Presidente da Sociedade de Pediatria do Rio Grande do Sul (SPRS)
e gastroenterologista, Cristina Targa Ferreira
Temos acompanhado um aumento mundial das alergias
alimentares nas últimas duas décadas. As alergias alimentares podem ser
definidas como reações adversas, reprodutíveis, que ocorrem devido a uma reação
imunologicamente mediada a um componente alimentar (em geral, uma proteína). A
alergia mais comum nos primeiros anos de vida é a alergia à proteína do leite
de vaca (APLV).
As alergias alimentares apresentam um impacto muito
significativo na qualidade de vida dos pacientes e de suas famílias, que parece
ser mais importante do que o impacto causado pelas doenças crônicas, como
diabetes. As Alergias Alimentares são divididas em imediatas ou IgE-mediadas e
não-IgE mediadas ou tardias, de acordo com as manifestações e com o tempo que
ocorrem após o contato com o antígeno. As alergias não-IgE mediadas leves e
moderadas são as mais comuns nos consultórios e podem apresentar sintomas
muito variáveis, desde sintomas inespecíficos como choro, irritabilidade,
agitação; sintomas mais claramente relacionados à APLV como sangue nas fezes e
sintomas mais importantes como perda de peso e diarreia e má absorção.
O diagnóstico dessas alergias requer um período de
exclusão da proteína do leite de vaca e o posterior desencadeamento, com o
retorno dos sintomas inicias. A sequência dieta de eliminação-reintrodução, com
reaparecimento dos sintomas, é o único caminho para se fazer o diagnóstico das
APLV não-IgE mediadas, leves e moderadas, já que os testes de pele ou séricos
de IgE não são úteis nesses casos. O tratamento requer a dieta de exclusão de
leite de vaca e derivados para as mães que amamentam ou fórmulas especiais para
os lactentes que, por algum motivo deixaram de ser amamentados.
O leite materno, até o momento, é o melhor para
auxiliar na prevenção da APLV e na aquisição de tolerância, devendo ser sempre
a primeira escolha. Nos lactentes que não são amamentados, as fórmulas
extensamente hidrolisadas de proteínas do leite de vaca são a a primeira
escolha de tratamento, na maioria dos casos e em todos consensos mundiais. As
fórmulas de aminoácidos são usadas nos casos mais graves. Os pacientes que
estão em tratamento para APLV necessitam suporte dietético, não só para assegurar
a dieta correta, mas também para acompanhar os aspectos nutricionais e de
crescimento do paciente, assim como possíveis problemas alimentares presentes e
futuros.
Por isso, as fórmulas prescritas devem apresentar
boa tolerabilidade, aceitação e palatabilidade. É necessária muita atenção no uso
de preparados inadequados para crianças, como bebidas lácteas não indicadas
para lactentes e crianças , como leite de arroz, leite de cabra e leite de
amêndoas.
Cristina Targa Ferreira - Presidente da SPRS, gastroenterologista
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