Desde que a
criminalização do racismo se tornou lei no Brasil, há 30 anos, embora existam
questionamentos, a sociedade civil tem passado por um processo de
evolução. Em junho deste ano, deu um importante passo ao criminalizar a
homofobia. Mas será que isso tem contribuído para o amadurecimento e justiça
dentro das empresas?
De acordo
com a pesquisa inédita A Diversidade e Inclusão nas Organizações no Brasil,
realizada pela Associação Brasileira de Comunicação Empresarial (Aberje), um percentual próximo de 90% - nunca sofreu qualquer tipo de situação de
discriminação na organização em que trabalha atualmente. Nos casos onde
ocorreram uma ou mais vezes situações de discriminação, foram em relação à
idade (29%) ou à altura e peso (24%).
Embora o
“bullyng corporativo” ainda surpreenda, um outro dado marcante foi apresentado:
36% sofreram discriminações relacionadas à orientação política.
O estudo
ouviu 269 profissionais que trabalham em diversas organizações, de todo o
Brasil, sendo 68% privadas, 47% localizadas no estado de São Paulo, e 58% com
mais de 1.000 empregados, representantes de quase todos os setores da economia.
Os resultados demonstrados evidenciam os esforços e o bom trabalho no campo da
diversidade e inclusão que vêm sendo realizados pelas organizações, onde, 57%
dos profissionais acreditam que a diversidade e inclusão foram ampliadas ou se
tornaram mais evidentes na organização em que trabalha.
De acordo
com Hamilton dos Santos, diretor-geral da Aberje, estes dados levantados pela
pesquisa demonstram que tal situação ocorre mais como decorrência do momento do
país do que propriamente do clima organizacional da empresa. “Apesar de
entendermos que estamos vivendo um momento intenso de polarização política, é
preciso que líderes e gestores fiquem atentos para que eventuais conflitos não
se tornem crônicos e contaminem a organização como um todo”, enfatiza.
O
levantamento também aponta que profissionais presenciaram, uma ou mais vezes,
situações de discriminação nas organizações em que trabalham atualmente, sendo:
49% com relação à orientação sexual, 42% com relação ao peso ou altura, 40% com
relação à identidade ou expressão de gênero, 35% com relação à idade e 30% com
relação à cor ou etnia. Novamente, onde mais se presenciou situações foi em relação
à orientação política (55%).
“
Acreditamos que o fato da homofobia ter sido criminalizada e cada vez mais
empresas adotarem programas de diversidade e igualdade de gênero, o
preconceito dentro das organizações tende a diminuir, assim como aconteceu em
relação à cor ou etnia”, prevê Santos.
Relacionamento
e liderança
Os
participantes demonstram satisfação em relação à diversidade na organização em
que trabalham, como ao concordarem que as pessoas, independentemente de suas
diferenças, são tratadas respeitosamente em seu departamento (89%) e na empresa
(69%) e que os funcionários incluem ativamente os colegas diversos (56%). Essa
satisfação também deriva ao discordar em que já consideraram deixar a
organização por se sentirem isolados ou indesejados (65%); de que se sintam
pressionados a mudar características pessoais para enquadrar aos padrões da
empresa (58%) e de que tenham que trabalhar mais que os outros para serem
valorizados igualmente (58%).
O
levantamento revela que se, por um lado, a liderança das organizações em que os
profissionais trabalham atualmente incentiva os funcionários a trabalharem com
colegas com diferentes características de diversidade (45%) e investiga as
denúncias de tratamento injusto e de preconceitos (44%), por outro tem falhado
ao não auxiliar os funcionários a reconhecerem preconceitos que promovem a
discriminação ou a exclusão no local de trabalho (52%) e ao não agrupar
funcionários com diferentes características de diversidade para trabalharem
juntos (45%).
Foco nas
organizações
Entre as
empresas, participaram do estudo 124 corporações, entre associadas e não
associadas à Aberje, e que figuraram entre as maiores e melhores do país,
totalizando um faturamento da ordem de R$ 1,24 trilhão, equivalente a 18,3% do PIB
brasileiro de 2018.
As questões
apresentadas destacaram a existência de programas formais nos temas, os tipos
de diversidade abrangidos, as justificativas de negócio para a implementação,
responsabilidades de gestão e disseminação, comitê formal e grupos de
afinidade, as formas de monitoramento de eficácia das políticas e ações, os
canais para denúncias a violações, atividades de treinamento e conscientização
e principais barreiras em relação à estratégia para a área estão entre os
pontos abordados.
Das 124
empresas participantes do estudo, 63% têm programa de Diversidade e Inclusão.
Entre os tipos de diversidade mais abrangidos pelos programas das organizações,
destacam-se: pessoas com deficiência (96%), identidade de gênero (83%),
cor/etnia (78%) e orientação sexual (74%). Os segmentos têm sido trabalhados
pelas organizações principalmente nos processos de comunicação, de recrutamento
e seleção e de treinamento e desenvolvimento.
As
principais justificativas das organizações para as iniciativas relacionadas à
diversidade são: melhorar a imagem e reputação organizacional (68%), contribuir
para as mudanças estruturais da sociedade (63%), aumentar a eficiência interna
(57%), qualificar sua cultura organizacional (54%) e desenvolver soluções
inovadoras (47%).
Evidenciando a preocupação das empresas com os temas,
Hamilton dos Santos, diretor-geral da Aberje, revela que a pesquisa mostrou que
a grande maioria das organizações utilizam nos anúncios, materiais promocionais
e outras peças de comunicação externa, imagens que representam uma população
diversa. “As organizações também disponibilizam canais na maioria das vezes
internos, para denúncias de violações contra o programa”, detalha.
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