial e venoso, alteração da microcirculação, e consequente repercussão em
todo o organismo ", explica o médico Dr. Josualdo Euzébio da Silva,
especializado em cirurgia vascular e endovascular.
Conforme o médico revela, as alterações
endoteliais podem justificar essas alterações. Dr. Josualdo enfatiza ainda que
a Covid-19 precisa ser mais conhecida para melhor entendimento. "Temos
visto alterações circulatórias que podem ocorrer tanto na fase da doença quando
no período até três meses pós-covid. Algumas alterações podem ser tratadas com
medicamentos e outras necessitam de tratamento cirúrgico".
Uma pesquisa publicada na revista científica
norte-americana Circulation Research mostrou que o novo coronavírus utiliza uma
enzima de conversão da angiotensina (ACE2) para facilitar a entrada nas
células-alvo e iniciar a infecção. Esta entrada viral na célula depende da ligação
da proteína S (glicoproteína Spike) à ECA (enzima de conversão da angiotensina)
nas células hospedeiras.
"Segundo o artigo da renomada revista,
quando o endotélio vascular é infectado, ele desencadeia a produção de espécies
reativas de oxigênio mitocondrial e desvio glicolítico. Paradoxalmente, a ACE2
é protetora do sistema cardiovascular, enquanto a proteína SARS-CoV-1 S promove
lesão pulmonar ao diminuir o nível de ACE2 nos pulmões infectados. No estudo,
os cientistas mostraram que a proteína S sozinha pode danificar as células
endoteliais vasculares (ECs) ao diminuir a regulação da ECA2 e,
consequentemente, inibir a função mitocondrial".
Neste estudo, o Sars-CoV-2 é ressaltado com uma
característica peculiar: a de promover a hipercoagulabilidade do sangue,
sobretudo por fomentar uma produção elevada de substâncias inflamatórias e de
uma enzima chamada trombina, que participa do processo de coagulação. "As
complicações circulatórias deste evento podem comprometer pulmões, coração,
rins e cérebro. O tromboembolismo arterial e venoso e o comprometimento da
microcirculação pode levar até mesmo a perda dos membros inferiores",
destaca o cirurgião.
Um artigo publicado recentemente no periódico
científico Memórias do Instituto Oswaldo Cruz defendeu que, inclusive, que a covid-19 deixe de ser
classificada como uma síndrome respiratória aguda grave (SRAG) para se tornar a
primeira febre viral trombótica. Seria uma classificação pioneira, já que ela é
a primeira que favorece a coagulação excessiva, aumentando o risco de trombose.
Dr. Josualdo Euzébio alerta que o controle e a
prevenção do tromboembolismo na fase aguda da covid-19 deve ser enfatizado.
"É fundamental o acompanhamento médico, lembrando que dor e inchaço nas
pernas podem sugerir alterações trombóticas. Saliento a importância do
isolamento social e das medidas sanitárias recomendadas pelo Ministério da
saúde e enfatizo que as doenças vasculares muitas vezes necessitam de
diagnóstico e tratamento precoces", finaliza.
DR. JOSUALDO EUZÉBIO DA SILVA - CRM MG 26128 RQE 17502/RQE 31642
BELO HORIZONTE MG
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