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terça-feira, 23 de maio de 2023

Comunidade educativa tem desafio de promover ambiente acolhedor para revelação espontânea de casos de violência contra crianças e adolescentes

Jogo de cartas da campanha Defenda-se é voltado para profissionais
de espaços educativos, mas pode ser usado por todas as pessoas
Créditos: Divulgação/Centro Marista de Defesa da Infância
Para que educadores estejam preparados para acolher revelações espontâneas de violências, instituição desenvolve plataforma com informações sobre o tema

 

Aproximadamente 14% das denúncias de violência contra crianças e adolescentes registradas em 2023 são crimes sexuais. Foram 9.580 denúncias até 30 de abril, de acordo com dados da Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos, o Disque 100. Os números só mostram a “ponta de um iceberg” que especialistas avaliam que ficou “silenciado” durante os períodos de isolamento social. “Tudo indica que a pandemia agravou e muito a situação. O que temos visto é que, após a retomada das aulas presenciais, os números vêm crescendo”, analisa a responsável pelo Programa Defenda-se, do Centro Marista de Defesa da Infância, Cecília Landarin Heleno. 

E o ambiente escolar, por ser um espaço de convivência e formação de vínculos, precisa ter profissionais preparados para acolher a revelação espontânea. “Essas são situações que mostram o quanto um ambiente acolhedor pode favorecer a denúncia. Os dados do 16º Anuário Brasileiro de Segurança Pública, publicado em 2022, demonstram que, em 82,5% dos casos, os agressores são conhecidos da criança ou da família e, é nessa hora que a escola acaba se tornando o local escolhido para a denúncia”, comenta Cecília. 

Para que a comunidade saiba como lidar com os relatos, o programa Defenda-se desenvolveu uma plataforma com perguntas e respostas sobre o que se deve saber antes, durante e depois da revelação espontânea. Voltada para a formação de educadores, o objetivo da iniciativa é orientar como identificar, acolher e encaminhar a situação. O jogo será lançado em maio, estará disponível no site da campanha (defenda-se.com) e pode ser acessado também pela população em geral, apoiando a preparação de qualquer pessoa ao receber uma revelação espontânea. 

O material “Revelação espontânea: cartas à comunidade educativa” foi criado em 2020, com cartas físicas, e agora está sendo lançado com uma nova dinâmica. “O conteúdo é voltado para profissionais de espaços educativos, mas é útil para todos, já que qualquer pessoa pode ser escolhida por uma criança para receber um relato de violência”, acrescenta Cecília.


Cicatrizes da pandemia

Os dados da Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos (Disque 100) mostram um crescimento nas denúncias de violência sexual contra crianças e adolescentes. De janeiro a abril de 2023, foram registradas 9.580 denúncias. Comparando com o mesmo período do ano anterior, em que foram registradas 6.447 denúncias, o aumento foi de 48,6%.

Período

Total de denúncias na Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos

Denúncias de violência contra criança e adolescente

Denúncias de violência sexual contra criança e adolescente¹

01/01 a 30/04/23

160.063

69.362

9.580

01/01 a 30/04/22

120.617

47.800

6.447

01/01 a 30/04/21

105.736

31.146

5.480

¹ Fonte: Painel de dados da Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos, consultado em 15/05/2023, disponível em www.gov.br/mdh/pt-br/ondh/painel-de-dados. Filtros utilizados: grupo vulnerável – violência contra criança ou adolescente; espécie da violação – liberdade sexual.


Dos casos denunciados nos quatro primeiros meses de 2023, 1.724 indicavam como local do abuso a casa da vítima e 4.029 a casa onde mora a vítima e o suspeito. As situações são percebidas também no ambiente virtual: foram 763 denúncias que tinham como cenário a internet. 

 

Centro Marista de Defesa da Infância
centrodedefesa.org.br

 


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