Game desenvolvido por pesquisadores da USP, UFSCar e Universidade Técnica de Berlim auxilia os participantes a aprenderem conceitos da Indústria 4.0
Você já ouviu falar em Indústria 4.0? Conhecido como a 4ª
Revolução Industrial, o conceito traz princípios, ações e estratégias de
mercado que visam alavancar uma empresa por meio de sua integração às novas
tendências produtivas. Para auxiliar gestores a compreenderem as principais
características, tecnologias e habilidades relacionadas à Indústria 4.0,
pesquisadores da Escola de Engenharia de São Carlos (EESC) da USP, da
Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e da Universidade Técnica de Berlim
desenvolveram um jogo de tabuleiro que ajuda os profissionais a absorverem um
vasto conteúdo sobre o tema.
O jogo desafia os participantes a alcançarem seus objetivos por meio de
instrumentos da Indústria 4.0. No início da atividade, os jogadores escolhem a
carta que melhor representa a meta da empresa. A cada jogada, os competidores
têm a possibilidade de adquirir “capacitações”, que podem ser novas
tecnologias, serviços de manutenção preventiva, acessórios da área de internet
das coisas, máquinas inteligentes, funcionários especialistas em determinada
área, pacotes de segurança de dados, entre outros produtos e ações que devem
ser escolhidos de forma estratégica e certeira para que o plano de negócio da
equipe tenha sucesso. Ao final da partida, vence quem obtiver mais pontos e
conquistar os chamados “certificados de excelência”, que servem para atestar a
evolução da empresa em diferentes aspectos.
Há uma variedade de certificados que as instituições podem alcançar. Entre eles
estão: o de Virtualização, que é quando a indústria é capaz de
representar virtualmente e de forma interativa o trabalho que exerce; o de Descentralização,
cenário em que as decisões são tomadas aliando a inteligência de computadores
com as competências e habilidades dos funcionários; o de Modularidade,
ocasião em que a empresa tem processos mais flexíveis, que conseguem incorporar
ou substituir com maior facilidade determinado tipo de ação; o de Capacidade
em Tempo Real, que reflete a alta velocidade com a qual a companhia
responde a problemas produtivos de rotina; o de Fábrica Inteligente, que
é quando a empresa age autonomamente para resolver questões operacionais; entre
outros.
Com uma temática inédita no Brasil, o game pode ser jogado em cerca de quatro
horas. Os cientistas criaram cartas com diferentes objetivos para abranger
empresas dos mais variados segmentos. Os participantes, no entanto, não sabem
quais certificados de excelência devem obter ao término do game para que suas
metas sejam atingidas, o que torna o jogo ainda mais desafiador. É preciso
estar atento a cada etapa, pois certas capacitações só podem ser adquiridas se
a empresa tiver desenvolvido outras antecipadamente. Ao final de cada rodada, é
feita uma espécie de “contabilidade” para saber quais serão as consequências
para cada time de acordo com as ações que foram tomadas. Se a empresa perder
pontos, ainda poderá se recuperar no decorrer da partida.
Cerca de 15 empresas já participaram em aplicações e no refinamento do jogo,
que também é aplicado em disciplinas da EESC. “O que nós temos percebido neste
século 21, na era da informação, é que muitas empresas querem ser mais digital,
mas têm muita dificuldade em se adaptar, além de medo de se arriscar nessa nova
tendência. Com o jogo, é possível criar um ambiente psicologicamente mais
seguro para que esses gestores, que muitas vezes acabam aprendendo na marra
durante o dia a dia, saiam um pouco dessa pressão e mergulhem em um cenário
mais lúdico, onde eles têm a possibilidade de perguntar e errar. É um ambiente
muito importante para o aprendizado, explica Mateus Gerolamo, um dos
idealizadores do jogo e professor do Departamento de Engenharia de Produção
(SEP) da EESC.
Mas para quem pensa que não há imprevistos no jogo, ele reserva algumas
surpresas: “Durante as rodadas, alguns eventos aleatórios podem acontecer, como
a invasão de hackers, crises, greves, ou seja, algo que force as empresas a
terem se prevenido para essas situações, visando simular o que ocorre no mundo
real. Por exemplo, pode aparecer alguma questão de cibersegurança para a
empresa resolver e, se a instituição não tiver se preparado do ponto de vista
tecnológico, ela perderá pontos”, revela Daniel Braatz, professor do
Departamento de Engenharia de Produção (DEP) da UFSCar e um dos criadores do
game. Os desenvolvedores do jogo comentam que um dos erros mais cometidos por
quem deseja iniciar a adequação da empresa ao universo da Indústria 4.0 é
direcionar de imediato seus investimentos apenas em tecnologia, mesmo que
muitas vezes ela não tenha uma equipe apta ou uma infraestrutura básica para
receber tais equipamentos.
“A Indústria 4.0 é muito abrangente, por isso nossa ideia com o jogo foi
condensar esse leque e mostrar para os participantes algumas possíveis
articulações de tecnologia, necessidade de formação de pessoal, tipos de
estratégia, entre outros tópicos. Além disso, desmistificamos alguns pontos
sobre o tema. Muitas pessoas acham que para migrar para a indústria 4.0 basta
comprar um sensor ou um robô que as máquinas vão trazer todas as respostas, mas
a I. 4.0 não se trata de um produto pronto, e sim de um processo”, explica
Henrique Rozenfeld, um dos autores do jogo e professor do SEP. “O objetivo da
empresa não é ser digital, não é ser uma indústria 4.0, mas é, por exemplo,
vender produtos com mais qualidade e, para isso, precisa passar por algumas
etapas”, complementa o docente.
Os especialistas contam que, com a aplicação do jogo, as empresas voltam para
casa com uma lição de casa a fazer, que é a de entender melhor quais são as
tecnologias disponíveis para essa nova etapa do negócio e como elas se
relacionam com os objetivos da companhia. Dessa forma, é possível rever
caminhos e investir recursos de forma muito mais efetiva. Segundo os
pesquisadores, o feedback dos participantes foi muito positivo, revelando um
aumento da compreensão das tecnologias que abrangem a indústria 4.0 por parte
dos participantes, bem como um maior alinhamento dos princípios da I 4.0 com os
objetivos de cada empresa. Além disso, o divertimento foi outro ponto relatado,
fator fundamental para a absorção do conteúdo.
Quem tiver interesse em aplicar o jogo em sua empresa, basta entrar em contato
pelo site do game,
onde também é possível obter mais informações. O trabalho foi financiado pela
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e pela
German Research Foundation (DFG).
Assessoria
de Comunicação da EESC/USP
Fotos: Equipe do Projeto Boardgame Indústria 4.0
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