Pedagogos
e psicólogos falam sobre a importância da troca durante a infância e
adolescência para o aprendizado
A pandemia trouxe à tona
diversos problemas e muitas mudanças de hábitos. Uma delas foi o ensino à
distância. Crianças e adolescentes isolados em suas casas tiveram que se
adaptar e aprender a estudar longe dos professores e colegas. Com o retorno às
aulas presenciais, alguns problemas foram sentidos, como a fobia social, crises
de ansiedade e sentimento de não pertencimento. Muitos alunos se tornaram
indisciplinados e, até mesmo, um pouco agressivos.
Enxergando esses
comportamentos, escolas se mobilizaram para auxiliar o retorno dos estudantes e
amparar as famílias nessa etapa. E um dos grandes apoios encontrados nas
escolas pelos alunos foi o reencontro com amigos e a troca constante entre
pessoas da mesma idade que eles. Fazendo com que o medo e a incerteza fossem
amenizados pelas amizades.
“Desde que a quarentena teve
início, um cenário de incertezas pairou sobre pais, alunos, professores e toda
a equipe escolar”, diz Paula Joia, Psicopedagoga, do Colégio Centro
de Estudos, localizado em Centro dos Goytacazes, Norte Fluminense, que
defende a socialização das crianças para o desenvolvimento socioemocional,
porém ela reforça que o modelo remoto já é uma realidade.
“Em uma visão inclusiva,
está claro que esse modelo de ensino remoto não funciona. Essa pandemia nos
apresentou um novo modelo de ensino, que deveria ser implantado num processo
progressivo. Os alunos estão no mundo digital, mas não têm a cultura digital do
aprendizado e isso é um processo que demanda tempo”.
Paula Joia enaltece a
importância das relações pessoais na infância e adolescência. “Os conceitos das
relações saudáveis no ambiente escolar têm como objetivo conduzir os alunos a
compreenderem que é por meio das relações humanas (sociais), das
características individuais que cada um traz consigo (compondo sua pluralidade
sociocultural), que é possível ensinar e aprender o tempo todo.”
Diversos estudos comprovam
que desenvolver amizades durante a infância ajuda e estimula as crianças. Elas
passam a ser mais sociáveis, altruístas, ganham mais autonomia e aprendem desde
cedo a dividir. Além de lidar com as próprias emoções, é o que aponta Mônica
Santoro, Coordenadora do Colégio Domus, de São Paulo.
“Ter amigos ajuda no
desenvolvimento das habilidades socioemocionais, e a escola é uma das
principais instituições onde as crianças têm a oportunidade de se relacionarem.
Dentro do espaço escolar, a criança passa a conhecer outras perspectivas de
vida, outras culturas e gostos diferentes dos que está acostumada em ambiente
familiar, e isso faz com que ela desenvolva novas habilidades e competências
importantes para a sua formação social.”
A profissional lembra que na
escola acontecem conflitos, divergência, mas também trabalho em equipe e união,
pontos fundamentais para o aprendizado. “Não somente o acadêmico, mas também o
das relações ligadas à inteligência emocional (intrapessoal e
interpessoal). A amizade entre as crianças proporciona o desenvolvimento
das habilidades sociais, pois elas aprendem a dividir seus brinquedos,
materiais, o espaço que frequentam e a respeitar as diferenças, fazendo
concessões e tendo empatia pelos colegas. Isso ajuda muito na união do grupo,
diminuindo consideravelmente ações negativas, como o bullying.”
Mônica Santoro celebra a
amizade e acredita que ela seja uma potencializadora do ensino e do
aprendizado. “A forma como o estudante se sente na escola é fundamental para a
aprendizagem. Ter boas relações sociais é fator essencial para garantir bons
resultados no ambiente escolar. Os laços de amizade colaboram na formação da
confiança e da autoestima da criança. Ter amigos traz segurança e conforto”,
finaliza a profissional.
Volmar Souza,
diretor geral do Colégio Marília Mattoso, que fica em Niterói, no Rio de
Janeiro, vê o relacionamento entre os alunos como base fundamental para o
aprendizado. "Talvez algumas pessoas ignorem, mas a amizade formada dentro
do ambiente escolar, entre os alunos e também com os profissionais que ali
trabalham, se torna uma importante ferramenta pedagógica, facilitando a
aprendizagem pelas vias do afeto, da convivência e da cooperação, que são
fatores primordiais para que haja saúde social. Amizades saudáveis evitam
egoísmos, hostilidades e conflitos, o que faz com que as crianças aprendam
a lidar melhor com as próprias emoções.”
