Procedimento, no
entanto, deve seguir protocolos mais rígidos e levar em conta número de leitos
disponíveis e estrutura hospitalar
Suspensas desde o início da pandemia por serem
consideradas cirurgias eletivas, as cirurgias bariátricas foram reclassificadas
como cirurgias eletivas essenciais e, aos poucos, estão sendo retomadas em todo
o país. Um dos motivos da mudança é o fato de a obesidade ser um fator de risco
para a COVID-19 e, portanto, ao perder peso, o paciente melhora seu sistema
imunológico e, no caso de ser contaminado, tem mais chances de reduzir os
problemas causados pelo coronavírus,
A liberação do procedimento está prevista em uma
recomendação do CFM (Conselho Federal de Medicina), que considera que pacientes
portadores de doenças graves e/ou crônicas, como a obesidade e o diabetes,
precisam de tratamento, e que sua postergação pode resultar no aumento da
morbidade e da mortalidade.
A indicação da cirurgia bariátrica, no entanto,
além de ainda ter de respeitar os critérios internacionais, também precisa
seguir um novo protocolo para garantir a segurança da equipe e do paciente, sem
impactar no sistema de saúde e sem comprometer o atendimento aos pacientes com
suspeita ou já confirmados com COVID-19. “O principal fator de risco para a
COVID-19 é a idade. Depois, a pressão arterial e, em terceiro lugar, a
obesidade. Por isso, houve essa mudança na classificação. O paciente obeso
perde cerca de 10% do seu peso inicial já no primeiro mês após a cirurgia, e
isso diminui o seu processo inflamatório e melhora seu sistema imunológico.
Portanto, é mais arriscado deixá-lo obeso durante a pandemia do que operá-lo”,
explica o cirurgião bariátrico Admar Concon Filho, membro titular da SBCBM
(Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica) e presidente do
Hospital e Maternidade Galileo, em Valinhos.
Mas para que a cirurgia seja realizada, é
fundamental avaliar a estrutura hospitalar local disponível. “Cada cidade tem
uma realidade diferente na pandemia e é preciso levar essas características em
conta na hora de fazer a indicação. O hospital precisa ter leitos na enfermaria
e na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) disponíveis, já que as cirurgias
eletivas, mesmo que sejam consideradas essenciais, não podem comprometer o
atendimento a pacientes contaminados pela COVID-19 ou com suspeita de
contaminação. Também é importante que o hospital possua um fluxo hospitalar ´free
covid´, em que o paciente bariátrico não tenha qualquer contato com a ala dos
pacientes com COVID-19 e, claro, além disso tudo, também há os cuidados
individuais, tanto com o paciente quanto com a equipe”, explica o cirurgião.
De acordo com Concon, o protocolo para a realização
da cirurgia bariátrica ficou mais rígido. “Esses cuidados começam já na
consulta. Estamos agendando com intervalos maiores para evitar um número grande
de pacientes na recepção. Todos devem estar com máscaras e higienizar as mãos com
álcool gel. Eles também passam por uma triagem por telefone, em que respondem a
várias perguntas para descartar qualquer sintoma e, no dia da consulta, passam
por outra triagem presencial. Mesmo que não apresentem nenhum sintoma, são
submetidos a um teste de COVID-19 uma semana antes da cirurgia e, sendo
negativo, são orientados a ficarem de quarentena para evitar uma possível
contaminação até o dia do procedimento. Se positivo, a cirurgia é adiada”,
explica o cirurgião. “Apesar de todos esses cuidados, no dia da cirurgia, toda
a equipe se paramenta com EPI´s (Equipamentos de Proteção Individual) como se
fosse operar um paciente contaminado. É uma garantia para os profissionais e
para o próprio paciente”, reforça o médico.
Concon explica que alguns fatores fazem com que a
COVID-19 possa ser mais grave em pacientes obesos. “Pessoas com obesidade
possuem um sistema imunológico mais comprometido e, por consequência, são mais
suscetíveis a uma inflamação viral. Outro ponto é que a obesidade já provoca
uma inflamação generalizada no organismo do paciente”, comenta. “E ainda tem o
fato de o paciente obeso ter uma restrição em sua capacidade respiratória,
porque o diafragma não consegue se movimentar adequadamente e o tórax não
expande como deveria”, diz.
Para orientar a conduta de médicos diante dessa
situação, a SBCBM emitiu um comunicado com sua posição oficial a respeito das
cirurgias bariátricas eletivas. Entre os vários pontos abordados, estão a
restrição da cirurgia a pacientes com mais de 60 anos, a pacientes contaminados
ou que já tenham indicação pré-cirúrgica de utilização de UTI. “Pacientes com
mais de 60 anos são do principal grupo de risco. Portanto, não é recomendável
que sejam submetidos a um procedimento cirúrgico nessas circunstâncias. Já os
pacientes contaminados não podem ser operados porque, além dos riscos de
contaminação de toda a equipe e de demais pacientes, não conseguimos prever
como será sua evolução. Portanto, eles precisam, primeiro, tratar a doença. Em
casos normais, esperamos 14 dias para fazer o procedimento após a confirmação
da COVID-19. Mas, se tratando de paciente obeso, a cirurgia só pode ser
realizada após um mês”, reforça o cirurgião.
Dr. Admar Concon Filho - cirurgião bariátrico,
cirurgião do aparelho digestivo e médico endoscopista. Palestrante
internacional, presidente do Hospital e Maternidade Galileo e fundador e
coordenador do Grupo de Cirurgia Bariátrica de Valinhos. Também é membro titular
e especialista pelo Colégio Brasileiro de Cirurgia Digestiva, Colégio
Brasileiro de Cirurgiões e Sociedade Brasileira de Endoscopia Digestiva, além
de membro titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica e
membro da International Federation for the Surgery of Obesity and Metabolic
Disorders. CRM – 53.577
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