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terça-feira, 23 de abril de 2024

Qual a diferença entre Canabidiol e THC?

 

Psiquiatra explica as nuances destes dois compostos vegetais de cannabis e seus benefícios

 

Você sabia que o canabidiol (CDB) e o tetrahidrocanabinol (THC), substâncias retiradas da planta cannabis, podem ter propriedades benéficas no tratamento de diversas doenças?

 

Entrevistamos Higor Caldato (@drhigorcaldato), médico psiquiatra e sócio do Instituto Nutrindo Ideais (@nutrindoideais), especialista em psicoterapias e transtornos alimentares, para saber as diferenças, o uso farmacêutico e seus benefícios. Confira: 

O conjunto de substâncias presentes na cannabis fazem parte de um grupo chamado de fitocanabinóides, os mais conhecidos e estudados são o CBD e o THC. Eles podem ser utilizados medicinalmente em diversos transtornos como mais uma alternativa terapêutica, geralmente associada ao tratamento convencional que já está sendo feito. 

 

CBD x THC  


·         Efeitos psicoativos: 

O THC é conhecido por ser psicoativo, o que significa que pode causar alterações no estado mental e na percepção, levando a sensações de euforia, relaxamento ou aumento da sensibilidade sensorial. 

O CBD, por outro lado, não é psicoativo e não causa os mesmos efeitos de alteração do estado mental. Na verdade, alguns estudos sugerem que o CBD pode até mesmo atenuar os efeitos psicoativos do THC.

 

·         Propriedades terapêuticas: 

O THC é amplamente utilizado para tratar uma variedade de condições médicas, incluindo dor crônica, náuseas e vômitos associados à quimioterapia, perda de apetite e distúrbios do sono.

 

O CBD também possui uma ampla gama de propriedades terapêuticas, incluindo a redução da ansiedade, alívio da dor, controle de convulsões em condições como epilepsia, redução da inflamação e melhoria da qualidade do sono.

 

·         Efeitos colaterais: 

O THC pode causar efeitos colaterais como boca seca, olhos vermelhos, aumento da frequência cardíaca, coordenação motora prejudicada e, em algumas pessoas, ansiedade ou paranoia.

 

O CBD geralmente é bem tolerado e causa menos efeitos colaterais, que geralmente são leves e incluem fadiga, mudanças de apetite e diarreia em algumas pessoas.

 

·         Legislação: 

Devido aos seus efeitos psicoativos, o THC é regulamentado de forma mais estrita em muitos países, incluindo restrições à prescrição e à venda.

 

O CBD, por outro lado, é geralmente mais acessível e menos regulamentado, sendo legal em muitos países quando derivado de cânhamo industrial com baixo teor de THC. No entanto, as leis variam de acordo com o país e o estado.

 

Em resumo, enquanto o THC é conhecido por seus efeitos psicoativos e é frequentemente usado para tratar uma variedade de condições médicas, o CBD é não psicoativo e possui uma ampla gama de propriedades terapêuticas, tornando-se uma opção atraente para muitos pacientes.

 

Por isso, iremos explorar os principais pontos do uso do canabidiol medicamentoso. É de suma importância lembrar que para importar ou adquirir produtos à base de canabidiol no Brasil, é necessário que o paciente ou seu representante legal obtenha uma prescrição médica, registrada em receituário próprio, e solicite uma autorização de importação junto à Anvisa. A importação é realizada mediante a apresentação de documentos específicos e aprovação prévia do órgão.

 

Além disso, a comercialização de medicamentos à base de canabidiol no Brasil está sujeita à regulamentação da Anvisa e os produtos devem atender a requisitos de qualidade, segurança e eficácia estabelecidos pela agência.

 

Por isso, Higor argumenta que não se deve iniciar o tratamento sem orientação médica, busque informar-se sobre o assunto e familiarizar-se sobre os potenciais benefícios e riscos para a condição que deseja tratar, porém não tome nenhuma decisão e não inicie o tratamento sem orientação médica. Certifique-se de escolher produtos de alta qualidade, preferencialmente de marcas respeitáveis. Não abandone as outras formas de tratamento, o CBD pode ser uma terapia útil, mas na grande maioria dos casos é melhor utilizado como parte de uma abordagem terapêutica mais abrangente.

 

Tratamento de problemas de saúde mental

 

Segundo o psiquiatra, o CBD pode influenciar para a melhora da saúde mental e para o bem-estar emocional em alguns transtornos. Existe um sistema chamado endocanabinoide no nosso organismo, responsável pela regulação e pelo equilíbrio de uma série de processos internos do nosso corpo, um conjunto de receptores presentes em órgãos como o cérebro que interagem com as moléculas da planta cannabis.