No Colégio Novo Tempo, que fica em Santos, litoral
de São Paulo, a Coordenadora Pedagógica da escola, Maria Inês Santos Raposo,
acredita que o relacionamento não só ajuda na educação, como a aprender valores.
“Fortes e sólidas amizades geradas no colégio podem incentivar o
desenvolvimento da cooperação e respeito ao próximo, além de evitar brigas e/ou
conflitos. Neste sentido os educandos aprendem a lidar melhor com as próprias
emoções, resultando em melhores comportamentos e avanços pedagógicos durante a
vida escolar”. Ela também destaca o papel da escola como rede de apoio: “Além
de referência cognitiva, a escola se torna referência social e afetiva,
funciona como um porto de segurança para as questões socioemocionais dos
alunos.”
Em Ribeirão Preto, interior
de São Paulo, no Colégio Itamarati, a Ana Laura Gusman,
coordenadora pedagógica da Educação Infantil, lembra que a pandemia afastou os
alunos, mas que o retorno às aulas também trouxe alguns novos desafios.
“Com o retorno das aulas,
novos desafios em relação a socialização, defasagem de conteúdos e tempo de
concentração também foram identificados, assim, algumas medidas no formato das
aulas e proporcionar aos alunos apoio escolar, mais atividades extracurriculares
e aumentar o tempo de socialização nos espaços da escola foram tomadas. Essas
medidas tiveram um resultado muito positivo.”
Outra profissional que vê
como desafiador o período pandêmico, principalmente para as relações sociais, é
Carolina Gargiulo, orientadora Educacional do Ensino Fundamental Anos
Finais do Colégio Leonardo Da Vinci, localizado em Alphaville, em São
Paulo. “O ensino à distância veio para nos ajudar em um período que não
podíamos ficar juntos, foi excelente e nos auxiliou muito, também perdemos
muito do contato pessoal, da conversa olho-no-olho!”
Além dessa falta do contato
pessoal, a especialista enfatiza a importância das relações pessoais,
principalmente na infância e adolescência. “É tudo, crianças e adolescentes
respiram convivência, relacionamentos nessa fase são muito importantes, ensinam
como tratar os outros, dividir, como se comportar”, diz Carolina, que afirma
que a criança aprende pelo relacionamento: “É por meio do convívio que ela
aprende regras, cuidado, empatia. A escola é o segundo ambiente em que ela
convive. É uma sociedade em que está inserida e aprende com ela o tempo todo”.
A orientadora educacional
diz que o equilíbrio é fundamental para que as amizades não ultrapassem o
limite e atrapalhem o ensino em sala de aula.
“É importante que eles
saibam o momento de estar junto, de socializar, com o momento de não poder
conversar, de estar em silêncio. E é difícil, você quer falar o tempo todo,
quer que seu amigo participe, faça graça. O espaço escolar é um dos lugares
onde eles fazem amizade, e aprendem o momento certo de interagir, calar ou
socializar”.
Com uma filosofia voltada
para o acolhimento e para a ludicidade, o Colégio Montessori Santa Terezinha,
conta com um ambiente pensado no desenvolvimento da primeira infância: a
Brinquedoteca.
“Acreditamos nas
brincadeiras e jogos como método de ensino, como fatores que interferem -
positivamente - no desenvolvimento da criança. Nosso espaço é repleto de
brinquedos e jogos que proporcionam às crianças explorar, experimentar,
fantasiar e sentir. Brincando, nossos alunos aprendem a desenvolver a
criatividade, a motricidade, a mente e a socializar”, diz Adriana Gobbo,
diretora da escola que fica em São Paulo e acredita no aprendizado em forma de
brincadeira.
“Sabemos que a amizade na
infância é muito importante já que por meio da troca que faz com seus pares,
com amigos da mesma idade, a criança passa a se identificar com o outro e se
reconhece através da interação. É um momento que abre caminho para as habilidades
socioemocionais essenciais para a vida coletiva, como a construção de
relacionamentos, a convivência, a lealdade, a confiança, o estímulo ao
imaginário e a descoberta das relações”, comenta a diretora, que finaliza:
“Por meio da brincadeira com
os amigos, proposta de maneira livre ou dirigida, as crianças tendem a
reproduzir situações que presenciam ou que vivenciam, assumem diferentes papeis
o que é de suma importância para o respeito ao outro e às diferenças. A criança
aprende brincando e brinca aprendendo!”.