Um dos momentos mais desafiadores na carreira de
uma mulher que se torna mãe é o retorno após a licença maternidade. Voltar ao
trabalho depois de alguns meses totalmente focada em seu bebê é muito difícil
para a maioria delas. Por isso, é tão importante que as empresas estimulem um
período de adaptação saudável, tanto para que a mãe se acostume à sua nova
rotina em casa, quanto para que ela se reintegre às suas atividades no
trabalho.
No entanto, nem todas as empresas têm empatia para
lidar com esse momento tão delicado, no qual as questões emocionais e até
hormonais estão abaladas. Tanto é que o número de mulheres que são demitidas
assim que voltam da licença maternidade é enorme.
Segundo dados de uma pesquisa da FGV, cerca de 51%
das mulheres não permanecem no mercado de trabalho num período de doze meses
após a volta da licença. A maioria destas demissões ocorre por parte do
empregador, que entende que a mulher será menos produtiva, colocando o filho em
primeiro lugar. O mais preocupante é que essa mesma pesquisa revela que no caso
dos homens que se tornam pais, o comportamento é oposto: 92% dos homens com
filhos de até um ano continuam atuando no mercado de trabalho.
Outro ponto de atenção ainda é que no caso dos
jovens pais é comum observarmos casos de promoções, aumentos salarias e outros
incentivos, visto que os gastos e as atividades de um pai de família aumentam
consideravelmente. Contudo, se os homens são reconhecidos após a paternidade,
por que também não vemos com frequência essa mentalidade ser aplicada às
mulheres?
Essa é uma questão que, na minha opinião, precisa
ser repensada. Grande parte das mulheres voltam ao trabalho com muito mais
garra para trabalhar, pois agora possuem uma responsabilidade que antes não
tinham. O filho passa a ser um novo estímulo para o seu desempenho
profissional.
Há sim um período de adaptação, no qual a empresa e
os colegas precisam ser compreensivos. É preciso respeitar o horário de
amamentação previsto no artigo nº 396 da CLT, que garante dois intervalos de
meia hora até o bebê completar seis meses de idade, além das empresas serem
mais compreensivas com as ausências decorrentes de consultas médicas ou
pequenos contratempos típicos de qualquer recém-nascido.
Algumas grandes companhias dispõem de uma sala de
amamentação ou até mesmo de creches. Quando isso não for possível, é necessário
estimular o entendimento por parte de todos os membros de uma equipe composta
por uma mulher que recentemente se tornou mãe. É preciso entender que, muitas
vezes, o bebê não dorme bem durante a noite, fazendo com que ela possa
atravessar por períodos de queda de produtividade. Estimular a solidariedade é
imprescindível para que a mãe se sinta acolhida.
Outra opção muito apreciada é o estímulo a uma
jornada de trabalho com horários flexíveis, além do home-office, que
amplia o contato entre mãe e filho. Nesse ponto, cabe destacar que a
profissional deve ser avaliada pela sua capacidade de entrega e não
necessariamente pelo número de horas que passa dentro do escritório.
Vivenciei de perto essa experiência com a minha
esposa. A empresa que ela trabalhava não garantiu as condições necessárias
nesse período e, ela acabou partindo para outra oportunidade, onde encontrou
tudo o que precisava para manter um perfeito equilíbrio e harmonia entre a vida
pessoal e profissional.
As empresas que valorizam as mulheres nesse momento
tendem a se destacar, principalmente porque essa fase de adaptação da mulher é
muito curta em vista do tempo em que se espera que ela permaneça na empresa,
que gira em torno de cinco a dez anos.
Quem tem consciência para enfrentar essa etapa,
demonstrando acolhimento à mãe e às necessidades de seu filho, tende a contar
com uma profissional capaz de gerar ótimos resultados no futuro. Quem investe
nelas, não costuma se arrepender, afinal é sempre bom lembrarmos que o futuro
da sucessão das empresas, da população economicamente ativa e da força de
trabalho dependem da escolha dessas mulheres de quererem se tornar mães e de
serem respeitadas e valorizadas por essa escolha.
Marcelo Olivieri - bacharel
em psicologia e possui MBA em Gestão Estratégica. Com mais de 10 anos de
experiência no recrutamento especializado nas áreas de marketing e vendas,
Olivieri é headhunter diretor da Trend Recruitment.
Nenhum comentário:
Postar um comentário