 

Existe mais evidências científicas dos benefícios relacionados à ansiedade e transtorno de estresse pós-traumático (TEPT). Para depressão, as pesquisas são menos conclusivas, porém alguns estudos sugerem que o canabidiol pode ter propriedades antidepressivas.

 

O sistema endocanabinóide e seus benefícios começaram a ser estudados e terem maiores esclarecimentos e evidências na literatura científica a partir do ano 2000; e desde então, tem se revelado que a terapia com canabinóides pode apresentar benefícios terapêuticos aos quadros comportamentais, neurológicos, psiquiátricos e inflamatórios.

 

Canabidiol e distúrbios do espectro autista (TEA)

 

Vários estudos em andamento buscam esclarecer o que vários relatos de casos evidenciam na prática nos pacientes com TEA:  

·         Melhora da interação social

·         Ajuste comportamental com melhora da hiperatividade e irritabilidade 

·         Benefícios na comunicação verbal

 

Controle de sintomas do Parkinson 

 

Pesquisas clínicas sugerem que o CBD pode ter propriedades neuroprotetoras e anti-inflamatórias que podem ajudar a proteger os neurônios dopaminérgicos e a reduzir a inflamação do cérebro, ambos fatores associados à doença de Parkinson.

 

Em relação aos sintomas não-motores, o paciente pode apresentar benefícios pelas propriedades ansiolíticas apresentadas pela terapêutica com CBD, além de ajudar a regular o sono e os sintomas gastrointestinais.

 

Possíveis riscos ou efeitos colaterais 


Caldato diz que embora seja considerada uma substância segura, o CBD pode causar efeitos colaterais como: 

·         Boca seca, 

·         Sonolência, 

·         Náusea

·         Mudança do apetite. 

Em relação ao potencial de dependência ou abuso do CBD em pacientes com transtornos mentais, até agora não há evidências substanciais que demonstrem que o canabidiol medicinal tenha potencial de dependência química.

 

Benefícios dos canabinóides

 

No geral, o uso do CBD pode ajudar no melhor controle dos sintomas ansiosos como pensamento acelerado, irritabilidade, dificuldade para relaxar, dores crônicas; pode também trazer melhor ajuste do sono, por exemplo. Com os possíveis benefícios gerados pelo tratamento, o paciente pode estar mais disposto e emocionalmente mais estável, inclusive, para um maior aproveitamento da psicoterapia em função do gerenciamento de suas emoções.

 

 



FONTE:

Higor Caldato (@drhigorcaldato), médico psiquiatra e sócio do Instituto Nutrindo Ideais (@nutrindoideais), especialista em psicoterapias e transtornos alimentares. Graduado em medicina pelo Instituto Tocantinense Presidente Antônio Carlos (ITPAC/FAHESA) e fez sua residência médica em psiquiatria pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), bem como suas especializações em psicoterapias e transtornos alimentares também pela universidade carioca.



REFERÊNCIAS:

Russo, E. B. (2011). Taming THC: potential cannabis synergy and phytocannabinoid-terpenoid entourage effects. British journal of pharmacology, 163(7), 1344-1364.

Pennypacker, S. D., & Romero-Sandoval, E. A. (2020). CBD and THC: do they complement each other like Yin and Yang?. Pharmacotherapy: The Journal of Human Pharmacology and Drug Therapy, 40(11), 1152-1165.

Iffland, K., & Grotenhermen, F. (2017). An update on safety and side effects of cannabidiol: a review of clinical data and relevant animal studies. Cannabis and cannabinoid research, 2(1), 139-154.

White, C. M. (2019). A review of human studies assessing cannabidiol's (CBD) therapeutic actions and potential. The Journal of Clinical Pharmacology, 59(7), 923-934.

Mechoulam, R., & Parker, L. A. (2013). The endocannabinoid system and the brain. Annual review of psychology, 64, 21-47.

Almeida, D. L., & Devi, L. A. (2020). Diversity of molecular targets and signaling pathways for CBD. Pharmacology research & perspectives, 8(6), e00682.

Gaoni, Y., & Mechoulam, R. (1964). Isolation, structure, and partial synthesis of an active constituent of hashish. Journal of the American chemical society, 86(8), 1646-1647.

Bilbao, A., & Spanagel, R. (2022). Medical cannabinoids: A pharmacology-based systematic review and meta-analysis for all relevant medical indications. BMC medicine, 20(1), 259.


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